“Eles meteram o pé na porta. Estávamos dormindo e acordamos assustados. Queriam tirar ele da casa, ele não saiu e deram tiros nele lá mesmo. E aí foram embora.
por Patrick Marques no G1
Um cacique da etnia Tukano, de 53 anos, foi morto a tiros na casa em que morava, na comunidade Urukia, na Zona Norte de Manaus, na madrugada de quarta-feira (27). Homens encapuzados entraram na casa e atiraram contra o cacique. A esposa e a filha da vítima presenciaram o crime.
Segundo a Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), que vai investigar o caso, a motivação do crime ainda é desconhecida.
De acordo com a esposa de Francisco de Souza Pereira, Dulcinéia Ferreira Lima, de 51 anos, o casal estava em casa, junto com a filha de 11 anos. Por volta de 1h, três homens não identificados arrombaram a porta e foram até o quarto em que eles dormiam.
“Eles meteram o pé na porta. Estávamos dormindo e acordamos assustados. Queriam tirar ele da casa, ele não saiu e deram tiros nele lá mesmo. E aí foram embora. Ainda colocaram a mão na boca da nossa filha para ela não gritar”, disse Dulcinéia.
Pereira era um cacique indígena da etnia Tukano e atuava em lideranças de 42 aldeias, segundo sua família. A esposa conta ainda que a vítima não tinha briga com ninguém e sempre trabalhou em prol das comunidades.
Liderança indígena
A irmã de Francisco Pereira, Sulamita de Souza Pereira, 55 anos, lembra que o irmão costumava trabalhar com obras. Ele era envolvido com aldeias indígenas mas passou a buscar liderança após a morte da mãe, há quatro anos.
“Ele foi buscar conhecer mais da nossa tradição e descobriu que nossos avós eram envolvidos com a Fundação Nacional do Índio (Funai) quando nossa mãe morreu. Ele, então, começou a buscar essa liderança, até que conseguiu ser intitulado cacique”, lembrou a irmã.
Sulamita conta ainda que o irmão sempre buscou ajudar a todos os membros das comunidades espalhadas pela capital. Segundo a vizinha do cacique, Lucilene da Silva, de 51 anos, “assim é como ele deve ser lembrado”.
“Ele tirava até da comida dele para dar para os outros. Dizia ‘Isso é para você. Não é muito, mas o que eu tenho para ajudar é isso’. Se você procurar qualquer um da comunidade, é o que vão dizer. Não é justo o que fizeram com ele”, lamentou.
O corpo do homem foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML).