Bichas pretas afeminadas: sem direitos, silenciadas na escola e sozinhas na vida

FONTEPor Rosangela Aparecida Hilário¹, enviado ao Portal Geledés
Foto: Marc Bruxelle/Getty Images

Tem algum tempo que venho me dedicando a escrever sobre como os corpos desobedientes da norma de gênero concluem seu percurso formativo (apesar da) na escola de educação básica. A cidadania sempre negada em função da falta de entendimento sobre quem subverte as regras em busca de entender e performar sua alteridade.

A pauta tornou-se obrigatória em minha trajetória de professora por conta dos alunos com os quais convivo na Universidade e das/dos pesquisadoras do Grupo de Pesquisa Ativista Audre Lorde: são jovens a quem uma biblioteca com os livros que precisavam, duas refeições por dia e dinheiro para ir e voltar da faculdade fizeram a diferença em seu percurso e taxa de sucesso na relação com a Universidade. Mas, ainda continua no debate interseccional: a Bicha Preta ocupa um não lugar abaixo das mulheres pretas na cadeia de opressão. Mas, sobre isso falaremos em outros textos.

Neste, por conta das intersecções que perpassam os debates sobre o tema, em face de estarem diretamente imbricados com o entendimento sobre afeto e afetividade, a solidão, o amor (ou a falta dele), a “maternagem” e as ausências na vida e vivência da Mulher Negra²: optei por contemplar as muitas feminilidades e masculinidades que habitam fora dos padrões heteronormativos que se impõem sobre a construção da identidade e alteridade dos sujeitos na contemporaneidade.

Por conta do espaço disponível e da intenção de ser mais uma provocação a desafiar novos diálogos e menos um texto burocrático com citações e respostas provisórias, abandonamos definitivamente o conforto e proporemos uma reflexão sobre a construção de Masculinidades dissidentes, resistentes e periféricas na escola de ensino fundamental pública: a “Bicha” Preta e Afeminada. Justificamos a escolha referenciada pela Dr.ª Meg Rayana Gomes de Oliveira³ em A bicha resiste. O gay se ajusta. Esse texto foi construído a partir deste entendimento de que estar para além do “padrão” é estratégia de resistência. Em primeira análise, em um lugar que não é o nosso local de fala e conforto, mas por isso mesmo, de manifesto a empoderar de voz e vez as Masculinidades de Jovens com os quais interagimos e cujos desejos de existência estão para além de rótulos de um sistema que não lhes reconhece a humanidade, não respeita suas escolhas e desdenha das maneiras com que manifestam alteridade e amor. As estratégias utilizadas por esses jovens, em um espaço que devia ser de acolhimento, de diálogo e sentido de pertença, a escola, é o objeto de reflexão desta produção. A dificuldade da escola em reconhecer sua alteridade e o esforço para colocá-los na “forma” de padrão, entre conceitos religiosos misturados a senso comum e moral cristã de conveniência.

O texto objetiva relatar as estratégias criadas por alunos homossexuais, pretos, pobres e afeminados para permanecer na escola de Educação Básica, reprodutora da face mais cruel aos estigmas da sociedade patriarcal, na qual a representação da identidade masculina está ligada à virilidade, ao mascarar de sentimentos, zelar e prover na pior acepção do termo, “defendendo” o território sagrado do espaço familiar em sua acepção hegêmonica. Se ao homem branco a representação de masculinidade sobrecarrega, ao homem negro com resquício de pessoa escravizada no DNA marca, extenua e destrói, e as dissidências sexuais ela vilipendia, torna invisíveis e mata.

O gênero escolhido para compartilhar a inquietação, não por acaso, é o ensaio. O ensaio se situa em um portal entre o rigor da ciência e a liberdade da poesia. Ensaiam-se respostas cientes do condicionante do tempo e das múltiplas possibilidades dessas respostas. Ou, como bem escreveu Machado (2015) “a marca do ensaio é a singular solidariedade entre logos e pathos nas experimentações”. A liberdade da escrita é temperada com a responsabilidade das ideias apresentadas.

