Câmera de segurança do quiosque Tropicália mostra outras testemunhas de agressões e morte de Moïse

Quiosque continuou vendendo bebidas mesmo com corpo do congolês estar caído no chão. Ao longo das três horas, um homem guarda o taco usado como arma no crime, um pega uma corda para amarrar o congolês e outro chega a tirar uma foto do jovem imobilizado.

FONTEPor Larissa Schmidt, G1
Moïse Kabagambe — Foto: Facebook/Reprodução

Novas imagens das câmeras de segurança do quiosque Tropicália, obtidas pela TV Globo, revelam que na noite do dia 24 de janeiro, quando Moïse Kabagambe foi morto, outras pessoas estiveram presentes na cena do crime.

Ao longo das três horas, um homem puxa as pernas do congolês e outro leva embora o taco usado no crime. Um homem chega a tirar uma foto da vítima imobilizada. A venda de bebidas no estabelecimento continuou normalmente, mesmo com o corpo estendido no chão.

Do momento em que Moïse foi derrubado no chão, até o último movimento do jovem congolês, passaram-se seis minutos. Foi o tempo em que ele recebeu 40 pauladas com um único taco de basebol, compartilhado por dois agressores.

Ele também sofreu chutes, socos e estrangulamentos com a ajuda de uma corda, enquanto um terceiro agressor se manteve sempre por cima dele, por 13 minutos, e o imobilizou com um mata-leão até o último sinal de vida.

Três horas se passaram do começo das agressões até a última imagem registrada pelo circuito de segurança, na qual Moïse ainda aparece caído no chão, sendo analisado por peritos.

Os três homens que já estão presos não estavam sozinhos com o jovem de 24 anos no quiosque. Outras pessoas presenciam e algumas participam de alguma forma do que acontece em torno de Moïse.

Movimentação no quiosque

As imagens mostram que um homem de camiseta amarela da seleção brasileira, que estava sentado em um banco do quiosque, se aproxima logo que o jovem é derrubado e puxa as pernas de Moïse, enquanto outro o segura pelo pescoço e um terceiro desfere golpes com o taco de basebol.

Um outro homem, de regata e boné pretos, se aproxima do local onde as agressões tinham começado e observa tudo, ao lado de outro homem. Seis minutos depois, ele recebe de um dos agressores a arma do crime e sai de cena com o taco de basebol.

Ele reaparece 20 minutos depois e se aproxima de um casal que observa o congolês com preocupação, pois ele estava caído no chão e não se mexia.

Só então o homem de regata e boné pretos que saiu antes com a arma do crime faz um movimento como quem presta socorro: ele põe água na cabeça de Moïse e começa a fazer massagem cardíaca.

Homem recebe de um dos agressores a arma do crime e sai de cena com taco usado para golpear Moïse — Foto: Reprodução/ TV Globo

Outra pessoa que aparece praticamente durante as três horas de imagens é o funcionário do quiosque com camiseta listrada verde. Jailton Pereira Campos disse à polícia que começou a discutir com o congolês pois ele tentava pegar bebidas no freezer.

É ele que aparece com um pedaço de pau na mão no começo das imagens com Moïse, antes dele ser derrubado. Os dois não entram em luta corporal.

Quando os peritos chegam, no fim das imagens, ele ainda aparece pegando bebidas no freezer do quiosque.

O vídeo, ao qual a TV Globo teve acesso, termina 1h26 da manhã, com o corpo de Moïse ainda no chão. O horário não condiz com um depoimento prestado pelo dono do quiosque Tropicália, que entregou as imagens à polícia.

Segundo Carlos Fábio da Silva Muzi, ele foi avisado sobre o ocorrido por um funcionário de uma barraca de praia por volta das 23h e disse, em depoimento, que foi ao quiosque cerca de uma hora depois, portanto à meia-noite, e afirmou que o corpo de Moïse não estava lá. Mas estava. E ficou lá por mais uma hora e meia.

Atendimento

A equipe do Samu chegou ao local às 23h15, 49 minutos depois de Moïse ter sido levado ao chão e quase 40 minutos depois de ter sido acionada. Os socorristas tentaram reanimá-lo com massagem cardíaca por 17 minutos, mas não havia mais nada a fazer.

À meia-noite, uma hora e meia depois do início das agressões, chegam dois policiais militares. Eles praticamente não se aproximam do corpo e saem da imagem dez minutos depois.

Polícia investiga

Na terça (8), familiares afirmaram que há “proteção” a envolvidos no assassinato do jovem e que nem todos os participantes foram presos. As declarações foram feitas durante audiência Comissão de Direitos Humanos do Senado destinada a debater o caso Moïse e a situação de refugiados no Brasil.

Aos senadores, um tio de Moïse, Yannick Kamanda, afirmou que o vídeo que comprova as agressões contra o congolês foi editado após ter sido retirado o sigilo das imagens. Segundo esse parente, a prisão de todos os envolvidos no caso é importante para que a família possa se sentir segura.

“Não só o advogado tem direito à integridade do vídeo, porque, vendo a íntegra do vídeo, vocês todos verão que simplesmente há sim participação de outras pessoas tanto em omissão de socorro quanto de agressões. Mas esse vídeo não está aparecendo e não está nos deixando seguros. Porque sem a prisão de todos os envolvidos a família não se sentirá segura”, afirmou.

A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) afirmou que três autores da agressão foram presos e testemunhas foram ouvidas. Disse também que as imagens do crime não sofreram qualquer tipo de edição e que foram apresentadas na íntegra à família. A Polícia Civil afirmou ainda que as imagens continuam sendo analisadas. E que as investigações prosseguem para esclarecer o possível envolvimento de outras pessoas.

A DHC afirmou que todos os fatos serão apresentados no encerramento do inquérito policial, que está em andamento e continua sob sigilo.

Quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, onde Moïse foi morto no dia 24 de janeiro — Foto: Reprodução/ TV Globo
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