Candidatos a prefeito e vice de Salvador declaram-se afrodescendentes

Quem pensou que não haveria candidato afrodescendente  disputando a eleição de prefeito de Salvador pode ter se “enganado” redondamente. Pelo menos na ficha de inscrição a prefeito de Salvador, quatro (dos sete candidatos) que constam no link Divulgação de Candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a saber: ACM Neto (DEM), Alice Portugal (PCdoB), Pastor Isidório (PDT) e Cláudio Silva (PP), afirmaram que são “pardos”, enquanto  Fábio Nogueira de Oliveira (PSOL) disse que é “preto”.

por Biaggio Talento no A Tarde

ficha acm neto

O único que se assumiu como “branco” foi Rogério Tadeu Da Luz (PRTB). A ficha da candidata Célia Sacramento (PPL) não estava postada no TSE até o fechamento da matéria.

Os vices seguiram a tendência: Bruno Reis, Maria del Carmen, Luiz Bassuma e Dinamene Meireles se disseram “pardos”. Antônio Neto, vice de Da Luz, declarou cor “parda”, e Iuri Alves (PSOL), “preto”.

A discussão sobre uso da negritude na eleição de prefeito de Salvador surgiu na composição das chapas. Os candidatos ACM Neto e Alice Portugal tentaram colocar afrodescendentes na chapa, de olho no eleitorado negro.

A estratégia surtiu efeito na eleição de 2012 para Neto, que escolheu Célia Sacramento, na época do PV, para vice. Ele conseguiu derrotar a chapa Nelson Pelegrino/Olívia Santana, com composição étnica semelhante à adversária.

ACM Neto
Maria del Carmen
Luiz Bassuma
Bruno Reis
Antônio Neto
Alice Portugal
Pastor Isidório
Cláudio Silva
Fábio Nogueira de Oliveira

Vices

Nas tratativas para a composição das chapas deste ano, o peso do PMDB foi mais forte, e Neto colocou o peemedebista Bruno Reis como vice.

Alice Portugal tentou compor a chapa com o vereador petista Gilmar Santiago, mas o governador Rui Costa (PT) preferiu o nome da deputada Maria del Carmen, espanhola de nascimento.

Tentativa de fraude

“É uma tentativa de fraudar o sistema. É como  se só fossem admitidas candidaturas de mulheres e eles colocassem na ficha que são do gênero feminino”, reagiu o presidente do Grupo Cultural Olodum, João Jorge Rodrigues,  advogado, mestre em direito público e ativista do movimento negro.

Rodrigues chegou a ser sondado para ser vice na chapa do PCdoB/PT/PSB, mas não aceitou. “Como vai dizer na campanha que é uma coisa que você não tem sido? Não é possível assumir que é pardo ou negro em 2016”.

Ele lamenta que candidatos escondam sua origem étnica só para ganhar votos. “Isso é feito porque o sistema político brasileiro está muito destruído, precisa de uma reforma urgente. É um sistema muito excludente. Normalmente o brasileiro pode votar, mas não pode ser  votado. No passado havia proibição de mulheres e analfabetos votarem. Hoje, nem todos podem ser candidatos porque não têm condições financeiras por um lado e, por outro, em função das estruturas partidárias”, criticou.

Lembrou que esse tipo de fraude étnica vem ocorrendo em outros campos. “Recentemente num concurso no Itamaraty passou um candidato que se declarou afrodescendente sendo judeu, branco, neto de alemães e classe média-alta. Não se sentiu constrangido de dizer que era afrodescendente. O objetivo sempre é a busca pela vaga, pelo poder. Isso impede o Brasil de avançar. Nosso país está muito atrás dos Estados Unidos, da África do Sul, da Austrália, países que tinham regimes muitos duros  baseados na separação de raças”.

Considera que esse tipo de “distorção” é própria de sociedades incivilizadas. “Por isso que eles (os candidatos) estão tentando se aproximar de algo que está longe deles”.

Gatos pardos

O sociólogo Joviniano Neto ironizou lembrando um ditado: “Na noite todos os gatos são pardos. Na eleição de prefeito de Salvador todos os candidatos são pardos”.

Diz que na hora que candidatos brancos se identificam como pardos, objetivam fazer uma ligação “com o que seria a miscigenação brasileira”.

Ele declarou que “o que pode ser verdade na concepção americana, para quem se alguém tiver um ascendente de origem africana ele é negro, não coincide com o modo de classificação no Brasil”.

Os candidatos, para o sociólogo, estão “querendo mostrar que são iguais a todos os brasileiros que seriam miscigenados, mas isso não é o modo que aqui se avalia a pessoa e essa estratégia pode ser um exagero do politicamente correto”.

Mais rico

Em relação ao poder econômico, o candidato ACM Neto (DEM) é o mais rico entre os seis nomes que constam na página do TSE. Ele declarou possuir recursos no valor de R$ 27.886.721,62.

Em segundo lugar vem o candidato do PP, Cláudio Silva, que declarou possuir R$ 3.862.593,36. Em terceiro, Alice Portugal, do PCdoB, com R$ 1.103.374,21.

Pastor Isidório declarou R$ 555.500. De todos foi o único que disse possuir dinheiro em espécie: R$ 350 mil.

Rogério Da Luz (PRTB) declarou bens de R$ 4.500, e o candidato do PSOL, Fábio Nogueira, não declarou bens.

Entre os vices, a de maiores recursos é Maria del Carmen, que declarou R$ 888.068,08.

 

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