Cancelamento do Censo do IBGE pode deixar país ‘no escuro’ sobre número de crianças fora da escola e de analfabetos

Enviado por / FontePor Elida Oliveira, do G1

A suspensão do Censo Demográfico, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), poderá deixar os municípios brasileiros “no escuro”, segundo especialistas ouvidos pelo G1. Eles afirmam que faltarão dados e referências para comprovar se as políticas aplicadas nos últimos 10 anos surtiram efeito, e apontam que não haverá informação para formular ações para o futuro.

O Censo é uma pesquisa realizada a cada 10 anos pelo IBGE. O levantamento faz uma ampla coleta de dados sobre a população brasileira e permite traçar um perfil socioeconômico do país.

“É por meio dos dados do Censo que se distribuem os recursos para educação, saúde, assistência e todas políticas públicas. Para quem quer acabar com essas políticas, não realizar o Censo é o passo primeiro”, diz André Lázaro, diretor de Políticas Públicas da Fundação Santillana.

O caráter “censitário” da pesquisa significa que uma parcela significativa da população seria ouvida, diferente das pesquisas por base amostral, com uma parcela da população.

  • Nos dados sobre educação, o Censo mapearia o analfabetismo, indicando quantas pessoas não sabem ler em cada bairro, por exemplo.
  • Também captaria informação sobre a escolaridade, cruzando dados com a idade da população, indicando quantos adultos em cada cidade não concluíram os estudos.
  • Além disso, poderia apontar o número de crianças fora da escola, indicando a demanda de vagas por creches.

O Censo foi suspenso porque o Orçamento de 2021, sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro na quinta (22), não prevê a inclusão de recursos para a realização da pesquisa, como mostra o vídeo abaixo.

A coleta de dados já havia sido adiada de 2020 para 2021 e uma nova data para a realização ainda não foi anunciada. A divulgação dos dados estava prevista para 2022.

“O Censo investiga, entre outros temas, a escolaridade das pessoas, em nível de municípios, e o analfabetismo, em nível de bairros. A partir do Censo, também conseguimos traçar o perfil etário de municípios e bairros do país, o que ajuda no mapeamento da demanda por escolas”, informou o IBGE.

“Além disso, há uma série de cruzamentos entre os dados educacionais e a cor, o sexo, a ocupação e as faixas de renda da população”, explicou o instituto.

  • Sem o detalhamento, o país fica sem saber onde estão os 69,5 milhões de adultos acima de 25 anos que não completaram a educação básica em 2019. O número representa 51,2% da população adulta.
  • Também não é possível detalhar onde estão os 11 milhões de brasileiros acima de 15 anos que não sabem ler e escrever. Os números são de outra pesquisa do IBGE, a Pnad Educação, feita anualmente. A mais recente foi divulgada em julho de 2020, com dados de 2019.

Segundo o instituto, “o Censo consegue apurar esse dado em níveis geográficos muito mais detalhados: o analfabetismo é apurado em nível de bairros e a escolaridade, em nível de municípios, o que é muito importante para as secretarias estaduais e municipais de Educação”, diz o IBGE.

Em uma carta-aberta, os ex-presidentes do IBGE afirmam que, sem o Censo, “o Brasil se junta ao Haiti, Afeganistão, Congo, Líbia e outros estados falidos ou em guerra que estão há mais de 11 anos sem informação estatística adequada para apoiar suas políticas econômicas e sociais.”

+ sobre o tema

Que escriba sou eu?

Tenho uma amiga que afirma que a gente só prova...

Oxfam: Brasil é um caso de sucesso na redução da desigualdade

Sugerido por robson_lopes Trechos dos artigos: Felizmente, a...

Vox/Band/iG: Dilma cai de 56% para 54%

Candidata petista varia para baixo pela primeira vez dentro...

para lembrar

Mulheres trabalham menos tempo em casa

Com mercado de trabalho feminino aquecido e renda em...

Brasil está cada vez mais feminino e envelhece mais rápido, mostra Censo

Um país mais envelhecido e mais feminino. Esse é...

O triste caso da militarização das escolas no Distrito Federal

Não se pode negar que há um desafio na...
spot_imgspot_img

Estudo mostra que escolas com mais alunos negros têm piores estruturas

As escolas públicas de educação básica com alunos majoritariamente negros têm piores infraestruturas de ensino comparadas a unidades educacionais com maioria de estudantes brancos....

Educação antirracista é fundamental

A inclusão da história e da cultura afro-brasileira nos currículos das escolas públicas e privadas do país é obrigatória (Lei 10.639) há 21 anos. Uma...

Quase metade das crianças até 5 anos vivia na pobreza em 2022, diz IBGE

Quase metade das crianças de zero a cinco anos vivia em situação de pobreza no Brasil em 2022, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (9) pelo IBGE (Instituto Brasileiro...
-+=