Brasileiros não confiam em prefeituras para prevenir desastres climáticos

FONTEGênero e Número, por Mariana Belmont
Mariana Belmont (Arquivo Pessoal)

Todos os anos, organizações, institutos de pesquisa e governos lançam dados sobre violação de direitos e situações de agravamento da crise ambiental nos territórios, mas a criação de políticas públicas não está andando na mesma velocidade do aumento nas mortes por eventos climáticos extremos no Brasil.

Dados de uma pesquisa do Greenpeace Brasil, coletados em todo o território nacional pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC), revelam que, para 62% dos brasileiros, pessoas pobres são as mais afetadas por eventos climáticos extremos.

A pesquisa também mostra que 67% dos entrevistados não confiam nada ou confiam pouco em suas prefeituras. Nas capitais, 77% dos moradores desconfiam da capacidade de suas prefeituras para prevenir ou reduzir impactos de desastres causados pelas mudanças climáticas, como enchentes ou deslizamentos de terra.

Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil

No recorte racial, a pesquisa revela que 72% das pessoas negras (pretas e pardas) desconfiam das prefeituras, enquanto o mesmo acontece com 63% dos brancos- O índice mais alto de confiança nas prefeituras para proteger a população de desastres climáticos está entre pessoas de 60 anos ou mais: 26%. Já a maior desconfiança está entre brasileiros de 25 a 34 anos: 72% confiam pouco ou nada nas gestões municipais.

Os dados analisados pelo Greenpeace mostram que 63% dos brasileiros se sentem inseguros em relação a eventos climáticos extremos em suas cidades. O detalhamento por classe social mostra a diferença na percepção de segurança: 28% de pessoas das classes A e B dizem se sentir seguras em relação aos eventos climáticos, já entre pessoas das classes D e E apenas 18% afirmam o mesmo. A insegurança diante de tragédias causadas por eventos do clima também difere entre as classes: 56% das pessoas das classes A e B afirmam se sentir inseguras, enquanto 70% das pessoas das classes D e E se sentem assim.

Um a cada três entrevistados afirma que é necessário melhorar a infraestrutura para drenagem da água das chuvas, como fazer limpeza de valas, canais e esgoto. Um a cada quatro prioriza melhores políticas de moradia, como construção de habitações em áreas seguras ou fornecimento de auxílio moradia para a população. Entre os moradores de capitais brasileiras, cerca de um a cada cinco destaca a necessidade de melhorar as políticas de moradia.

O enfrentamento à emergência climática deve ser prioridade do poder público, pela vida das pessoas e pela preservação dos biomas que estão desaparecendo. A demanda é por uma vida com moradia, saúde, um ar bom para respirar, educação, emprego, saneamento básico e sem medo.

Vamos precisar falar mais sobre eleições 2024, pensar, formular e refletir como construir cidades antirracistas, seguras e preparadas. Repito meu apelo: só votem em pessoas preparadas e preocupadas com a situação das cidades frente aos eventos climáticos.


Mariana Belmont é jornalista, nascida em Parelheiros (extremo sul da cidade de São Paulo), trabalha com articulação e comunicação para políticas públicas. Atuou em cargos no governo sobre questões ambientais e de habitação na Prefeitura da cidade de São Paulo. Trabalhou como coordenadora de comunicação e articulação do Mosaico Bocaina de Áreas Protegidas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Foi Superintendente de Programas e Diretora de Clima e Cidade no Instituto de Referência Negra Peregum. Foi colunista do UOL e agora escreve mensalmente para a Gênero e Número. Também é ativista, parte de movimentos ambientalistas e periféricos. Recentemente foi editora convidada da Revista “Diálogos Socioambientais: Racismo Ambiental” da Universidade Federal do ABCD. É organizadora do livro “Racismo Ambiental e Emergências Climáticas no Brasil” (Oralituras, 2023). Atualmente é Assessora sobre Clima e Racismo Ambiental de Geledés – Instituto da Mulher Negra.

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