Comentário sobre cabelo faz jovem lançar campanha ‘#SomosTodasFuá’

O comentário “Nada ver # cabelo fuah (sic)” publicado após a postagem de uma foto da estudante Keisy Araújo, de 22 anos, em uma rede social fez com que ela criasse a hashtag ‘#SomosTodasFuá’.

A estudante, cujo perfil no Facebook é Megh Araújo, publicou uma foto dela com os cabelos soltos. No meio de tantos elogios, recebeu o comentário maldoso. A amapaense disse que vai registrar um boletim de ocorrências pelo caso que classifica de preconceito racial.

No dia 12 de outubro, a estudante publicou uma foto em que ela havia penteado os cabelos secos criando assim um volume nos fios. Após Megh receber comentários como “lindona” e “bonita”, uma moça que ela não conhece comentou: “Nada ver # cabelo fuah (sic)”.

Megh Araújo assumiu os cabelos naturais há quase 2 anos (Foto: Fabiana Figueiredo/G1)
Megh Araújo assumiu os cabelos naturais há quase
2 anos (Foto: Fabiana Figueiredo/G1)

“Eu sempre tentei não ligar para esses tipos de comentários que rolam muito. Só que isso foi enchendo o saco, até que essa menina fez o comentário, justamente em uma semana que eu estava emocionalmente mal. Então resolvi desabafar”, explicou Megh.

No mesmo dia, a amapaense compartilhou fotos que mostravam os comentários. Em seguida, fez um post de desabafo.

“Me senti mal porque vieram lembranças de quando eu era criança e sofria com apelidos e brincadeiras de mau gosto, são coisas que espero um dia esquecer, há uma semana aconteceu de novo, só que dessa vez pessoalmente e por uma pessoa mais velha, e essas coisas já estão se tornando rotineiras, esses comentários maldosos e as brincadeiras de mau gosto, e eu sinceramente não quero isso de volta em minha vida”, relatou a jovem na nova postagem.

Megh contou que alguns episódios marcaram a infância dela. Quando leu o comentário ela diz que lembrou, por exemplo, de quando um colega apagou o que estava escrito no quadro da sala de aula com o cabelo dela; e quando meninas jogaram papel em seu cabelo dizendo que ele parecia uma lã de aço.

Amigos e desconhecidos aderiram à campanha #SomosTodosFuás (Foto: Reprodução/Facebook)
Amigos e desconhecidos aderiram à campanha #SomosTodosFuás (Foto: Reprodução/Facebook)

Ao saber do caso, a amiga da estudante, Stefanie Souza, também de 22 anos, decidiu criar a hashtag “#SomosTodasFuá”, postando fotos dos cabelos cacheados e crespos nas redes sociais.

“Sou negra, quilombola, participo de movimentos sociais de mulheres negras e sempre sabemos de casos de injúria racial, de preconceito relacionados ao nosso modo de vestir, a forma como utilizamos o cabelo. Então pensei que tem que dar um basta nisso. Temos que acordar a sociedade para respeitar o nosso modo de ser. Se ela chamou a Keisy de cabelo ‘fuá’, todas nós somos fuás”, explicou Stefanie.

Cantora Brenda Melo aderiu à campanha contra preconceito racial (Foto: Brenda Melo/Arquivo Pessoal)
Cantora Brenda Melo aderiu à campanha contra
preconceito racial
(Foto: Brenda Melo/Arquivo Pessoal)

A campanha foi ganhando repercussão e muitos internautas foram compartilhando fotos, aderindo ao movimento. Inclusive cantoras amapaenses e blogueiras de outros estados, além de pessoas que não têm cabelos cacheados ou crespos.

“Essa foi uma proposta de tentar fazer essas meninas verem que elas podem deixar os cabelos naturais. Sabemos que muitas têm medo dos comentários, do que a própria família fala. Estou muito feliz em relação a repercussão disso tudo. A partir do momento em que uma dá voz, as outras se sentem representadas e fortalece o movimento contra o preconceito. Muita gente fala que é só cabelo. Realmente era para ser só cabelo, algo simples. Só que muitos fazem com que pareça que não seja só cabelo, algo muito além disso, como se a gente devesse não estar usando cabelo crespo”, disse Megh.

Transição capilar
A estudante disse ter alisado os cabelos aos 12 anos, porque não aguentava mais os comentários. Cansada de usar chapinha todos os dias durante 8 anos, em 2014 ela decidiu voltar a ter os cabelos naturais, passando por um processo de transição capilar.

Megh assumiu o cabelo crespo há um ano e seis meses. Nesse tempo, ela diz que voltaram os comentários maldosos, mas que tenta pensar no lado positivo de toda essa situação.

“A vaidade da mulher está em se arrumar com maquiagem, com o cabelo. Quando cortei, fiquei mal. Mas depois encontrei outras meninas que me inspiraram. E hoje eu quero ser inspiração”, concluiu a estudante.

Foto em destaque: Reprodução/ G1

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