Cantor mostra clássicos e músicas menos conhecidas durante apresentação
POR LEONARDO LICHOTE, do O Globo
A letra de “Tarde” completa o desejo de retorno da frase “Quero voltar” com o verso “Poder a saudade não ter”. Nesse sentido, a parceria do cantor com Márcio Borges (lançada em 1969) combina com a proposta do espetáculo batizado com o nome da canção, no qual Milton volta a clássicos da carreira num formato novo — baseado num duo de violões de sete cordas e contrabaixo acústico. O repertório do show — inicialmente marcado para 16 de dezembro, mas adiado por motivos de saúde para esta quinta, no Teatro Bradesco — também inclui músicas que o compositor e intérprete não cantava havia anos.
Milton explica que “Tarde” surgiu do desenvolvimento natural de trabalhos anteriores que já tinha feito com os violões dos irmãos Wilson e Beto Lopes — o contrabaixista Alexandre Ito completa a formação que o acompanha:
— Antes desse show ser intitulado “Tarde”, nome sugerido pelo jornalista e amigo Marcus Preto, a gente já tinha feito algumas experiências nesse formato. Junto com os irmãos Wilson (que também tocam viola caipira no show) e Beto Lopes, já tínhamos tocado uma vez no Espaço Tom Jobim e, depois, numa festa do Grammy Latino, na Miranda. E como nesses dois shows a aceitação do público foi bem bacana, decidimos seguir em frente e ver no que dava. Mas nada disso foi planejado com um objetivo específico, o show simplesmente aconteceu.
COMPONDO PARA DOIS DISCOS
A escolha do repertório — de sucessos como “Ponta de areia”, “San Vicente” e “Caçador de mim”, ao lado de menos conhecidas como “Idolatrada” e “Sueño con serpientes” (do cubano Silvio Rodrigues, que Milton gravou em 1980 num dueto com Mercedes Sosa) — segue a mesmo fluxo. Ou seja, pouco planejamento e muita intuição.
— São canções que se adaptaram muito bem nesse formato somente com violões sete cordas e o baixo de Alexandre Ito, que tem a característica de usar o arco em várias canções, como em “Idolatrada”, por exemplo, que eu não tocava havia muitos anos — detalha Milton. — Mas não há uma explicação, um motivo para retomar as canções. Elas é que vieram até a gente, “Sueño con serpientes”, “Cio da terra”, a própria “Tarde”… Tudo começou com a gente tocando sem preocupação de comercializar isso, é um encontro de amigos.
A criação dos arranjos, completa, segue a mesma lógica:
— Não costumo pensar em como o arranjo vai soar, que impacto ele vai causar etc. A gente vai tocando até chegar ao ponto crucial que nos deixe à vontade e, principalmente, feliz com a música. Só então a gente leva pro show. Nada é pensado de forma mecânica, se for assim não funciona.
O desejo de “poder a saudade não ter” não se revela somente no olhar renovado sobre a obra que produziu até aqui — uma história que inclui 40 álbuns, mais de 20 milhões de discos vendidos, cinco Grammys e a participação central na suave e contundente revolução do Clube da Esquina. Entre os novos projetos, além de um documentário sobre ele produzido pelo canal HBO e dirigido por Cleisson Vidal (com mais de 60 horas de filmagem feitas desde 2014), Milton tem escrito canções.
— Atualmente tenho dois projetos de discos sendo preparados sem muita pressa. Um deles já está todo gravado, e nesse eu escrevi umas sete letras para músicas de parceiros — diz o compositor. — Mas, como não tenho cobrança de gravadoras e tal, não sofro pressão nenhuma de lançá-los. Sendo assim, vai tudo no seu tempo.
“Tarde”
Onde: Teatro Bradesco — Av. das Américas, 3.900, Barra (4003-2051).
Quando: Amanhã, às 21h.
Quanto: De R$ 50 a R$ 200.
Classificação: Livre.