Casos de racismo têm alta de 736% no estado de São Paulo

Em Campinas, uma mulher denunciou ter sofrido racismo em um shopping: 'aqui tá cheio de preto', disseram na semana passada

FONTEACidadeON
Imagem: Geledés

O total de processos de racismo – casos de injúria racial e crimes ligados a preconceito de raça e cor teve um aumento de 8,3 vezes no ano passado no estado de São Paulo em comparação a 2020, segundo dados do TJ (Tribunal de Justiça).

Os dados mostram que em 2020 foram abertos 30 processos de racismo. Já, no ano passado, o número subiu para 251. O aumento percentual é de 736%. O TJ não divulgou o número de ocorrências do tipo na região de Campinas, apenas do geral estadual.

Na última semana, em Campinas, uma mulher de 28 anos denunciou um caso de racismo em um shopping da cidade.

Segundo ela, ao entrar no playground para brincar com a filha de um amigo, ouviu de uma outra mulher, de 34 anos, que o local estava “cheio de preto”. A mulher acusada de cometer o crime de injúria racial chegou a ser presa em flagrante, mas foi liberada após pagar fiança de R$ 1,5 mil

O caso aconteceu no último sábado (9) no Shopping Parque das Bandeiras, localizado no Jardim Ipaussurama. Em depoimento, a analista de recursos humanos Aline Cristina Nascimento de Paula contou que passeava pelo centro de compras quando ouviu as falas racistas da mulher. 

SUPERAÇÃO

A consultora executiva Samanta Malaquias e a filha Débora, hoje com 12 anos, tentam superar o racismo que sofreram no caixa de um supermercado da cidade. “O funcionário já começou a observar e fazer olhares mesmo de quem estava ‘cuidando’ mesmo do que estávamos fazendo, não era para prestar ajuda. E perguntou se eu ia levar o chocolate. Eu questionei porque não tinha pego até então. Aí perguntei: ‘qual chocolate?’. E ele respondeu: ‘o que ela pegou'”.

Samanta relata ainda que quando perguntou para a filha se havia pego algo, ela disse que não. “Aí perguntei para ele: ‘baseado em que você acha que ela pegou?’. E ele respondeu que só havia perguntado. Eu questionei três vezes porque ele fez aquilo. A Débora chorava muito, querendo provar algo que não precisava”, lembrou.

A mãe afirmou ainda que o funcionário disse que foi “infeliz na abordagem”. Depois de chamar a gerência do local, registrar um boletim de ocorrência e um processo contra a loja, a família recebeu uma compensação: um vale-compras de R$ 1,5 mil.

“Eu não entrei por conta do dinheiro. Mas isso dá a certeza de que o mercado é conivente com o que o rapaz fez. E também me dá a certeza que não vão levar para treinamento e outras pessoas vão continuar passando por isso”, afirmou a mulher.

Após o ocorrido, mãe e filha tiveram que lidar com a forma com que foram tratadas. “Quando íamos no mercado comecei a observar que minha filha passava na minha frente e ficava me esperando do lado de fora. Ela não ficava mais perto. Ainda não me sinto totalmente à vontade”, disse Samanta.

NO ANO PASSADO

No ano passado, em outubro de 2021, um motorista de transporte de aplicativo disse que sofreu uma injúria racial durante uma briga no trânsito em Campinas.

O motorista Eduardo Matias, de 54 anos, contou que depois de ter uma discussão com o condutor de um veículo que estava atrás dele na Avenida José Pancetti, na Vila Proost de Souza, o homem o chamou de “macaco” e ainda tentou atropelá-lo quando ele desceu do carro.

A vítima registrou um boletim de ocorrência no 3º Distrito Policial e a Polícia Civil vai investigar o caso. 

COMO LIDAR

O fundador da ONG “Crespinhos no Poder”, Elmis Santos, afirmou que as vítimas não devem guardar essa violência para si e precisam expor ao máximo o racismo.

Para auxiliar e orientar, a ONG criou um serviço gratuito que, todo sábado, no Parque das Águas, ocorrerá um encontro de apoio para que as pessoas negras possam ir em buscar de direitos.

“Essas questões ficam impunes porque as pessoas não sabem ao que recorrer, não sabem como. Então, estamos aqui para acolher e encaminhar aos órgãos competentes para que dê uma sequência judicial e que as situações não fiquem impunes”.

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