Caso Ágatha: Falhas na obtenção de provas podem atrapalhar as investigações

Ato ecumênico em frente ao Palácio Guanabara lembra a menina Ágatha, morta há uma semana Foto: Marcelo Regua / Agência O Globo

Kombi onde menina estava foi limpa antes de perícia; veja os pontos

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Ato ecumênico em frente ao Palácio Guanabara lembra a menina Ágatha, morta há uma semana Foto: Marcelo Regua / Agência O Globo

Falhas na condução das investigações sobre a morte da menina Ágatha Vitória Sales Félix, há uma semana, podem dificultar o trabalho da Delegacia de Homicídios da Capital (DH) para chegar à autoria dos disparos que atingiram a criança de 8 anos no Complexo do Alemão. Um dos principais erros foi a polícia não ter apreendido, de imediato, a Kombi onde a criança foi baleada. Na madrugada do dia 21, cerca de 24 horas após o crime, o veículo chegou a ser lavado numa ducha da comunidade, na Avenida Itaoca, na subida da comunidade, antes de ser periciado.

Além disso, o carro só foi apresentado à DH um dia depois do crime, quando várias lotadas já tinham sido feitas após o episódio. Também houve a demora na apreensão de fuzis e pistolas dos policiais que estavam no local no dia em que a menina foi morta.

Segundo o advogado Rodrigo Mondego, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, que dá assistência à família da vítima e ao motorista da Kombi — que pediu para não ser identificado por se sentir ameaçado —, o delegado de plantão na DH no dia da tragédia não informou quando seria feita a perícia.

— Como a polícia não recomendou nada sobre a Kombi, ela foi limpa. Ela chegou até a rodar — afirmou Mondego.

O GLOBO localizou o dono da Kombi, que confirmou ter lavado o carro, que passou por duas perícias — a primeira no sábado, sem a presença do motorista e do dono do carro, e a outra na segunda-feira, dia 23.

— O carro estava sujo de sangue. Lavei de madrugada, lançando um jato, mas não deu para ver, porque estava escuro, se tinha mais alguma coisa — disse o dono do veículo, que está sem trabalhar. — Estou acumulando dívidas, porque, embora esteja sem o meu ganha-pão, estou muito triste com o que aconteceu com a família da Ágatha. O meu prejuízo foi material, mas o deles é de uma vida — comentou.

Peritos constataram que o estado do fragmento da bala encontrada no corpo da menina inviabiliza o confronto balístico para saber de que arma saiu o disparo. Falta, justamente, o invólucro do projétil, que poderia estar na Kombi, antes de ser limpa.

No fim da tarde de sexta-feira, houve dois atos em memória de Ágatha. Um inter-religioso, na porta do Palácio Guanabara, em Laranjeiras, e outro organizado por moradores, em frente ao Complexo do Alemão, em Ramos.

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