Câncer de mama: rastreio deve começar aos 25 anos se há risco genético

Especialistas detalham evolução de técnicas para personalizar o combate ao câncer. Acesso, no entanto, continua sendo barreira

FONTEMetrópoles, por Bruno Bucis
Foto: © iStock

Com apenas uma amostra de saliva é possível desvendar o conjunto de genes que compõem o DNA de uma pessoa, incluindo aqueles que aumentam os riscos de doenças futuras.

Caso o exame aponte risco hereditário aumentado para câncer de mama, a mulher pode adotar várias estratégias de prevenção, como explica o oncologista e geneticista Rodrigo Santa Cruz Guindalini.

“De 5 a 10% dos casos de câncer de mama têm origens hereditárias. Para mulheres com esse risco comprovado em exames, podemos tomar várias estratégias. A mais básica é um rastreamento precoce, a partir dos 25 anos, que deve ser feito com ressonância nuclear anual e, a partir dos 30, integrado com a mamografia”, afirma.

“A mamografia sozinha não é capaz de observar tumores pequenos em seios de mulheres jovens, por isso a ressonância nuclear é recomendada para uma boa prevenção”, completou o oncologista, durante encontro com jornalistas promovido pela Johnson & Johnson, na quinta-feira (12/9).

Prevenção personalizada

Dessa forma, é possível impedir que a doença avance em mulheres com risco aumentado devido à carga genética. A depender do nível de mutações de risco identificadas, é possível até tomar decisões mais agressivas, como realizar uma quimioterapia preventiva ou a retirada das mamas, como foi feito com a atriz norte-americana Angelina Jolie.

“No caso de Angelina, ela tinha mutações genéticas que diminuíam a presença de células protetoras em seu organismo conhecidas como BRCAT/2. Sem elas, havia um risco de 85% de ela ter câncer de mama no futuro. Quando fez a mastectomia preventiva, ela fez seu risco cair para 5%”, completou o médico.

Os exames de risco genético antes eram uma realidade apenas para os super-ricos mas, atualmente, é possível fazê-los por valores que não superam R$ 1 mil. O rastreamento das tendências hereditárias ao adoecimento é uma das formas que a medicina adotou para se tornar mais personalizada.

Medicina de precisão

Medicina de precisão é um termo guarda-chuva que agrupa terapias e exames que podem ajudar tanto no diagnóstico como no tratamento de diversos tipos de doenças. Mais da metade das pesquisas nessa área são feitas para investigar diferentes tipos de câncer.

A medicina de precisão analisa as mutações específicas de tumores para encontrar os tratamentos mais efetivos. Esse tipo de terapia costuma aumentar a sobrevida dos pacientes em até 10 meses.

O desafio da medicina de precisão é o custo. A personalização demanda uma série de pesquisas, equipamentos e treinamentos que nem sempre estão disponíveis no Brasil. Segundo os especialistas, outro problema é a burocracia necessária para realizar os estudos necessários ao desenvolvimento dos procedimentos.

“No Brasil, tratamentos deste tipo são autorizados em média 2 anos mais tarde do que nos EUA ou na Europa – e entre os países latino-americanos, o nosso é o mais rápido em aprová-los”, afirma Ana Rita González, especialista em acesso à saúde, que falou durante o evento virtual.

Os médicos alertam para o abismo que está sendo criado entre os países e entre pessoas. “Vivemos uma inequidade no atendimento à saúde cada vez maior”, afirmou Ana Rita González. “Precisamos criar políticas de saúde pública que possam garantir o acesso aos serviços de saúde, mas há desafios científicos, econômicos, políticos e de atenção médica na nossa região que não estamos perto de resolver. No momento, essas possibilidades ainda são para poucos”, lamentou.

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