S. Paulo – Acompanhado do pai, Diógenes da Silva, do advogado de defesa, Dojival Vieira, e do promotor Luiz Paulo Sirvinskas, designado pelo Procurador Geral da Justiça, o garoto T., de 11 anos, prestou depoimento nesta terça-feira (15/02), ao delegado Marcos Aníbal Arbues de Andrade, da 10º DP da Penha, e confirmou a agressão e os maus tratos de que foi alvo por parte de seguranças do Hipermercado Extra da Marginal do Tietê, na Penha, Zona Leste de S. Paulo.
O menino disse que foi levado para um quartinho, obrigado a baixar a bermuda e levantar a blusa, e ameaçado de levar chicotadas para provar que não estava furtando mercadorias pelas quais já havia pago, conforme comprovou com a apresentação do cupom fiscal emitido pela operadora do caixa.
T. reconheceu, pelo menos, um dos seguranças do Hipermercado – Marcos Hoshimizu Ojeda, o Japonês – o fiscal de prevenção de perdas, segundo o eufemismo usado pelo Extra, para designar os funcionários que fazem esse tipo de vigilância.
Ojeda, que foi o primeiro a depor, segundo o garoto foi o primeiro a abordá-lo quando, depois de passar no caixa com as mercadorias (biscoitos, salgadinhos e refrigerantes) e se encaminhava para a saída da loja.
O menino disse, porém, que não foi ele que o chamou de “negrinho sujo”, “negrinho fedido”, e o ameaçou com três chicotadas, já no quartinho – para onde também foram levados dois outros meninos, ambos negros – de respectivamente 13 e 14 anos, acusados pelos seguranças de furto de mercadorias.
Segundo T., as ameaças teriam partido de outros dois seguranças, em especial, de um terceiro, encarregados de fazer a revista.
Os após avisarem que não estavam brincando, teriam agredido com tapas nos genitais e dois tapas e um soco no peito, os adolescentes. A criança disse ao delegado que ficou assustado e “está triste”, porque na rua onde mora passou a ser chamado de “ladrãozinho”.
O segurança que “batia ameaçadoramente com um cano de papelão na mesa”, segundo T., também “ameaçou dar facadas na barriga, com uma faca, cuja descrição disse ser de cabo azul como as de cozinha. Os quatro seguranças que depuseram até aqui negam as agressões.
Reconhecimento
O reconhecimento de Ojeda aconteceu depois que o delegado Marcos Aníbal, que preside o Inquérito para apurar constrangimento ilegal e cárcere privado, mostrou ao menino oito fotos de funcionários apresentadas pelo advogado do Extra, Marcelo Lapa.
Bastante retraído e falando baixo (o delegado, em vários momentos pediu para que falasse mais alto para que pudesse ser ouvido), T., que completou 11 anos, no último dia 03, chegou para depor às 10h na companhia do pai e do advogado.
Segundo Diógenes, o pai, que trabalha com reciclagem de material usado e mora na rua Kampala, no conjunto habitacional conhecido na Zona Leste como Chaparral 02, o menino passou a ter comportamento mais introvertido depois do caso. O depoimento durou cerca de duas horas.
O delegado, já solicitou, a pedido do advogado de defesa, uma avaliação psicológica, para atestar eventuais seqüelas, que está para ser agendado.
Embora só tenha reconhecido um dos acusados, o menino afirmou, ao ser questionado pelo promotor Sirvinskas, afirmou não saber dizer se participaram ou não das agressões.
Apenas em relação a Ojeda não teve dúvidas de que foi o homem que determinou que fosse para o quartinho. O menino disse ainda que não estava com os outros dois menores acusados de furto, porém, os conhece porque moram na mesma rua e um deles no mesmo bloco.
O próximo depoimento será do pai do garoto, que disse ter obtido da família de um dos garotos agredidos, a concordância para depor como testemunha. O adolescente W., é conhecido na rua como Shireck, e foi um dos que estavam no quartinho, juntamente com outro conhecido, por Dau, cuja identificação ainda não foi feita.
Fonte: Afropress