Apenas nesta sexta, 700 assinaturas foram coletadas no centro de São José para a criação de um comitê específico
Caroline Lopes
Claudinei Côrrea, 45 anos, autor da denúncia que acusa policiais militares de racismo no Centro de São José deu início ontem à elaboração de abaixo-assinado para pedir a criação do Departamento ‘S.O.S. Racismo’, a exemplo do que já existe na Assembleia Legislativa de São Paulo, a serviço da Comissão dos Direitos da Pessoa Humana. Apenas nesta sexta-feira, cerca de 700 assinaturas foram conquistadas pelos militantes.
Presidente da ONG Afronorte, que lidera a coleta de adesões, Côrrea pretende que o S.O.S. fique subordinado à Câmara e sirva de Ouvidoria para apuração de denúncias. Desde ontem, a entidade está com tenda na Praça Afonso Pena, no Centro, a fim de reunir apoio. Na segunda-feira, às 10h, a ONG irá protocolar oficialmente a reivindicação.
O grupo fica no local até conseguir cinco mil assinaturas, das 9 às 16h30, de segunda-feira a sábado. “Queremos a criação do S.O.S. Racismo, que ficaria subordinado à Câmara. Em paralelo, vamos trabalhar até conseguir as cinco mil adesões”, diz Côrrea. O objetivo é convencer os vereadores a apresentarem projeto de lei para criação do novo serviço.
Apoio. Único representante negro no Legislativo joseense, Antônio Dutra da Silva (PT), o Tonhão Dutra, adiantou a O VALE que a causa terá seu apoio. “Em São José dos Campos há muito racismo e racismo explícito. O pedido terá meu total apoio. É preciso um canal de acolhimento, um lugar para que as pessoas possam reclamar por seus direitos”.
Investigação. Côrrea recebeu na última quinta-feira telefonema de representantes do CPI-1 (Comando de Policiamento do Interior), solicitando encontro para ouvi-lo. A Polícia Militar abriu procedimento interno para apurar a denúncia feita por Côrrea. Segundo ele, na última sexta-feira, PMs teriam cometido racismo contra seu filho, Jefferson Côrrea, 20 anos, e seu genro, Fabiano dos Santos, 18, durante revista da corporação.
Contato. A Polícia Militar confirmou que um encarregado da investigação da denúncia ligou para Côrrea na quinta-feira. O contato, diz a corporação, “faz parte da oitiva do processo apuratório”. Côrrea, que será assistido por advogados do S.O.S Racismo da Assembleia Legislativa, disse que não deseja prestar depoimento na sede da PM local. “Vou deixar tudo a cargo dos advogados”, disse ele.
Repercussão. No mínimo 500 mil pessoas assistiram na internet a vídeos amadores que filmaram parte da ocorrência envolvendo a denúncia. “Não esperava tanta repercussão. Fiquei mesmo bastante surpreso. Acho que o povo brasileiro está ficando mais acordado, mais consciente. Os negros fazem parte da história de construção da nossa sociedade”, afirma.
Saiba mais
Abaixo-assinado
A ONG Afronorte está recolhendo assinaturas para a criação do departamento S.O.S Racismo. Apenas ontem, foram conquistadas 700 adesões
Persistência
Eles vão ficar na Praça Afonso Pena, no Centro, até que tenham angariado o apoio de
5.000 pessoas
Investigação
Côrrea foi convidado a comparecer na sede da Polícia Militar na quinta-feira. No entanto, só falará sobre o caso por meio de seus advogados
Cidade tem setor para defesa
A Prefeitura de São José dos Campos, por meio da Secretaria de Promoção da Cidadania, tem sob seu comando o “Departamento de Igualdade Racial”. Entre os objetivos do setor estão formular, articular e executar as políticas públicas de promoção da igualdade e proteção dos direitos dos cidadãos e grupos raciais. Mais informações: 3932-8600.
Fonte: O Vale