Chile anuncia busca por desaparecidos durante ditadura

No 49º aniversário do golpe militar, Boric lança plano para descobrir paradeiro de mais de mil presos políticos durante o regime Pinochet, cujas famílias ainda aguardam respostas. "Isso é inaceitável", diz presidente.

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Gabriel Boric: "Avançar na verdade, na justiça, na reparação de todas as vítimas de violência perpetrada por agentes do Estado é a única e principal garantia que podemos oferecer de que isso não se repetirá." - Foto: Rodrigo Garrido/REUTERS

O presidente do Chile, Gabriel Boric, anunciou neste domingo (11/09) o lançamento de um plano de busca por presos políticos desaparecidos durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973 – 1990). O anúncio foi feito durante os eventos que lembraram o 49º aniversário do golpe militar.

“Recordamos também hoje aqueles que desapareceram sem saber o seu paradeiro, aqueles que sofreram perseguição, humilhação e exílio, aqueles que nos longos anos da ditadura civil e militar foram vítimas de repressão apenas por terem se identificado com um governo democraticamente eleito que procurava o melhor para a pátria. Aqueles que, perante esse horror, lutaram para recuperar a nossa democracia”, disse Boric.

O presidente ressaltou que o compromisso de seu governo é “continuar buscando incansavelmente os presos políticos desaparecidos”, apontando que “1.192 detidos desapareceram e ainda não sabemos onde estão”. “Isso não é aceitável, não é tolerável, não é algo que podemos naturalizar”, afirmou.

A intenção de lançar um plano de busca pelos desaparecidos durante a ditadura foi anunciada pelo presidente em junho. Organizações de familiares de presos desaparecidos e executados por motivos políticos devem fazer parte do projeto.

“Esse compromisso é de nunca mais, é de avançar na verdade, na justiça, na reparação de todas as vítimas de violência perpetrada por agentes do Estado, porque essa é a única e principal garantia que podemos oferecer de que isso não se repetirá”, acrescentou o presidente.

O anúncio foi feito durante os eventos que lembraram o golpe dado por Pinochet em 11 de setembro de 1973, que derrubou o governo socialista de Salvador Allende (1970 -1973) e deu início ao regime militar.

A ditadura chilena durou 17 anos e fez mais de 40 mil vítimas, entre executados, detidos, desaparecidos, torturados e presos políticos, de acordo com a comissão que investigou os crimes cometidos no período.

Visita ao túmulo de Allende

A manhã deste domingo, tão fria e chuvosa como aquele fatídico dia de 1973, começou com um ato institucional dentro do Palácio de La Moneda, no qual Boric, um admirador de Allende, elogiou a figura do ex-presidente.

“Diante das divisões, dos problemas da sociedade, vamos responder com mais democracia, e nunca com menos. E essa é precisamente a lição que o presidente Salvador Allende nos deixou”, afirmou Boric, que garantiu que prosseguirá com a Assembleia Constituinte apesar da recente derrota da votação no plebiscito sobre a nova Constituição.

Após a cerimônia em La Moneda, que contou com a presença da nova ministra do Interior, Carolina Toha, filha de um dos ministros de Allende, e da ministra da Defesa, Maya Fernández, neta do falecido presidente, vários outros membros do gabinete saíram do palácio para colocar cravos vermelhos em frente à estátua.

Boric também visitou o túmulo de Allende, onde milhares de chilenos prestaram homenagem ao ex-presidente. Grupos de esquerda, antigos companheiros do presidente, parentes de vítimas e dos mais de mil detidos ainda desaparecidos se reuniram junto à estátua na entrada do Ministério da Justiça e Direitos Humanos e caminharam até o cemitério de Recoleta.

Allende se matou com um tiro no próprio gabinete no Palácio de La Moneda, de onde tentou repelir a revolta e teve de desistir após o Exército ter bombardeado e invadido o edifício com sangue e fogo.

Horas depois, as forças golpistas prenderam dezenas de milhares de pessoas, alvejaram centenas sem julgamento, e lançaram uma onda de repressão que durou quase uma década, visando principalmente os partidos Socialista e Comunista, além do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR).

“Estamos aqui para recordar um nome que foi dignificado até o fim. Mas também para que não esqueçamos a memória de todos aqueles que foram assassinados, que desapareceram, e para que não se repita”, declarou um parente de um dos que desapareceram naquele 11 de setembro.

cn/lf (AFP, Efe)

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