Cientistas negras brasileiras são homenageadas em novo livro de passatempos do “Meninas e Mulheres nas Ciências”; baixe

FONTEUFPR
Ilustrações de Marcelo Jean Machado

No dia nacional da Consciência Negra, professoras e estudantes da UFPR que integram a equipe do Projeto de Extensão “Meninas e Mulheres nas Ciências” lançam o livro de passatempos “Cientistas Negras: Brasileiras – Volume 1”disponível gratuitamente aqui. O objetivo da obra é divulgar o protagonismo das cientistas negras brasileiras, impulsionando a educação e divulgação científica em uma perspectiva descolonizadora e humanizadora. 

O material aborda os assuntos por meio de atividades lúdicas, tais como caça-palavras, palavras cruzadas e desenhos para colorirNo primeiro volume, são contadas as trajetórias de 14 cientistas negras brasileiras de diferentes campos de conhecimento. Na capa, as nove cientistas ilustradas simbolizam as grandes áreas de conhecimento. Uma delas, a professora Rita de Cássia dos Anjos, das Ciências Exatas e da Terra, é professora e pesquisadora de destaque na Universidade Federal do Paraná (saiba mais sobre ela abaixo). 

A coordenadora do projeto, professora Camila Silveira, do departamento de Química, enfatiza a importância da obra para o fortalecimento e reconhecimento de referências intelectuais negras no campo das Ciências. Ela também destaca que as contribuições de cientistas negras são presentes em todas as produções do “Meninas e Mulheres nas Ciências”, mas uma obra com foco exclusivo nestas mulheres é uma ação de reverência e reparação histórica. 

As autoras do livro são majoritariamente negras, o que também colabora com o sentimento de pertencimento, representatividade, autoafirmação, lugar de fala e expressão da intelectualidade destas mulheres. A professora Claudemira Lopes, do Setor Litoral, considerou o processo de escrita coletiva como uma “experiência maravilhosa”. Ela ainda aponta que o tema mexeu com a sua subjetividade.  “Permitiu que eu, uma mulher negra, historicamente silenciada, pudesse, com a minha escrita, estabelecer uma luta simbólica no campo da autoria”. 

A estudante de Química e também autora do livro Jaqueline Ramos sempre soube que era uma mulher negra não só pela cor da pele, traços e cabelos, mas também pelos olhares, comentários e situações racistas das mais diversas “Sentir-se sozinha em uma ilha de brancos/as no sul do país é uma realidade nociva e que muitas vezes não traz perspectiva de futuro para muitas meninas que não se veem em lugares de poder”. 

Mayara Brasil, estudante de Geologia e autora, examina que o livro produzido é um avanço na ampliação de referências positivas sobre as mulheres negras do Brasil por trazer destaque para a produção de cientistas “que são historicamente apagadas dentro do meio acadêmico”. 

Aprendizado que também ensina 

Para a professora do Departamento de Física e autora Alessandra Souza Barbosa, a produção do livro foi um grande aprendizado pela oportunidade de conhecer mais sobre grandes cientistas negras. Ela destaca “as histórias inspiradoras, com sucessos e muita, muita superação”. 

Jaqueline pondera que a escrita do livro significou nova perspectiva, não só para ela, que vivencia uma academia branca, europeia e conteudista, mas principalmente para meninas negras que se sentem como ela já se sentiu. “O mundo é nosso e nós somos a mudança”, reflete. 

Para Mayara, contribuir com o livro foi “muito enriquecedor”, pois ela pôde aprender e aprofundar seus conhecimentos sobre as cientistas retratadas, tornando-as referências pessoais. Além disso, ela reforça a importância de trabalhar ao lado de mulheres que enxergam a educação como a base de transformações sociais. 

Alessandra reafirma a dificuldade de ser cientista negra, um lugar de preconceito de gênero e  preconceito racial. “Essas questões precisam ser debatidas para que possamos ter no futuro um mundo mais justo para todas e para todos”.  

O livro 

livro impulsiona a Educação para o Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, com destaque para as temáticas de Saúde e Bem-EstarEducação de QualidadeIgualdade de GêneroRedução da Desigualdades e Paz, Justiça e Instituições Eficazes. 

Além da obra, o projeto lançará ainda outros passatempos em formato online sobre o tema. Também estão em produção materiais didáticos analógicos, como livros impressos e jogos. A partir de 2021, escolas e pessoas físicas poderão realizar empréstimos para o trabalho em sala de aula e/ou remoto. 

Mais informações sobre as ações e produtos do “Meninas e Mulheres nas Ciências” podem ser acessadas no Blog (https://meninasemulheresnascienciasufpr.blogspot.com/) e nas redes sociais Facebook (https://www.facebook.com/mulheresnasciencias.ufpr) e Instagram (https://www.instagram.com/mulheresnasciencias.ufpr/). 

O e-mail para contato é: mulheresnasciencias.ufpr@gmail.com 

As mulheres na capa 

1) Neusa Santos Souza (Ciências da Saúde) 

2) Rita de Cássia dos Anjos (Ciências Exatas e da Terra) 

3) Enedina Alves Marques (Engenharias) 

4) Katemari Rosa (Multidisciplinar) 

5) Simone Maria Evaristo (Ciências Biológicas) 

6) Sueli Carneiro (Ciências Humanas) 

 7) Nilma Bentes (Ciências Agrárias)  

8) Luiza Bairros (Ciências Sociais Aplicadas) 

9) Conceição Evaristo (Linguística, Letras e Artes). 

No livro de passatempos, imagem da professora Rita de Cássia para colorir

Rita de Cássia dos Anjos: representatividade que chega às galáxias

Antonia sempre foi uma mulher curiosa, de abrir objetos que estragavam para ver como consertar. Também tinha um quê de vanguarda: mãe de oito filhos numa cidade do interior de São Paulo, aconselhou-os sobre os estudos e deu a deixa para formar uma grande cientista em casa: “não aceite as coisas como elas sãos”, dizia para Rita de Cássia dos Anjos, professora do departamento de Engenharia e Exatas do Setor Palotina e uma das vencedoras do prêmio “Programa Para Mulheres na Ciência 2020”, promovido pela L’Oréal Brasil, Unesco Brasil e Academia Brasileira de Ciências. 

Rita não aceitou e, hoje, é uma das estrelas do livro de passatempos “Cientistas Negras: Brasileiras – Volume 1”, representando uma área muito associada à cultura masculina: as ciências exatas. Seu objeto de estudo são as galáxias Starburst, investigadas como possíveis fontes de raios cósmicos de altas energias, mas o interesse pela Astrofísica começou a ser identificado após a graduação em Física Biológica, na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). No mestrado, estudou Teorias de Campos Integráveis e Sólitons. No doutorado, propagação de raios cósmicos extragaláticos, ambos na Universidade de São Paulo (USP) – e foi para Harvard, a mais prestigiada universidade dos Estados Unidos, como bolsista da Capes. 

Leia o perfil completo da professora Rita de Cássia dos Anjos aqui e saiba mais sobre sua pesquisa premiada aqui.

Fonte: UFPR
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