Blackface no cinema – Uma história de racismo

Nesta semana, um caso em Joinville ganhou repercussão nacional. A professora de uma escola particular da cidade, ao se fantasiar para uma festa junina, maquiou o rosto de preto, com a intenção de homenagear as bonecas de gesso negra conhecidas como “Namoradeiras de Minas Gerais”. As fotos da festa foram publicadas nas redes sociais e os movimentos negros da cidade questionaram a fantasiam, levantando um grande debate sobre racismo.

por Claudia Morriesen no Clube do Cinema

Para muitas pessoas que desconheciam o termo blackface, a reação em torno do fato foi exagerada. Para situar a blackface na história, o Clube do Cinema dá sua contribuição com exemplos no cinema.

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No início da história do cinema, a blackface era usada para que atores brancos fizessem os papeis de personagens negros. A maquiagem escura era aplicada no rosto e em todas as partes da pele que ficassem visíveis. Às vezes, a boca era pintada de branco, fazendo com que os lábios ficassem exageradamente grandes. Ela já havia sido criada pelo menos meio século antes, em espetáculos de menestréis, nos quais os comediantes se apresentavam caracterizados como personagens estereotipados de pessoas negras, sempre com o intuito de ridicularizá-las.

Um dos primeiros registros de uso da blackface no cinema é datado de 1903, no filme A Cabana do Pai Tomás (que seria transformada em novela brasileira, também com um ator branco no papel de negro) . Neste filme, todos os atores com papéis mais importantes eram feitos por brancos representando negros.

The Birth of a Nation (1915) Directed by D.W. Griffith Shown: Walter Long (as Gus) surrounded by Ku Klux Klan members
The Birth of a Nation (1915)
Directed by D.W. Griffith
Shown: Walter Long (as Gus) surrounded by Ku Klux Klan members

Muito mais conhecido (principalmente por ser uma obra extremamente racista), o filme O Nascimento de uma Nação, em 1915, usou atores brancos com maquiagem preta para representar todos os personagens negros. Na história, que se passava após o fim da Guerra Civil nos Estados Unidos, os negros eram os vilões que tomavam o poder utilizando fraude e aprovavam “absurdos” como o casamento inter-racial. No fim, o mocinho é o homem que cria a Klu Klux Klan…


Outro filme famoso que utilizou a blackface foi O Cantor de Jazz, de 1927, conhecido por ser o primeiro filme sonoro. Nele, o ator Al Jolson passa boa parte da história fantasiado de negro. Com uma história bem parecida, Diabinha de Saias, protagonizado por uma jovem Judy Garland em 1938 trazia a personagem principal fantasiada de negra para uma audição de jazz.

Qual a semelhança entre esses casos? Todos eles ou ridicularizavam a figura do negro ao criar personagens com sotaques esdrúxulos e comportamentos reprováveis — um dos estereótipos é batizado de Buck e tratava-se de um personagem negro que era ameaçador e estava sempre “tarado” por mulheres brancas — ou serviam como forma de exclusão dos negros, já que não era permitida a eles o emprego no cinema. Quando havia negros “de verdade” em cena, eles eram figurantes atuando como empregados.

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