Cimeira homenageia líderes históricos do pan-africanismo

A União Africana (UA) dedica a cimeira deste ano ao “pan-africanismo e renascimento africano”, prestando homenagem aos líderes históricos das independências no continente, incluindo Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Eduardo Mondlane.

Segundo os textos oficiais da cimeira, a escolha do tema não pretende celebrar apenas o passado, mas “entusiasmar a população africana e usar a sua energia construtiva para acelerar uma agenda virada para o futuro”. A 21.ª Cimeira da União Africana, que começou no domingo e se prolonga até segunda-feira, em Adis Abeba, capital da Etiópia, único país africano não colonizado, assinala também os 50 anos da Organização da Unidade Africana (antecessora da UA).

A cimeira de alto nível – onde deverão marcar presença perto de 100 chefes de Estado e de Governo do continente e não só (o Brasil vai fazer-se representar pela Presidente Dilma Rousseff, os Estados Unidos pelo secretário de Estado John Kerry, a União Europeia por Durão Barroso e a China pelo vice-primeiro-ministro Wang Yang) – “é uma oportunidade única e surge num momento em que África está em alta e deve, portanto, construir a sua confiança para o futuro”, realçam os documentos oficiais. Apesar de nenhum dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) ter estado entre os fundadores da Organização da Unidade Africana, neles nasceram alguns dos históricos defensores do pan-africanismo, como o angolano Agostinho Neto, o guineense-cabo-verdiano Amílcar Cabral e o moçambicano Eduardo Mondlane.

“Todos os PALOP influenciam a subregião”, considera o secretário executivo da Comissão Económica para África das Nações Unidas, o guineense Carlos Lopes, lembrando que os africanos lusófonos ocupam atualmente alguns cargos internacionais de relevo.

Os eixos rodoviários de Adis Abeba dão “as boas-vindas” a delegados e visitantes em forma de cartazes com frases como “I am Africa, this is my century” (eu sou África, este é o meu século), contou à Lusa Isabel Boavida, a viver na capital etíope. Frases como aquela destacam um “espírito de união que quer ultrapassar as fronteiras nacionais e nacionalistas, muito fortes no continente”, avalia a professora universitária e representante do instituto Camões na secção de língua portuguesa da União Africana.

Segundo relata Isabel Boavida, tem existido, simultaneamente, uma preocupação em “informar a sociedade em geral” sobre o pan-africanismo, com a televisão local a emitir “curtos programas de divulgação do papel da União Africana e pequenos apontamentos sobre Adis Abeba enquanto capital de África”.

A UA decidiu envolver os cidadãos nos debates e incluir as suas sugestões e preocupações na agenda 2013-2063, roteiro do continente para o próximo meio século. O programa comemorativo “ainda está a ser delineado” e vai prolongar-se “até maio do próximo ano”, disse Isabel Boavida, adiantando que Portugal deverá realizar “algumas iniciativas em conjunto com o Governo da Etiópia”. Da agenda paralela, Isabel Boavida destaca um painel de alto nível sobre o “tema quente” do registo civil e da estatística em África, onde “muitas crianças nascem e morrem sem serem registadas”.

Também a cultura marcará presença, com um colóquio sobre artes visuais e performativas e uma mostra de “estética africana”, com uma coleção de artefactos, organizada pela diáspora africana, que conta com o apoio de Portugal.

Numa altura em que “o continente africano já representa 3,7 por cento da população mundial e 4 por cento da riqueza global”, é preciso “eliminar o estereótipo de que África não é criativa”, defende Carlos Gomes. “Seis dos dez países que mais crescem no mundo estão em África e há uma classe média com poder de compra a expandir-se rapidamente”, lembra o perito das Nações Unidas, prevendo um futuro em que “os jovens vão estar, na esmagadora maioria, em África” e serão “uma mão-de-obra mais educada e mais conetada”.

 

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Fonte: DN

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