A cada dez estudantes no estado de São Paulo, pelo menos três devem abandonar os estudos neste ano devido à pandemia. A previsão desoladora, cujas causas estariam no fechamento prolongado de escolas e na perda de rendimento das famílias, seria mitigada com transferência de renda e subsídios para que pais possam dar mais atenção à educação de seus filhos.
“A evasão escolar será uma catástrofe nacional”, diz Guilherme Lichand, professor de economia da Universidade de Zurique e doutor em economia política e governo pela Universidade Harvard. “Uma vez que o menino ou a menina saem da escola, você não traz de volta, mesmo fazendo muito esforço.”
Ele conduziu estudo que analisou dados de quatro bimestres escolares de assiduidade dos alunos, notas de boletim em matemática e português e pontuações de testes padronizados, em 2019 e 2020.
Segundo a pesquisa, o abandono escolar –que fica em torno de 10% em condições normais –deve aparecer em 2022, quando houver recenseamento dos estudantes.
“Nesse ano vai parecer que a evasão foi zero porque as redes basicamente rematricularam todo mundo”, diz o economista. Ele explica que seria incoerente não rematricular jovens que não apareceram na escola por medo da pandemia ou que não tiveram acesso à internet.
Antes do vírus afastar estudantes de salas de aula, Lichand pesquisava os motivos de pais não conseguirem investir na educação de seus filhos, principalmente em países em desenvolvimento. “Pais fazem planos de serem generosos, mas quando o futuro chega, a profecia não se cumpre” afirma.
Um dos fatores que impacta no baixo desempenho de estudantes seria a desatenção.
Inspirado pela abordagem comportamental da economia, popularizada por Richard Thaler, vencedor do Nobel de Economia em 2017, Lichand criou mecanismo para dar um “empurrãozinho” na atenção que pais, mães e os próprios estudantes dispensam aos estudos.
O mecanismo é nada mais que um SMS que chega duas vezes por semana. Os ‘nudgebots’, criados pela startup Movva, enviam mensagens sobre não desistir do sonho do diploma, conter a ansiedade, organizar o espaço de estudo e conciliar a aprendizagem com atividades urgentes da família.
“O nudge é um subsídio de atenção. Não estou te obrigando a prestar atenção à educação do seu filho, mas estou dando uma forcinha para que você faça uma escolha mais desejável”, afirma Lichand.
Esse reforço positivo está no cerne do livro “Nudge”, de Thaler. O economista detalha o conceito de que esses empurrõezinhos podem ajudar pessoas a tomarem decisões mais desejáveis, preservando sua liberdade de escolha.
Seria semelhante, como explica Lichand, a um subsídio de preços. “Assim como tornamos legumes mais baratos para incentivar a alimentação saudável, o nudge torna mais barato prestar atenção na vida escolar.”
Na rede pública do estado de Goiás, a Movva conseguiu reduzir o risco de evasão em 26% durante a pandemia. “Foi um impacto concentrado nos alunos de maior risco, em escolas mais pobres e menos preparadas para oferecer atividades online”, afirma.
Para o professor, o resultado mostra que nudgebots podem ajudar a reduzir o abandono escolar se aliados a esforços coletivos e, principalmente, governamentais.
“Diante de um Ministério da Educação que não dá apoio ao trabalho de estados e municípios, e com um ensino remoto que não é bom substituto, vamos precisar pensar para além da educação para mitigar esses custos”, afirma.
Lichand lembra que metade dos brasileiros perderam renda na pandemia e que adolescentes estão ajudando em casa por necessidade. E cita transferência de renda e perdão de dívidas como estímulo às famílias para que seus filhos continuem na escola.
“Conscientemente nenhum pai acha que sair da escola é o melhor caminho para seu filho, mas as famílias estão endividadas, perderam emprego e empregabilidade”, afirma o economista.
A Movva possuiu um milhão de usuários entre Brasil, Costa do Marfim e Gana. No Brasil, estudantes de 11 secretarias estaduais de educação e uma secretaria municipal recebem nudgebots regularmente, financiados por parceiros como Fundação Lemann e Banco Interamericano de Desenvolvimento.
“É nosso sonho que os 40 milhões de alunos brasileiros tivessem acesso à educação de qualidade, que passa por pais engajados e autoestima”, diz Lichand.
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