Uma mistura de linguagens artísticas para narrar e refletir a história da cultura afrodescendente no Brasil. Com essa proposta, a organização não-governamental Ponto de Equilíbrio (OPEQ), de Teresina (PI), vem percorrendo cidades do Piauí e do Maranhão com o espetáculo Circuito Musical Palmares, cujo encerramento ocorrerá em São Luís, na próxima quinta-feira (29), com duas apresentações abertas ao público: às 9h, na Unidade Integrada Maria José de Aragão (Cidade Operária); e às 20h, na Praça Nauro Machado (Praia Grande).
De acordo com o gestor do Opeq e diretor geral do espetáculo, Luís Carlos Vale, o Circuito Musical Palmares consiste de uma variedade de expressões artísticas, dentre as quais a música e o teatro, mas tendo a dança como carro-chefe. Ele disse a reportagem que a montagem reúne 20 pessoas no elenco, além de mais de uma dezena envolvida na produção e equipe técnica. O projeto do musical foi premiado em 2010 pela Fundação Cultural Palmares, entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) para a promoção e preservação da arte e da cultura afro-brasileira, e no ano passado a iniciativa de circulação do espetáculo foi selecionada pelo Prêmio de Teatro Myriam Muniz, da Fundação Nacional de Artes (Funarte), órgão também vinculado ao MinC. Com São Luís, o musical contabiliza exibições em sete municípios dos dois estados, durante o mês de maio.
Em cena, bailarinos, cantores, atores e instrumentistas relatam a história dos negros no Brasil, desde a vinda dos primeiros navios negreiros com os povos escravizados da África, até os dias atuais, sempre com o foco na valorização da cultura negra e levantando a questão do racismo na formação do país. Com músicas e coreografias criadas especialmente para a apresentação, a montagem teve inspiração em imagens e textos do livro Mitologia dos Orixás, do sociólogo Reginaldo Prandi, considerada a mais completa coleção de mitos da religião dos orixás já reunida em todo o mundo, com mais de 300 relatos mitológicos acerca do panteão de divindades africanas.
Luís Carlos Vale ressaltou a ligação do Circuito Musical Palmares com as comunidades remanescentes de quilombos. Além do título da montagem, baseado no mais conhecido núcleo de resistência dos negros escravizados durante o período colonial, o diretor artístico, coreógrafo e ator do espetáculo, Valdemar Santos, é originário da tradição quilombola no Piauí. O musical também foi apresentado na comunidade de Mimbó, causando uma forte repercussão entre seus integrantes.
“Temos uma dívida com os negros, que sempre tiveram uma força muito grande no Brasil. A gente sabe que o preconceito existe, mas acredito que os negros vêm quebrando barreiras”, disse Luís Carlos Vale, lamentando a recorrência de atos racistas nos dias de hoje. No entanto, ele considerou que o movimento negro tem se fortalecido e as novas gerações estão mais abertas à convivência com a diversidade cultural e com as minorias, como é o caso também da militância gay.
Para o diretor geral do Circuito Musical Palmares, apesar da dificuldade de realizar a montagem, especialmente por ter de conciliar as agendas de ensaios e apresentações da equipe numerosa, o pioneirismo da iniciativa possibilita às plateias dos estados nordestinos ter contato mais próximo com esse tipo de espetáculo, mais comum no eixo em torno das metrópoles São Paulo e Rio de Janeiro.
Entidade
Criada em 1999, em Teresina, a organização Ponto de Equilíbrio (Opeq) é uma pessoa jurídica de direito privado, tendo por objetivo promover o desenvolvimento social através de diversas frentes de ação: arte, cultura, educação, dentre outras. Luís Carlos Vale esclareceu que, além das iniciativas de valorização da cultura negra, a entidade executa projetos com outros grupos de minorias, como mulheres e soropositivos. Com o público-alvo de crianças e adolescentes, a Opeq realiza atividades de empreendedorismo cultural, enquanto mantém o projeto Dança Eficiente, destinado a pessoas com deficiência.
SERVIÇO
O quê? Espetáculo Circuito Musical Palmares
Quando? Quinta-feira (29)
Onde? Unidade Integrada Maria José Aragão (9h), no bairro Cidade Operária; e Praça Nauro Machado (19h), no Centro Histórico
Quanto? Aberto ao público