Coisas da Condição Humana e o tempo (final)

(Foto: Arquivo pessoal)

por Sérgio Martins

Tratava no meu último artigo sobre nossas angustias diante dos desafios de várias tarefas que assumimos diariamente e a percepção do tempo. Neste cenário sugeri um confronto entre a descontinuidade e a ruptura. A primeira se refere ao uso de melhores procedimentos de utilização de tempo, ou de fatores externos que interferem na continuidade de nossas rotinas, o que diz respeito, diretamente à qualidade de nosso trabalho e a forma como somos avaliados pelo mercado produtivo. A ruptura é um processo no qual conscientemente ou inconscientemente, o indivíduo, busca sua liberdade ou um bem estar na realização de seu trabalho.

Ora, afora nosso relógio biológico e a rotação da terra, a percepção do tempo é intrínseca à condição humana, que segundo Hannah Arendt difere-se da natureza humana, por tratar-se de formas de vida, que o homem impõe a si mesmo para sobreviver. Porém, acertadamente, Marx afirmava que as idéias surgem a partir das condições reais vividas por indivíduos reais dentro da história, diretamente influenciado pela divisão social do trabalho.

Assim, o ser produtivo é condicionado pela lógica da acumulação de riqueza dentro de um sistema altamente competitivo e sofisticado.

A substituição do sujeito produtivo pelo criativo foi uma das novidades trazidas pela revolução tecnológica, o que implica em uma percepção diferenciada do tempo, embora, o resultado do trabalho esteja ainda direcionado para acumulação de riqueza.

Se no período pós-abolicionista, os homens negros encontravam-se diante do desafio entre o trabalho agrário, a falta de qualificação e a competição com os imigrantes, hoje, as barreiras são bastante semelhantes, para os jovens negros aprisionados em escolas públicas, que ainda aplicam a metodologia do pensamento repetitivo para adestramento do sujeito produtivo; enquanto, as escolas privadas seguem a passos largos para o futuro.

Em algumas cadeias produtivas já não há mais candidatos para algumas atividades laborais. Os jovens têm preferido atividades que lhes proporcionam mais liberdade, ainda que em detrimento de rendimentos mensais e recursos previdenciários ou, em alguns casos, o próprio ócio.

Retornando ao debate inicial, penso que, a ruptura que muitos de nos desejamos com um modelo de trabalho meramente extensivo, está diretamente ligado à necessidade de liberdade reflexiva do indivíduo. Não se trata de uma liberdade meramente ficta, mas um aspecto da condição humana, que permita ao indivíduo produzir os frutos para sua sobrevivência, tendo tempo para partilhar a vida em outras interações sociais, inclusive as familiares.

A experiência vivida por mim no Portal Geledés, como voluntário, permitiu-me partilhar alguns ensaios de idéias, deste sujeito reflexivo, que habita em cada um de nos. Aproveito a oportunidade para comunicar que estarei ausente no mês de janeiro, porém estarei de volta regularmente nas quartas-feiras, se assim desejarem em fevereiro.

 

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Coisas da condição humana e o tempo – 1ª parte

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