Com ode à mulher negra, cortejo do Ilú Obá de Min vira espetáculo no Centro de SP

Público brigou por espaço nas calçadas das ruas da Barra Funda para ‘assistir’ à passagem do bloco.

Por Lívia Machado, G1

Flores na cabeça, um glitter aqui, uma fantasia acolá. O domingo era de carnaval, mas no terceiro cortejo do bloco africano Ilú Obá de Min, a preocupação do público era outra. Com celulares engatilhados na câmera, os foliões acompanharam o desfile disputando um lugar próximo à bateria, composta por 350 mulheres, e abaixo dos homens e mulheres com pernas-de-pau representando diversos orixás. Ilú é bloco para assistir e ouvir.

Criado em 2006, ele abre o carnaval paulista há 12 anos. Há quatro, porém, vê seu público se multiplicar. A beleza do figurino e a força da bateria reforçam o propósito: o bloco-ong endossa em todas as canções a ode às mulheres negras e a valorização das culturas africana e afro-brasileira.

“Eu vim de longe, de muito longe, para deixar minhas raizes espalhadas em todo lugar”, alerta uma das músicas. “Eu sou filha de rainha, quem tem mãe não tem medo. Eu sou filha de rainha, da minha linhagem não faço segredo”, ensina outro refrão. Todas as canções entoadas são compostas pelas integrantes do Ilú.

Florence e Cris Blue (Foto: Lívia Machdo/G1)

Funcionária pública, Cris Blue, 56 anos, conheceu o cordão em 2007 por indicação de uma amiga. À época, eram apenas 30 mulheres. Entrou para a harmonia do cortejo, depois escolheu o agogô como instrumento, e nunca mais deixou de participar.

“O Ilú significa um resgate da minha ancestralidade. Uma força que a gente tem dentro da gente como mulher negra e que nos foi tirada”, explica.

Ela e a filha tocam juntas no bloco. Este ano, porém, Florence não conseguiu acompanhar os ensaios e acabou assumindo o papel de “guia” dos amigos. Ao lado dos foliões, a cantora de 26 anos explicava o significado de cada orixá e deixava escapar alguns spoilers: “Agora a bateria vai abrir para Xangô passar”. Mais um: “Vai começar um batuque que você vai adorar”, avisava.

Embora engajada atrás do cortejo, a jovem encarou a experiência com certa dor e espera conseguir voltar à bateria em 2018. O bloco, que abre espaço para mulheres brancas, mas visa dar voz às negras, tem um papel transformador na família. “Eu tenho uma história antes e depois do Ilú. A maior transformação foi o empoderamento. Encontrei uma irmandade”, revela Cris.

Bloco Afro Ilú Obá De Min (Foto: Livia Machado/G1)

Bloco Afro Ilú Obá De Min (Foto: Lívia Machado/G1)

Bloco Afro Ilú Obá De Min (Foto: Livia Machado/G1)

Bloco Afro Ilú Obá De Min (Foto: Livia Machado/G1)

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