Esse texto não é o definitivo. Mas, se constitui em sementes introdutórias lançadas no bom terreno do diálogo ampliado, adocicado pela poesia lancinante da alma feminina/masculina e de outras definições para Masculinidades e Feminilidades. A marca deste diálogo é a contradição entre o que parece ser e o que é. Representa o conceito e a realidade materializada.

A Bicha Preta transgride para sobreviver

Iniciamos as provocações reafirmando a necessidade de uma revisão sobre o conceito de masculinidade que abarque sujeitos para além da universalidade da masculinidade branca, heteronormativa e de classe média. É mister assumir o plural para que contemplem definições não acabadas as várias identidades do ser/tornar-se homem. A masculinidade universal ou hegemônica não contempla mais a todos os sujeitos e, ao não contemplar, relega as dissidências sexuais à condição de figura exótica, coisificada e desumanizada para “permitir” seu “assujeitamento”.

Nesta reflexão parto do princípio de que Masculinidades e Feminilidades são entendidas como construções sociais, que variam espacialmente (da leitura de mundo oportunizada de uma cultura para outra), temporalmente (com as mudanças que o tempo agrega às culturas em seus contextos), historicamente (no curso da vida de cada sujeito) e nas relações estabelecidas entre os diferentes grupos de acordo com o espaço/lugar ocupado por sua classe, raça e sua condição social.

Assim, a Masculinidade dissidente da “Bicha” Preta, pobre e com trejeitos, que se sobrepõem e confronta a masculinidade universal é considerada uma afronta que deve ser ridicularizada, diminuída, escondida, controlada, negada.

Se o debate sobre Masculinidade em contraponto ao Machismo que mata, machuca e destrói famílias, em seu entendimento enviesado sobre as relações assimétricas estabelecidas a partir do gênero já traz desconforto, aquilo que diz respeito à organização das Masculinidades Negras é quase profissão de fé: meninos pretos, em grande medida, crescem sem referências masculinas, sejam quais forem seus percursos de formação humana.

Mães Pretas e Pobres, em toda a solidão que castiga a Mulher Negra, em todas as classes sociais, e de maneira perversa a periférica, educam seus filhos como é possível, entre os horários absurdos que os subempregos permitem, o percurso entre a casa e o trabalho, as responsabilidades com a manutenção das casas, o afeto nunca chegado, as omissões e as ausências. Solitárias, colocam sobre os ombros de seus “meninos” a responsabilidade para organização de um futuro que parece não chegar nunca: redentor, promissor, próspero. E sofrem por não ter/ser o suficiente de acordo com as regras impostas por uma sociedade que se quer eurocêntrica. bell hooks (2016)⁴, ao tratar das Maternagens e Paternagens, tendo como referência o Feminismo Negro, foi quem primeiro escreveu sobre as contradições de existir em uma sociedade que não reconhece outras formas e maneiras de amar e constituir família fora do “padrão”: o preço a ser pago é a naturalização da masculinidade tóxica que parece ser uma das causas da violência doméstica, o negar de qualquer forma de dissidência e a opressão sobre as minorias que se traduz em racismo, sexismo e opressão. No caso da “Bicha” Preta, na escola, é uma combinação de tudo isso.

A “Bicha” Preta e Afeminada provoca desconforto à comunidade escolar porque os sujeitos que assumem esta identidade para o exercício de sua Masculinidade, renegam o único privilégio atribuído ao Homem Negro: o Mito da virilidade, que desde à escravidão persegue, coisifica e apequena os desejos e quereres, contribuindo para o desenvolvimento da toxicidade entre as relações estabelecidas.

