A capoeira vai ser parte do currículo das escolas municipais de Belo Horizonte. Em 23 de setembro, foi sancionada a Lei Municipal 11.750/2024, de autoria da vereadora Cida Falabella (Psol), que torna a expressão cultural uma disciplina pedagógica no sistema de ensino da capital mineira por meio do programa Capoeira nas Escolas. Segundo a PBH, a prática é um patrimônio de natureza imaterial e importante instrumento para o ensino da história e da cultura afro-brasileira
Para Edson Moreira, conhecido como Mestre Primo, capoeirista há 50 anos, a capoeira é uma ferramenta de libertação para jovens e crianças. “É uma maneira deles se conectarem com o poder físico que possuem e canalizar suas energias” explica o mestre.
Além do impacto positivo na vida dos alunos, o capoeirista citou outra importância da lei, que diz respeito à valorização da cultura afro-brasileira. Segundo Edson, a capoeira tem o papel de trazer a história do povo africano para a sala de aula. “O mestre está ali, vivo, falando desse conhecimento, de maneira oral, ajudando a quebrar o preconceito nas escolas”, resume.
Mestre Primo explicou que ainda não se sabe quantas escolas serão impactadas com o projeto. “Agora que está sancionado, falta regulamentar a lei e, aí sim, começar a dar os primeiros passos”, reitera. O município poderá firmar parcerias com coletivos, grupos e associações capoeiristas para colocar o projeto em prática.
O professor explicou também que é importante que não só a capoeira angola seja ensinada, mas também a capoeira regional e contemporânea. “O mestre Pastinha fala que a capoeira veio da África, foi um africano que trouxe. Então, tudo que se desenvolve na capoeira angola tem esse lugar desse resgate”, diz.
Mas, além de resgatar a ancestralidade do país, também é, para ele, interessante abordar as ramificações da expressão cultural. “A capoeira regional já foi criada pelo mestre Bimba. Essa vertente deu origem a outras criações, como a capoeira contemporânea”, acrescenta.
Mestre Primo
Edson Moreira começou na capoeira em 1970, através de um primo, que foi seu mestre. Em 1983, participou da fundação do Grupo Iuna, que tem como intuito a promoção e valorização da capoeira angola como bem cultural. Ele explicou que, na época, o grupo foi iniciado com o objetivo de pesquisar sobre a capoeira angola. “É importante devolver a história que não foi contada, porque é uma história que está dentro do meu corpo”, conta.
Em maio deste ano, o Estado de Minas entrevistou Mestre Primo em uma manifestação na Câmara Municipal de Belo Horizonte. Ele se juntou a outros capoeiristas para pedir a aprovação do projeto.
“Sabemos da importância do que é finalmente ter a capoeira dentro das escolas, a importância disso para o povo negro, ainda mais o que carregamos da história do povo africano”, declarou Mestre Primo na época.
Mestre Primo relembrou que a Capoeira de Angola está conectada com o conhecimento ancestral africano, e que através do aprendizado e da prática da técnica da capoeira, se aprende outras coisas, como filosofia e sociologia de matriz africana por exemplo. “A história do nosso povo está no gesto”, conclui.