Candidato de NY compara atuação da polícia às suspeitas que mataram Trayvon MartinCOMENTE

William C. Thompson Jr., o único afro-americano a disputar a Prefeitura de Nova York neste ano, raramente fala sobre raça. Em uma cidade cheia de oradores cuspidores de fogo, ele há muito preferiu o caminho da conciliação em vez do confronto.

Mas, no domingo, Thompson se pronunciou diante de uma congregação de maioria negra em uma igreja, fazendo uma forte condenação das políticas do Departamento de Polícia de Nova York, dizendo que elas nascem das mesmas suspeitas raciais que levaram George Zimmerman a caçar Trayvon Martin.

“Aqui em Nova York nós temos a suspeita do sr. Zimmerman institucionalizada em uma política que exige que nossos policiais tratem todos os homens jovens negros e latinos com suspeita, que os parem e os revistem por causa da cor da pele deles”, disse Thompson na Igreja da Vida Abundante, no setor Prospect Heights do Brooklyn.

Os comentários, que foram incomumente fortes, provocativos e pessoais, foram feitos em um momento crucial da campanha: apesar da presença de Thompson na disputa, os eleitores negros, aparentando perdão, têm sido mais receptivos à candidatura do ex-deputado Anthony D. Weiner.

Com a campanha de Weiner cambaleando diante das novas revelações sobre seus encontros sexuais online com mulheres, Thompson precisa conquistar esses afro-americanos e fazer com que compareçam em grande número para votar se quiser ter chance na corrida pela sucessão do prefeito Michael R. Bloomberg.

Assessores de Thompson sugeriram que os eleitores em bairros de minorias podem se decidir no final da campanha, de modo que fará um grande esforço para obter o voto deles na reta final.

Quando Thompson ocupou o púlpito de uma igreja cheia de cadeiras dobráveis pouco depois das 11h da manhã, ele reconheceu que ingressar no assunto sensível de raça não era seu “primeiro instinto ou natural”. Mas, mesmo assim, fez o discurso mais assertivo da campanha sobre a questão polarizadora das revistas, uma tática anunciada pela política da cidade como uma dissuasão salvadora de vidas e atacada por uma geração de homens negros e latinos como abusiva.

Thompson disse que os cerca de 600 mil negros e latinos parados pela polícia de Nova York em 2011, a grande maioria deles inocente, foram “discriminados como Trayvon foi discriminado”.

“Se nosso governo discrimina pessoas por causa de sua cor de pele e as trata como criminosos potenciais, como podemos esperar que os cidadãos se comportem de modo diferente?” perguntou Thompson, enquanto os membros da igreja aplaudiam vigorosamente e interrompiam ocasionalmente com gritos de “amém”.

Para os eleitores negros incomodados com as políticas da era Bloomberg, Thompson ocupa uma posição intrigante na campanha. Ele defendeu elementos da política de revistas como eficazes e não chegou a pedir para que seja abolida, como foi defendido pelo rival democrata, John C. Liu, o auditor municipal, posições que renderam a Thompson o apoio dos principais sindicatos de policiais.

Mas ele deixou claro que substituiria o comissário de polícia, Raymond W. Kelly; mudaria a estratégia de revistas para proibir a discriminação racial; e limitaria a dependência da prática com a contratação de 2.000 policiais adicionais, colocando os mais experientes nas áreas de maior criminalidade.

No domingo, entretanto, ele falou sobre as questões em termos humanos, como pai e marido. Thompson, filho de um juiz democrata da Suprema Corte Estadual e de uma professora primária, reconheceu que sua biografia não o coloca na mesma pele que muitos negros e latinos por toda a cidade.

“Eu sou filho da luta que ocorreu antes de mim”, ele disse. “E, apesar de ela não ter terminado, eu vivi na bênção de seu sucesso até o momento.”

Mas, ao invocar “os sonhos de nossos pais” e “os sonhos para nossos filhos”, ele disse que se sentiu compelido a se manifestar após a absolvição de Zimmerman. “Quando as regras da sociedade –que invocamos e honramos na forma da lei– permitem que um desses sonhos seja extinguido em raiva e temor sem consequência ou ação, essas regras falham com todos nós”, disse.

“Eu não esperava isso”, disse Karen Khan, 52, que leciona na escola de ensino médio no Brooklyn e que nunca viu Thompson falar sobre raça. “Eu achei que seria um daqueles discursos visando pacificar a questão. Varrê-la para debaixo do tapete –ok, vamos seguir em frente.”

Várias pessoas disseram que o discurso as levou a reavaliarem a candidatura dele.

“Ele receberia meu voto com base na paixão de seu discurso de hoje”, disse Khalid Douglas, um engenheiro estrutural de 33 anos. “Ele melhorou minha opinião a respeito dele.”

Para Thompson, o discurso foi uma mudança não apenas de tom, mas de estilo. Ele falou sobre um “coro de sonhos comuns” e sobre a “mancha persistente do racismo”. Ele descreveu a experiência emocional de assistir o presidente Barack Obama discutir o veredicto de George Zimmerman, “despojado do poder, não como presidente, mas como o homem negro que ele é, eu sou, todos nós sempre seremos”. Ele se perguntou o que levou aquele “homem digno, calmo, ponderado” a falar, quase soando como se pudesse estar falando de si mesmo.

Thompson disse que enfrentou críticas “de pessoas que conheço, confio e respeito” por declarar, após a absolvição de Zimmerman, que Martin foi morto por causa da cor de sua pele. Mas ele reiterou essa crença no domingo.

“Trayvon Martin morreu porque era negro. Não há dúvida disso”, disse Thompson, acrescentando: “O veredicto na Flórida foi um veredicto –mas não o veredicto”.

O discurso de 20 minutos não será o último apelo às minorias, que, pela primeira vez, deverão formar a maioria do novo eleitorado de Nova York desta campanha eleitoral, começando pelas primárias de 10 de setembro. Bill de Blasio, o defensor público da cidade, mostrou sua família inter-racial (ele se casou com uma afro-americana), enquanto Christine C. Quinn está visando às mulheres negras e latinas, e o auditor municipal, Liu, está explorando suas raízes imigrantes.

Em um campo democrata onde diferenças significativas parecem tênues, os eleitores estão especialmente atentos à paixão e mensagem dos candidatos.

Ao deixar a igreja no domingo, Khan disse que a reflexão de Thompson a “deixou mais próxima de dizer: ‘Hmm, agora estou entre ele e Bill de Blasio, porque Bill de Blasio também é bastante franco'”.

 

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Fonte: UOL 

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