Ao se adjetivar como “Bicha”, Preta e Afeminada, o garoto, ainda que não tenha consciência, se coloca como manifesto da resistência em franca oposição à normatização, às regras, à higienização cis heteronormativa, contribuindo para um entendimento ampliado de existências que questionam as representações da branquitude heterossexual da classe média como as únicas possíveis para definir as Masculinidades.

Talvez, o maior incomodo causado pelas “Bichas” Pretas e Afeminadas seja o fato de fazerem lembrar a todo instante a força que os dissidentes precisam ter para assegurar seus direitos de vivência, sobrevivência e exercício pleno da cidadania: direitos não estão assegurados a este grupo social. Sobretudo nos tempos em que vivemos, é preciso muita coragem para dizer todos os nomes que as Masculinidades e Feminilidades podem ter.

2. A importância dos estudos de gênero na formação de professoras

O não interesse pelo conhecimento de questões relacionadas a gênero, sexo e sexualidade, muitas vezes, se deve ao fato do comodismo em reproduzir fatos e pensamentos a partir do senso comum, sobretudo em se tratando de assuntos polêmicos. Na onda ignorante de uma direita analfabeta dos sentimentos que humanizam e despótica, com ânsia de preservar seus privilégios por qual passa a sociedade brasileira o conservadorismo e a ignorância formam um casal patético e letal.

A Igreja pauta os políticos, as escolas e até mesmo setores da Universidade que não desejam sair do conforto de existir sem precisar enfrentar pastores neopentecostais que fazem sua própria interpretação sobre humanidade, amor cristão e família. Há cerca de seis anos atrás (2013), o site Associação dos Diáconos Batistas do Estado do Rio de Janeiro, noticiou o aumento da população evangélica no país, sobretudo no estado de Rondônia. Desde lá, este número só vem aumentando, chegando ao ponto de nas comunidades cariocas as igrejas neopentecostais formarem a segunda força administrativa só atrás das facções do crime. O Estado está ausente e as populações miseráveis a mercê do crime e dos fundamentalistas.

Os tentáculos do casal patético alimentam o conservadorismo e a resistência quando o assunto é sexo, doenças sexualmente transmissíveis (IST’s), prevenção e o debate ampliado e fundamentado sobre as dissidências sexuais em espaços públicos, contribuindo negativamente para que não aconteçam.

Para desmistificar preconceitos e melhor compreender a temática, se faz necessário adentrar aos estudos na área de gênero e sexualidade para além do senso comum, negritando o significado de cada conceito.

Pensar sexualidade e gênero como definidos biologicamente revela desconhecimento e ignorância. Não é raro encontrarmos concepções distorcidas e que revelem total desconhecimento quando a sexualidade de determinada pessoa foge da heteronormatividade (padrão de regras que concebem o relacionamento entre pessoas do sexo oposto como sendo o único aceitável e correto). Muitas vezes, essa manifestação é conceituada como desvio de caráter, rebeldia e falta de maturidade, legitimando agressões físicas e psicológicas que acontecem na intenção de que o indivíduo deixe de manifestar sua identidade (JESUS, 2015). Para a desconstrução destas e outras concepções errôneas se faz necessário a informação e o diálogo, meios mais prováveis para alcançar tal objetivo (FIGUEIRO apud JESUS, 2015).

Em se tratando de gênero, entendemos como sendo o conjunto de regras e normas de comportamento previamente estabelecidas para o homem e para a mulher, podendo mudar de acordo com o momento histórico, a religião, cultura e localidade. Dessa forma, comportamentos específicos são concebidos como sendo características de determinado gênero, e há ainda quem acredite que a distinção entre os gêneros seja de natureza inata, ou seja, de acordo com o sexo do indivíduo (FELIPE, 2000).

A crença no inatismo do gênero e da sexualidade por muito tempo – e infelizmente ainda atualmente – embasou o modelo de educação e legitimou a distinção no modelo educacional para meninos e meninas.

