Como explicar pra minha filha pequena homens defendendo ditadura?

Pequenina amorinha,

por  no Brasil Post

Quando passeávamos pela Avenida Paulista no dia 12 de abril de 2015 flagramos algo muito, mas muito feio mesmo. E nosso dever é fazer uma denúncia pública e urgente. Vamos aproveitar esse espaço:

“Ao longo dos quarteirões entre a Praça do Ciclista e a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, minha pequena filha e eu testemunhamos pessoas defendendo a ditadura militar. Eles estavam vestidos com a camisa da seleção brasileira de futebol, e munidos com, segundo minhas contas, sete caminhões de som com os dizeres desavergonhados pedindo intervenção militar. Por isso, venho publicamente denunciar aos órgãos cabíveis o crime de apologia à tortura, intolerância e terror.”

Ufa, denúncia feita. E por sorte, formiguinha, muitos veículos de imprensa estavam presentes e não será difícil identificar os criminosos. Isso tudo ocorreu, em plena luz do dia, aos olhos da polícia militar, inclusive. Imagino que a PM estivesse fazendo algum trabalho de inteligência, mapeando os criminosos para depois prendê-los. Muitos, inclusive, sagazmente posavam para selfies junto aos meliantes. Acredito ser uma tática de infiltrar no movimento e identificar as lideranças. Só pode.

Sabe, meu bichinho bonito, para além de legalismo e ironia, precisamos falar sobre o que presenciamos. É o tipo de coisa que faz pensar “Como explicar pra minha filha pequena, homens defendendo ditadura?”

Meu papel como pai, você sabe, é te ensinar que o amor triunfará. Que devemos amar ao próximo e sermos tolerantes com todos. E que empatia é fundamental.

Por isso, minha coisinha, é tão difícil explicar o que vimos.

Essa é a segunda manifestação massiva de “Fora, Dilma”, Já expliquei o motivo de não termos ido na primeira aqui. Nessa, antes de ir pro plantão, resolvi dar uma passadinha por lá. Curiosidade jornalística apenas.

Enquanto você dormia tranquilamente no carrinho, vi dois vendedores ambulantes com camisetas que diziam: “Sou camelô, mas não votei no PT.” Eles vendiam açaí gritando o slogan: “Para Dilma sair, peça AÇAÍ” Achei engraçado. Era cedo e as pessoas começavam a chegar. Tinham famílias e pessoas que sorriam diante de sua fofura sem fim.

Basicamente, um mundão de gente chegando ao ato e defendendo mil coisas, mas de maneira seletiva. O fato de as pessoas estarem lutando por algo, por si só, é louvável, mesmo que não concordemos. O que é inconcebível é a conivência dessa aparente maioria que discorda da presidenta com a turma que quer milicos no poder. Ninguém pode julgar aceitável andar lado a lado com quem defende tortura e assassinato.

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O espetáculo de ontem, como o anterior, foi algo tão detestável, que dá até vontade de defender o PT só para marcar oposição ao show de horror. Tipo, se o mais distante disso é o petismo, então que seja. Mas é absurdo, estamos bem à esquerda do PT, meu amor. É meio como quando um monte de gente chata e hipócrita fala pro papai parar de fumar. Dá até vontade de fumar até morrer para me distanciar daquilo lá. O que obviamente é burro a valer. Cigarro segue matando. O governo segue distante das lutas populares.

Biscoitinho, a gente não tem nada que ver com nenhum grupo que foi a tal micareta verde e amarela. Mas respeitamos a onda política de todos. Exceto a dos defensores da tortura.

Esses monstros, que diferente dos que vivem embaixo da cama ou dentro do armário, existem. E estão se multiplicando como Gremlins. Só que ao contrário dos filmes em que se multiplicam com água, os que vivem em São Paulo preferem a seca. Quanto menos água, mais monstrinhos.

Olha, você sabe, papai defende a liberdade sempre. A liberdade de expressão também, obviamente. O que não quer dizer, besourinho, que devemos tolerar vermes pedindo ditadura militar. Não! Isso, não. Veja, o fato de termos liberdade de expressão não significa “liberdade” para oprimir, ou defender a opressão. Pelo contrário. Liberdade caminha junto com responsabilidade, bom senso.

Por exemplo, ninguém pode falar coisas racistas. Isso é crime, sujo e burro. E não liberdade. Pessoinha, saiba desde já, lutaremos contra qualquer um que diga coisas racistas, homofóbicas, xenófobas, machistas, misóginas, preconceituosas. Ou seja, liberdade de expressão não é liberdade para oprimir. Defender intervenção militar entra nesse balaio. Defender ditadura é gritar contra a liberdade, e isso não é tolerável.

Pois bem, minha linda pequenina, peço desculpas por ter te trazido para um mundo que permite gente careta e covarde defendendo livremente a ditadura. Mas, pessoinha, precisamos de você aqui do lado do amor.

Sua vinda a esse mundo só ilumina e dá força. Espero te retribuir à altura essa força.
E sim, existe muito amor e liberdade. E juntos, pequenina, estaremos bem.

Amor anárquico, livre e eterno,

Papai.

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