Coletivo viajará com projeto educativo que tem tranças e turbantes como ferramentas

Todas são da capital de São Paulo. Denna Hill, 31, é da zona leste, bairro Guilhermina, Nina Vieira, 25, também é da ZL, mora na Vila Prudente. Lúcia Udemezue, 29, é de Pirituba, zona norte e Thays Quadros, 29, representa a Sul, ali no bairro da Saúde. Cantora e psicóloga, designer e fotógrafa, produtora e socióloga e produtora cultural, respectivamente. Este é o coletivo Manifesto Crespo, selecionado pelo prêmio Lélia Gonzalez – Protagonismo de Organizações de Mulheres Negras, lançado este ano pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM).

Do:  Mulher Negraecia

Formado em 2011 por jovens mulheres negras e com atuação na área cultural e educacional, entre os projetos desenvolvidos, destaca-se o Tecendo e Trançando Arte, oficinas que provocam reflexões sobre o cabelo crespo, a história e cultura africana. Direcionadas para mulheres, incluindo crianças, a iniciativa já atingiu mais de 700 pessoas, em São Paulo.

“Desde o nascimento do coletivo, atuamos bastante na capital e algumas cidades do interior. Agora, o Tecendo e Trançando Arte recebeu um direcionamento mais específico: fortalecer e nos aproximar de líderes femininas negras e indígenas muito importantes para o nosso trabalho e para a preservação da memória cultural”, disse Nina Vieira

Para este novo momento, o coletivo elegeu, em parceria com a União Popular de Mulheres do Campo Limpo, cinco locais para atuação. O primeiro deles foi o quilombo da Caçandoca, em Ubatuba, que recebeu as integrantes e 30 participantes da excursão no dia 6 de dezembro. As próximas viagens estão programadas para o primeiro semestre de 2015. Entre os destinos, está a aldeia Indígena Tenondé Porã, no bairro de Parelheiros (SP\capital), a Festa de São Benedito, realizada na cidade de Tietê, a Casa de Cultura Afro Fazenda da Roseira, em Campinas, e o Teatro Popular Solano Trindade, em Embu das Artes.

A escolha considerou o perfil de resistência racial, cultural e de gênero, elegendo corpos sociais que tenham mulheres na linha de frente das tomadas de decisões. “Para nós, o recorte racial é fundamental, exatamente para retratarmos a luta de mulheres submetidas a uma tripla exclusão: gênero, raça e classe”, complementou Nina.

Na primeira experiência, no Caçandoca, a oficina mobilizou mais de 30 moradores, com maioria de mulheres, mas uma representativa presença masculina. E entre as conversas, tranças e torços, lá estava Maria Gabriel do Padro, 71, uma das mulheres de referência na comunidade. Durante a oficina, ela reinou ajudando as outras participantes a torcerem seus turbantes.

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Dona Maria já atuou como presidente da associação, presidente dos amigos do bairro e técnica de futebol – do time masculino e feminino. “Todos os troféus que vocês viram na associação são meus”, disse com um sorriso no rosto enquanto lembrava. Perguntamos se ela também jogava futebol e a resposta foi: “Não, eu só mandava! Só ordenava!”, risos mais uma vez.

Ela contou que as mulheres estão sempre à frente, participando das reuniões, lutando junto com os demais na diretoria e na recepção de pessoas que vem de fora. Mas a fonte de renda não está no quilombo. No caso das mulheres, a função mais comum é de faxineira ou caseira, como aconteceu com Maria, que ainda sonha em ter um retorno financeiro sustentável das atividades que desenvolve com prazer no Caçandoca. E o outro sonho é ainda mais protagonista: “Ver minha neta formada, bem de vida”, disse com lágrimas nos olhos.

*O Nós, mulheres da periferia participou da excursão

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