Campanha “30 dias por Rafael Braga” denuncia racismo estrutural no Brasil

Atividades culturais e rodas de conversa serão usadas para dialogar com população; lançamento ocorre nesta quinta em SP

Por Norma Odara, do Brasil de Fato
Foto: Mídia Ninja

Racismo estrutural, seletividade penal, guerra às drogas, tráfico e politização da Justiça: a história de Rafael Braga, desde sua prisão até as condenações, é vista por militantes do movimento negro e ativistas de direitos humanos como uma das mais emblemáticas para demonstrar a falha do sistema judicial brasileiro quando se trata da população negra. Para expor essa realidade e debater essas questões, organizações e voluntários iniciam, nesta quinta-feira (1º), em São Paulo, a ação “30 dias por Rafael Braga”.O lançamento oficial começa às 19h, na Ação Educativa (Rua General Jardim, 660, próximo ao metrô Santa Cecília), em São Paulo (SP).

As atividades se estenderão até o final do mês e pretendem reunir psicólogos, criminalistas e jornalistas para a realização de debates, exibição de filmes e documentários que abordem a seletividade carcerária, o racismo estrutural e como essas questões afetam a sociedade.

A historiadora Suzane Jardim, uma das organizadoras da ação, classifica o caso de Rafael Braga como “urgente e simbólico”, por sintetizar todas essas questões, e diz que a opção por realizar diversas atividades se deve ao fato de querer conscientizar toda a população, “não só a militância”.

“Porque o debate ainda é muito raso. Ainda é muito comum a máxima: ‘bandido bom é bandido morto'”, argumenta Jardim. “E a gente não quer que a ação acabe em junho. Queremos que as pessoas discutam isso todo dia, a fim de  chegarem a propostas de mudanças, de reformas, sobre todos esses abusos que estão acontecendo com a população negra, pobre e periférica”, ressalta a historiadora.

Para o advogado Lucas Sada, que cuida do caso de Rafael Braga e é membro do Instituto de Defensores de Direitos Humanos (DDH), essa questão  é política:

“Por isso, é muito importante que se denuncie, proteste, que faça a história do Rafael correr, porque não é só a história do Rafael, mas sim de milhares de pessoas que estão privadas de liberdade no Brasil, acusadas dos crimes de tráfico e associação, condenadas tão somente com base na palavra de policiais, através de provas forjadas e depoimentos obtidos sob tortura”.

Relembre o caso

Em 2013, enquanto carregava somente dois frascos lacrados de produto de limpeza em sua mochila, o catador Rafael Braga foi preso sob a acusação de portar explosivos.

Em janeiro do ano passado, ele foi detido novamente enquanto respondia em regime aberto e usava tornozeleira eletrônica. Desta vez, ele foi acusado de tráfico de drogas e associação ao tráfico e, mesmo negando ser o dono dos entorpecentes, foi condenado a 11 anos e três meses de reclusão.

“Estamos esperando a publicação da sentença para entrar com recurso de apelação, para tentar reverter essa condenação, que é ilegítima e baseada apenas na palavra dos policiais, contrastada pela versão de uma testemunha ocular e do próprio Rafael”, afirma Sada.

 

Serviço

A página da campanha “30 dias por Rafael Braga” na rede social Facebook já têm quase 3 mil curtidas antes mesmo do lançamento oficial, que acontece nesta quinta (1º), à partir das 19h, na Ação Educativa (Rua General Jardim, 660, próximo ao metrô Santa Cecília), em São Paulo (SP).

O evento contará com a presença de Suzane Jardim; da advogada do “Artigo 19” Camila Marques; da militante do Kilombagem Katiara Oliveira; e da socióloga, coordenadora da iniciativa negra por uma nova política sobre drogas e presidenta do Conselho Municipal de Políticas de Drogas e Álcool, Nathália Oliveira.

 
 
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