Além desta distinção no modo como a educação acontecia na escola, as mulheres ainda eram incentivadas pelos veículos de comunicação a serem recatadas e cuidadosas com seus corpos, estando sempre em posição de submissão. É importante destacar que este mesmo controle de modo algum contemplava homens no padrão.

Mas, aqueles que se insurgiam contra o padrão estavam submetidos a regras mais rígidas: poderiam exercer seus “chiliques exóticos”, vergonhosos e escandalosos longe dos olhos das pessoas de bem, das famílias e principalmente das Mulheres as quais se educava para a submissão e a sujeição. Não eram “bons exemplos e deviam ficar nas sombras e no submundo”. As “Bichas” Pretas parecem ter uma conta alta a saldar por renunciar a um dos poucos atributos que possui e a sociedade heteronormativa e patriarcal considera privilégio: o sexo biológico masculino. (Silva Junior & Caetano, 2018).

Nesta perspectiva, as “Bichas” Pretas e Afeminadas reúnem em seus corpos tudo aquilo que a sociedade branca, patriarcal e heteronorrmativa desejaria que desaparecesse: a coragem de sair dos subterrâneos e resistir, a criação de estratégias para sobreviver em territórios hostis e a audácia de dizer todos os nomes e sinônimos para amor.

Para tanto, precisam contar com o acolhimento, a força, o entendimento ampliado de mundo de professores e professoras. E, para que isso ocorra, se faz necessário que a formação de professores e professoras passe a debater sem risinhos, sem deboche e sem intervenção de outros profissionais que não sejam educadores e curriculistas.

Não é mais possível estabelecer um currículo de formação de professores que considere como referência um livro que nega a laicidade do Estado e tampouco aceitar que as políticas públicas se constituam em gabinetes que são extensões de templos fundamentalistas. As Ciências da Educação precisam ser balizadoras dos currículos de formação de professores. Dogmas cada religião tem os seus e não devem ser questionados; entretanto, não devem e não podem ser métricas a definir rotinas, escolhas e direitos.

Considerar o tempo, o autoconhecimento de cada pessoa, as suas escolhas e desejos é, no mínimo, justo. As diferentes expressões sexuais não requerem explicações: requerem aceitação, respeito, igualdade e garantia de direitos, e a desconstrução de paradigmas e dos preconceitos é o primeiro passo para estes avanços (JESUS, 2015).

É verdade que não nascemos predispostos a determinadas concepções ou apropriados de hábitos, costumes e regras: o que acontece é que através da educação que recebemos nos apropriamos da cultura a qual estamos inseridos, ou seja, regras de convivência construídas socialmente, por forte influência da família e da escola. Submetidos a estas influências, diversas condutas são interiorizadas pelos indivíduos e orientam a forma como estes se relacionam com o outro e com o mundo a sua volta, impedindo ou não as múltiplas leituras possíveis para todos os fenômenos de viver e ser aquilo o que se deseja ser.

Em uma sociedade onde há um grupo de pessoas que lutam pela aceitação e respeito das dissidências sexuais, trava-se um embate a toda essa norma socialmente imposta, que defende um padrão de vida de acordo com ideais particulares pautados principalmente em princípios religiosos. A não compreensão e o desrespeito às diferenças podem acarretar severos danos e consequências negativas na vida de quem sofre preconceito e discriminação pelo seu modo de vida e da sua família, ainda mais em se tratando de crianças em idade escolar, que muitas vezes pode até não ser negado o direito a frequentar a escola, mas esta se torna um fardo quando não se é aceito e acolhido.

Reminiscências de uma Professora Preta e Periférica

Sendo a escola pública um espaço coletivo assegurado pela legislação brasileira, é preciso que estejamos definitivamente atentos ao seu comportamento em relação à sociedade, a seus usuários, portanto, aos principais atores desse lócus – “escolarizadores” e “escolarizandos”. Atentarmo-nos não somente à estrutura física, seus materiais e seus quadros pessoais, mas, às entrelinhas de seu funcionamento e da distribuição e do tratamento do produto mais importante e caro à escola: o conhecimento.

