Com sangue baiano-mineiro-negro-indígena, Dêssa Souza lança EP “Camadas”

Dêssa Souza (Foto: Will Cavagnolli)

Dêssa Souza cresceu em quintais de terra, com modas de viola tocadas ao vivo perto da fogueira por seu avô e tios-avôs. Nos bailinhos da família, ouvia Johnny Rivers ou Bee Gees direto dos vinis curtidos por seus pais, tios e tias.  Agora, misturando um tanto de sua alma interiorana com as batidas da cultura popular, do rap e da soul music, divulga seu primeiro EP, ‘Camadas’. Composto por 5 faixas, entre autorais e parcerias, registro apresenta essa que é uma mulher preta, mãe, artista, produtora, periférica, de sangue baiano-mineiro-negro-indígena, da poesia, do teatro, das descobertas constantes em torno da ancestralidade e bem mais.

Logo na abertura, ‘Meu Chão’ tem texto e som captados em casa pela própria cantora e sob orientação remota de Gago Ferreira, que trabalha a musicalização através de sons do cotidiano. “A proposta era desenhar algo intuitivamente e em seguida “ler” aquele desenho tal como uma partitura e executá-lo sonoramente. A porta veneziana do guarda-roupas virou um reco-reco e palmas com plásticos sendo amassados são o fundo musical do poema que tem vídeo acompanhando essa estreia”.

Em seguida, uma nova versão para ‘Dia de Vale’. “Esse som marcou a minha chegada no movimento de cultura da zona sul de São Paulo no ano de 2007. Foi gravada na coletânea do projeto Encontro de Compositores, do músico Gunnar Vargas, e desde então segue sendo tocada em saraus e festivais da Zona Sul. Apesar de já ter sido feita há 14 anos, continua muito atual e retrata o dia de trabalho de um homem e de uma mulher periférica”.

‘Afago à Distância’ foi inspirada em uma série de encontros para dançar ou assistir danças virtualmente no projeto Corpo Hospedeiro, realizado pela bailarina Maytê Amarante. A melodia traz um sambinha simples, com base eletrônica e vibrante, em uma tentativa de carinho para o momento de saudades e tristeza coletiva causadas pela pandemia de Covid-19.

Em ‘Rio Mulher’, Dêssa faz uma saudação às forças femininas que vieram antes e que abriram tantos caminhos pra que, agora, mulheres possam ser o que quiserem. “Essa foi escrita em parceria com o bailarino e ator Ton Moura, como parte da dramaturgia do espetáculo que está em construção pelo Bando Trapos, coletivo que participo”.

Fechando com um grito de liberdade, ‘Menina que Embala’ é um texto que nasceu como poema, em 2012, feito para a primeira antologia do Sarau do Binho. “Em novembro de 2019, em uma performance que co-criei e atuei, ele foi recitado pela poeta Nicoly Soares e, desde então, ficou o desejo de transformar aquilo em música. Em 2020, no período de afastamento social, eu concretizei – com arranjo de Augusto Iúna e Jonathas Noh. O resultado é um retrato breve do laranja e cinza das periferias. É dor, luta, mas também é amor de monte, é festa e sorriso. A mensagem é que nós mulheres merecemos ser o que somos, merecemos ser livres pra fazer o que quisermos e poder andar sem medo, sem medo de ter nossos corpos violentados e sem medo de que nossos filhes ganhem o mundo com confiança, sem que alguém os violente. E merecemos porque somos potência, porque a gente é que constrói o mundo com nossas mãos, somos nossas próprias bases e as bases de nossas comunidades”.

Disponível em todas as plataformas digitais, ‘Camadas’ foi construído coletivamente e com canções produzidas por Aghata Saan, Kenya20hz, Will Cavagnolli, Gabriel Alves e Jonathas Noh, do Quebrada Groove, que também é responsável pela masterização do projeto. O lançamento, realizado de forma independente, foi organizado pela coletiva articuladora cultural Pin Rolê Invenções. 

Ouça aqui: 

Dêssa Souza – Camadas (EP 2021) (Ficha técnica completa na descrição)

Assista aqui:

Vídeo Poema – Meu Chão (Ficha técnica completa na descrição)

Sobre a Dêssa Souza

Mãe, cantora, palhaça, artista de teatro e produtora cultural atuante desde 2006, integrou o movimento de arte e cultura da periferia sul da cidade de São Paulo no ano de 2008 como cantora da Banda Preto Soul. Em 2011, iniciou seus estudos de teatro, música e culturas tradicionais na Escola Popular de Teatro CITA, onde de aprendiz passou a ser integrante da “Trupe Artemanha de Investigação Teatral” até o ano de 2014. Na Banda Preto Soul caminhou ao lado por 10 anos. Já cantou na 40ª Feira do Livro de Buenos Aires, em parceria com o Sarau do Binho – coletivo que esteve ativamente envolvida entre  2008 e 2015. Esteve no projeto Casamento de Chiquinha e Luiz Gonzaga, com o Grupo de Choro Sapato Branco. Gravou na coletânea Mulheres Periféricas Cantam (SP, 2010) e na Coletânea Encontro de Compositores (SP, 2007). Colaborou com o Naipe de Percussões Ilá Dudu do Teatro Solano Trindade (Embu das Artes, SP) sob a direção de Vitor da Trindade. Co-criou o experimento cênico Gingas e Narrativas – 2019. Desde 2014 participa do coletivo teatral Bando Trapos e acaba de criar, dentro do grupo, um núcleo de estudos cênicos para trocas entre mulheres.

Atualmente, dedica-se ao lançamento de seu primeiro EP ‘Camadas’.

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE. 

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