Aos 21 anos, Jordan Kunzika é um dos co-fundadores da BAE (Before Anyone Else), uma aplicação de encontros lançada nos EUA à medida do perfil de homens e mulheres negros. Em busca do par ideal para contar esta história.
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Elas têm menos 20% de probabilidades de serem escolhidas, enquanto a taxa de rejeição deles pode rondar os 27%. Num cada vez mais popularizado mundo dos encontros virtuais, negras e negros tendem a ser preteridos por brancas e brancos, revela um estudo do site de encontros OK Cupid, indissociável das inquietações que conduziram ao lançamento da aplicação de encontros BAE.
Nascida em Abril de 2015 nos EUA, por iniciativa conjunta de Jordan Kunzika e dos irmãos Justin e Brian Gerrard, a ferramenta foi desenvolvida para promover a inclusão da comunidade negra no mundo dos encontros online.
“Em apenas um ano entrámos para o top 50 de aplicações de lifestyle em 10 países africanos e em igual número de estados caribenhos”, congratula-se o co-fundador Jordan Kunzika, já de clique apontado à próxima meta.
“Em África estamos na Nigéria, Tanzânia, Gana, Senegal, Quénia, Zimbabué, Uganda, Namíbia, Botswana e Libéria, e, apesar de não termos um mapa de expansão, vamos definitivamente tentar com que a BAE também chegue a Angola”, assinala ao NJ online este filho de emigrantes angolanos, e neto do falecido nacionalista Emanuel Kunzika.
Desde o final de 2014 às voltas com o desenvolvimento daquela que pretende ser a aplicação de encontros número um para a comunidade negra, Jordan recusou duas propostas de emprego de dois gigantes da área tecnológica: Microsoft e Google.
“A aplicação já estava a funcionar há cinco ou seis meses quando recebi os convites”, conta o estudante de Ciência da Computação da Universidade de Dartmouth, sem ponta de arrependimento.
“Todos os dias há um “bug” para ultrapassar, um problema para resolver. E o mais engraçado é que na fase inicial de uma startup [empresa nova, normalmente de base tecnológica] a maioria dos desafios envolvem tarefas adicionais ao nosso “caderno” de responsabilidades”.
A aprendizagem diária, segundo relata Jordan, evolui desde cedo no domínio dos gadgets. “Sempre fui fascinado por tecnologia e pelo impacto que pode ter na melhoria da qualidade de vida, através da combinação de um hardware cada vez mais reduzido com um software cada vez mais inovador”.
O entusiasmo ganhou impulso no ensino secundário, a partir da disciplina “Animação e Programação”, ponto de partida para criar realidades a 3D e interactivas.
“Desde cedo me inspirei em construir coisas novas, e essa orientação despertou em mim a paixão para mudar o mundo através do empreendedorismo tecnológico”.
O “empurrão” de Steve Jobs e a aposta em Angola
O desejo consolidou-se com um “empurrão” de Steve Jobs. “Uma das suas frases continua a marcar-me: ‘É o casamento da tecnologia com as artes liberais e com as humanidades que permite ao nosso coração cantar'”.
Na leitura de Jordan, a mensagem do “cérebro da Apple” tem sido o combustível para ir ao encontro do ambicionado destino: “Ser capaz de aliar a inovação tecnológica às necessidades humanas”.
Mas o incentivo não se esgota em Jobs. “Cresci sem figuras que se parecessem comigo no mundo tecnológico” e, “quando olho para trás, vejo que muitas vezes era o único afro-americano nas aulas de Ciência da Computação”.
A experiência solitária acabou contudo por surtir um efeito estimulante nas escolhas deste herdeiro de angolanos, nascido nos EUA há 21 anos. “Percebi que estava nas minhas mãos optar entre deixar que isso me afectasse de forma negativa ou permitir que me motivasse a alcançar o sucesso, para que aqueles que viessem atrás se pudessem rever em mim”.
O compromisso segue bem encaminhado com a BAE: A aplicação recebeu 80 mil dólares, em serviços e meios, do programa do Facebook de apoio às startups.
Para além do valor, a aplicação valeu aos co-fundadores o convite para participarem numa conferência associada à rede social – F8 Developer”s Conference.
“Fomos seleccionados para testar um dos seus novos produtos, chamado AccountKit, que permitirá, em breve, o acesso à BAE sem necessidade de associar uma password ao email”, antecipa Jordan, que não hesita na escolha do campo que gostaria de explorar no país de sangue.
“Se me desafiassem a desenvolver uma aplicação em Angola, provavelmente trabalharia a área da Educação, que sempre foi um pilar na minha família”, assinala o empreendedor, destacando as vantagens da aposta neste sector.
“Sinto que beneficiei verdadeiramente da Educação que tive a oportunidade de receber aqui nos EUA, por isso gostaria de retribuir, proporcionando aos estudantes angolanos uma experiência educativa reforçada”. Ou uma viagem à boleia de outra máxima de Steve Jobs: “Eu acho que [a tecnologia] fez o mundo ficar mais próximo e continuará a fazê-lo”.