Exibir qualquer etnografia que seja requer, antes de tudo, um olhar sem vícios e desprendido de valores corruptíveis à realidade. A etnografia, este método obrigatoriamente utilizados pela antropologia, nos oferece a condição de saber provisória e sistemátizado sobre os comportamentos de uma sociedade, de um grupo, de uma cultura e, também, sobre uma escola. É uma ferramenta que nos permite coletar dados mais precisos e originais sobre determinado fenômeno e, no caso investigado por nós, sobre os recortes de certos costumes escolares.

Realizar a análise das cenas escolares, inspirada na etnografia, matéria utilizada por nós no subtítulo acima, significa ressaltar parte de determinado comportamento escolar cotidiano. Por tantos motivos que sejam, mais ainda seria importante trazer essa luz ao debate por dois pontos importantes e comumente ocultos: o primeiro é que há, sem sombra de dúvidas, um apelo à epistemologia tradicional ainda que estejamos no século XXI; e, por outro lado, que há nas mais diversas escolas pessoas diferentes em todos os sentidos. Essa contradição entre epistemologia tradicional versus pessoas diferentes produz um conflito de interesses tão agudo que parte da concepção da escola enquanto espaço de formação se perde. Perder essa concepção formativa gera, inevitavelmente, outra concepção: a concepção de fôrma.

Escola alguma deve ser fôrma, por mais que tenha que formar pessoas, pois, toda e qualquer fôrma possui limites, tamanhos e volumes previamente definidos por algo ou por alguém. A escolarização genuína, distribuição e tratamento dos mais diversos saberes, ao contrário, não exige pequenos e limitados formatos para o que é em essência uma infinidade de possibilidades.

É possível, portanto, ilustrar o que já foi dito ao longo deste ensaio: a escola é laica e, por isso, não pode adotar costumes religiosos em suas atividades cotidianas. Não pode porque as concepções sobre as diversas religiões entram em conflito direto com as concepções do mundo individual que está a conhecer o mundo coletivo. Aceitar a algo ou não é uma decisão que se constrói com o tempo e com a aquisição de conhecimentos em todos os âmbitos da vida.

Se estivermos na posição de “escolarizador” devemos entender a cena escolar, sobretudo, a partir de alguns pontos que não tão simples como se parece. Para não se estender, vamos apreciar alguns desses pontos: o primeiro deles é que a diversidade populacional e cultural, independentemente de nós, existe e ela não deve ser compreendida como uma ameaça; outro ponto é que, para existir, não precisamos ser iguais, todavia porque a igualdade é um conceito que não se relaciona com os seres humanos em sua máxima essência – todos são essencial e particularmente diferentes; também porque a escola pública é uma instituição que não pertence a um ou a outro, mas, a um Estado – e, como dissemos, o estado está para a população assim como o bom funcionamento do corpo está para a vida saudável; em seguida, e não por último, por não ser a escola de uma ou outra pessoa, devemos respeitar todas as diferenças competentes a esse democrático espaço de construção/disseminação dos diversos saberes.

Os atores das cenas escolares, os quais são sempre diversos, atuam como atores de uma cena: adquirem enredos (suas narrativas), possuem comportamentos (suas ações) e interpretam cada um a seu jeito. Os enredos e os comportamentos, artifícios de toda cena, são previamente apreendidos a partir de canais externos. Os “escolarizandos”, atores de uma cena escolar, apreendem enredos e exercem comportamentos por deterem autonomia, mas também porque assim lhes distribuíram o conteúdo.

