Contra nova gripe, crianças em idade escolar deveriam ser vacinadas primeiro

Conclusão é de pesquisa da Universidade Yale, que inclui jovens adultos.
Medida racionalizaria imunização e seria mais efetiva para conter pandemia


Nada de grávidas ou pacientes imunodeprimidos. Crianças em idade escolar, a partir dos 5 anos, e adultos entre 30 e 39 anos de idade é que deveriam ser prioridade nas campanhas de vacinação contra a nova gripe. Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Yale, nos Estados Unidos, analisaram o perfil epidemiológico das pandemias de gripe espanhola, em 1918, e da gripe asiática, em 1957, e concluíram que as autoridades de saúde devem focar seus esforços nesses dois públicos para obter melhores resultados na prevenção contra o vírus A (H1N1), que matou mais de 1,7 mil pessoas neste ano, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.

 

O estudo, publicado na edição desta quinta-feira (20) da “Science”, aponta que as crianças em idade escolar são as maiores responsáveis pela transmissão do vírus e seus pais servem como pontes para a disseminação para o resto da população. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores construíram um modelo matemático analisando dados como mortes, infecções, anos perdidos de vida, custos econômicos e avaliação do contingente de contaminados em pandemias passadas, como a da gripe espanhola e da gripe asiática.

 

{xtypo_quote}Essas pandemias (de 1918 e 1957) oferecem os melhores dados sobre qual proporção da população nós podemos esperar que serão infectadas em um novo surto e quantas morrerão. Os dados anuais da gripe sazonal são mais limitados {/xtypo_quote}

 

De acordo com Jan Medlock, matemático da Universidade Clemson, nos EUA, e um dos autores da pesquisa, as pandemias passadas podem fornecer aos pesquisadores uma ideia da mortalidade da pandemia causada pela nova gripe. “Essas pandemias oferecem os melhores dados sobre qual proporção da população nós podemos esperar que serão infectadas em um novo surto e quantas morrerão. Os dados anuais da gripe sazonal são mais limitados”, disse Medlock ao G1.

 

O pesquisador diz esperar que o governo americano possa adequar a vacinação contra a nova gripe à população descrita em seu estudo. “O comitê consultivo em práticas de imunização do CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças) recomendou a vacinação de pessoas entre 6 meses e 25 anos contra a nova gripe. Mas o próprio órgão ainda não adotou essa recomendação. Gostaria de ver as crianças de 6 meses a 5 anos excluídas da vacinação até que estejam frequentando a escola”, disse o pesquisador.

{xtypo_quote}Com novo critério, 22 milhões de doses do imunizante poderiam ser economizadas por ano{/xtypo_quote}

 

A pesquisa também conclui que, se o CDC, órgão responsável pelas políticas de saúde pública nos EUA, adotar esse parâmetro de vacinação para a gripe sazonal, 22 milhões de doses do imunizante poderiam ser economizadas anualmente. “Por ano, mais de 100 milhões de doses da vacina para a gripe sazonal são produzidas nos EUA, embora tenhamos visto problemas nessa produção no passado e há rumores nas agências do governo de que a produção do imunizante contra o vírus A (H1N1) está sendo realizada mais lentamente do que o esperado”, afirmou Medlock.

 

No Brasil, a produção da vacina contra a nova gripe começa em outubro no Instituto Butantan , em São Paulo. O laboratório recebeu investimentos de R$ 100 milhões para a construção de uma fábrica para a produção da vacina da gripe sazonal e, agora, da nova gripe. No início de 2010, os primeiros lotes de um total de 30 milhões de doses começarão a ser entregues ao Ministério da Saúde para a campanha de vacinação que ainda não está definida, mas deve se centrar fundamentalmente em profissionais de saúde, por estarem expostos à doença no ambiente hospitalar, e gestantes.

{xtypo_quote}Há vinte anos o Japão faz isso com grande sucesso{/xtypo_quote}

Para o presidente do Butantan, Isaías Raw, no entanto, a vacinação de crianças em idade escolar é fundamental. Ele explica que o país que obteve maior sucesso com a medida foi o Japão. “Há vinte anos o Japão faz isso com grande sucesso e a conclusão de um estudo analisando os resultados desse período mostram que as crianças não têm pneumonia nem otite (inflamação no ouvido)”, explica Raw. “Elas são as condutoras do vírus da escola para os pais.”

 

Segundo ele, caso a medida seja adotada no Brasil, poderia resultar em economia para os cofres públicos. “Essa ideia de gastar R$ 1 bilhão em vacina para pneumonia é para se pensar”, diz, referindo-se à inclusão da imunização contra pneumonia infantil no calendário vacinal brasileiro.

 

Neste ano, o próprio Isaías sugeriu ao ministério a inclusão das crianças no calendário vacinal contra a gripe sazonal. “No próximo ano ainda não vai ser possível, mas creio que em 2011 elas já poderão receber a vacina”, afirma.

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