COP27 terminou sem muitos motivos para comemoração

Desafio de obter consenso em torno de temas complexos marca momentos finais da conferência do Clima

FONTEFolha de São Paulo, por Sharah Luciano
Visão geral do plenário da COP 27 - Imagem: Xinhua/Sui Xiankai

A 27° Conferência das Partes, a COP27, que prometeu ser a da definição da implementação dos acordos anteriores, carregando o “together for implementation” (juntos para implementação) em seu lema, corre o risco de não entregar na íntegra parte de suas promessas.

Após as últimas quatro edições serem realizadas em países do Norte Global, esperava-se que o conhecimento da gravidade da crise climática combinada a uma possível pressão que os países do Sul Global pudessem exercer estando em solo africano refletissem um tom de urgência dentro das resoluções.

O financiamento para ação climática, grande ponto de discussão, é um dos temas incômodos que tem comprometido a geração de consenso na reta final de negociações. É válido lembrar que esse não é um tema novo, pelo contrário, foi prometido pelos países ricos aos países em desenvolvimento em 2009, na COP15, na Dinamarca.

Outra temática importante é o de perdas e danos que, apesar de ter tido pela primeira vez espaço nas mesas de discussão, também segue indefinido em torno dos mecanismos de compensação a serem adotados.

Movimentações sul-americanas

A revitalização e proteção da floresta Amazônica fez parte dos chamados dos presidentes da Colômbia e da Venezuela. Em encontro, realizado na primeira semana de negociações, Gustavo Petro e Nicolás Maduro fizeram um apelo aos nove países “banhados” pela Amazônia pela preservação da floresta. Petro já havia anunciado anteriormente que a Colômbia mobilizaria anualmente U$$ 200 milhões para a conservação da Amazônia.

Expectativa diante do novo governo brasileiro

O anúncio da vinda do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva a convite do presidente do Egito, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, gerou grande burburinho a respeito de qual seria a mensagem que o líder desse “novo Brasil” transmitiria ao mundo. Acenando para uma volta do Brasil à agenda do clima, a participação de Lula na COP incluiu uma série de reuniões bilaterais, pronunciamentos e encontro com a sociedade civil.

Em seu discurso, Lula disse que o Brasil está de volta “para combater com determinação as mudanças climáticas”, “cooperar com os países latinoamericanos e africanos”, “cobrar financiamento climático dos países ricos aos países emergentes”.

Além disso, se comprometeu com a adoção de esforços “para zerar o desmatamento e a degradação dos biomas”, “criar o ministério dos povos originários” e realizar a transição energética, investindo “em energia solar, hidrogênio verde e biocombustíveis”.

O presidente eleito também aproveitou a ocasião para declarar abertamente que pretende levar a COP 30, em 2025, para um estado amazônico.

Participação do movimento negro, indígena e de juventudes brasileiras

A presença de uma expressiva comitiva do movimento negro no Egito, representado por organizações, como Conaq, Uneafro, Coalizão Negra por Direitos, Instituto Marielle Franco, Instituto Perifa Sustentável, Confluência de Pesquisa Iyaleta, entre outros, repetindo o feito de Glasgow, na COP passada, e a realização de uma incidência bastante qualificada que tem pautado a titulação de terras quilombolas e a adaptação como chaves de ação para combater a emergência do clima e o racismo ambiental, reafirmam a consolidação do movimento dentro da agenda clima.

Em fala no Brazil Climate Action Hub, pavilhão da sociedade civil na COP27, a jovem ativista indígena Txai Suruí disse que “é preciso construir políticas que fiquem”. Ao se referir ao Ministério dos Povos Originários, anunciado pelo presidente eleito, a liderança afirmou que este precisa estar além da representatividade.

Juntas, 16 organizações de juventudes brasileiras divulgaram uma carta aberta ao presidente eleito e aos representantes do próximo governo. O documento reúne 13 propostas, entre elas a criação de um Conselho Nacional de Juventudes pela Ação Climática, com atuação interministerial e deliberativa, e com acesso a um orçamento específico para ações diretas nos territórios e comunidades.

O futuro da humanidade está em jogo

A morosidade dos países em prover as medidas necessárias para enfrentar a crise climática tem passado a falsa impressão de que o mundo dispõe de algum tempo a perder, o que é absurdo, principalmente porque já se tem dados que comprovam o contrário. De maneira concreta, essa lentidão e inação têm resultado em tragédias climáticas que todos os dias ceifam vidas.

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