De modo a não encerrar o debate, mas em respeito ao limite de espaço, é preciso lançar um questionamento: será papel da escola o de lapidar os desejos de modo que eles sejam respeitosos entre si ou de modo que eles se adequem aos pensamentos de classes que dominam? Porque se for o de respeito entre os diversos atores, e preciso ressaltar que a escola esta ainda muito longe daquilo que se propõe.

Assim, para concluirmos este ensaio, transcendemos a ideia de reflexão, e transformamos em um manifesto de afetividade a favor das bichas pretas e afeminadas, declaramos que toda bicha preta merece transbordar para além das caixinhas condicionantes.

Conclamamos todas(os/xs) professoras, professores e professorxs, para estudar, produzir conhecimento, abraçar, cuidar, e motivar seus alunos bichas negras e afeminadas, para que a escola deixe de ser a túmulo onde se enterram os sonhos assassinados desses indivíduos, e passe a ser o jardim onde se cultiva e floresce o conhecimento.


² Optei por grafar Mulher Negra em todos os textos que tenho produzido por uma escolha política: ao menos aqui a resistência da mulher negra e protagonismo será demarcado. Quase uma reverência a quem me antecedeu e a quem me sucederá. Representatividade importa, mas, afetividade encoraja.

³ Cito a autora em nome completo e credenciais acadêmicas como ato politico: Meg faz questão de se apresentar em eventos acadêmicos como a Doutora Meg Rayana que é pesquisadora, travesti e preta. Ou, a Dr.ª Travesti como gosta de se autodenominar.

⁴bell hooks – pseudônimo de Gloria Jean Watkins – sempe grafado em minúsculas.

REFERÊNCIAS

HILARIO, Rosangela Aparecida. As contradições de ser Geni em uma sociedade heteronormativa: vamos falar de sexualidade na formação dos professores? IN: Retextualizando: Arte, Literatura e Linguagem. Organizadores: PAZ, José Flávio & Gutierrez, Nestor Raul González. São Paulo, Agbook, 2018.

hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Tradução Ana Luiza Libânio. 3ª Edição. Rio de Janeiro, Rosa dos Tempos, 2019.

JESUS, Cassiano Celestino de. Homossexualidades nas Escolas: as concepções de educadores acerca da homofobia no contexto escolar. Boletim historiar, n. 08, mar./abr. 2015, p. 19-32. Disponível em http://seer.ufs.br/index.php/historiar/article/view/3712 Acesso: 01/07/2016.

SOUZA, Jane Felipe de. Gênero e sexualidade nas pedagogias culturais: implicações para a educação. www.titosena.faed.udesc.br/Arquivos/Artigos_gensex/SexualidadeInfantil.pdf Acesso: 30/09/2019.

OLIVEIRA, Meg Rayana Gomes de. Seguindo os passos “delicados” de gays afeminados e bichas pretas no Brasil. IN: De guri a cabra – macho: masculinidades no Brasil. Organização: CAETANO, Marcio & SILVA JUNIOR, Paulo Melgaço. 1ª Edição. Rio de Janeiro, 2018.

SEFFNER, Fernando. Um bocado de sexo, pouco giz, quase nada de apagador e muitas provas: cenas escolares envolvendo questões de gênero e sexualidade. Florianópolis, 2011. p. 561-588. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ref/v19n2/v19n2a17 Acesso: 01/10/2019.

SILVA JUNIOR, Jonas Alves da. & SILVA, Maria de Lourdes Ramos da Silva. Não tem viado aqui: a construção de masculinidades em uma unidade socieoeducativa do município do Rio de Janeiro. IN: De guri a cabra – macho: masculinidades no Brasil. Organização: CAETANO, Marcio & SILVA JUNIOR, Paulo Melgaço. 1ª Edição. Rio de Janeiro, 2018.

Pós-Doutora em Educação/Faculdade de Educação da Universidade São Paulo/FEUSP

Professora do Departamento de Ciências da Educação da Universidade Federal de Rondônia. Líder do Grupo de Pesquisa Audre Lorde

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE. 
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