Corrupção policial incita crime, diz secretário

Brasil, São Paulo, SP. 20/11/2006. O ex-procurador da Justiça, Antônio Ferreira Pinto, é visto durante cerimônia na qual foi apresentado como novo secretário da Administração Penitenciária, pelo governador eleito, José Serra (PSDB) no auditório do Centro Integrado da Administração do Estado, na Rua Boa Vista, centro da capital paulista. Antonio Ferreira Pinto assumiu a vaga de secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), deixada por Ronaldo Marzagão que alegou "motivos pessoais", em março de 2009. - Crédito:JOSÉ PATRÍCIO/AGÊNCIA ESTADO/AE/Codigo imagem:37104

– MARIO CESAR CARVALHO –
Fonte: Folha de São Paulo

 Crédito: JOSÉ PATRÍCIO/AGÊNCIA ESTADO/AE

A Secretaria da Segurança de São Paulo afastou 120 policiais de duas delegacias por suspeitar que estão envolvidos em crimes de extorsão, corrupção e ligação com o crime organizado. O afastamento faz parte da política do novo secretário da Segurança, Antonio Ferreira Pinto, há 57 dias no cargo -que está no governo desde junho de 2006, quando assumiu a Administração Penitenciária.

Sessenta dos afastados são do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) e o restante do Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado). O Denarc tem 388 policiais e o Deic, 1.173.

No caso do Denarc, havia a suspeita de ligação de policiais com o tráfico de drogas.

No segundo caso, a secretaria tinha indícios de que policiais da 2ª Divecar (Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos de Veículos e Cargas), uma divisão do Deic, davam cobertura a ladrões de carga.

Ferreira Pinto, 65, promotor e ex-capitão da PM, afirma que o combate à corrupção policial é uma de suas prioridades. Ele diz que uma das hipóteses para o aumento da criminalidade neste ano são desvios da polícia -no primeiro trimestre o latrocínio (roubo seguido de morte) subiu 36% e o roubo de veículos, 33%, sempre em relação ao mesmo período de 2008.

“Só poderemos ter uma polícia eficaz no combate à criminalidade se reduzirmos os índices de corrupção que existem”, disse em entrevista à Folha.
Sem citar nomes, o secretário faz referências à série de escândalos da gestão de seu antecessor, Ronaldo Marzagão, que foi afastado pelo governador José Serra (PSDB) por não conter a escalada da corrupção.

O Denarc ficou famoso por elevar o padrão da propina cobrada de traficantes para um patamar acima de US$ 1 milhão. O megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía contou à PF em agosto de 2007 que policiais do Denarc tomaram cerca de US$ 1,2 milhão (pouco mais de R$ 2,4 milhões), mais dois veículos, para que ele não fosse preso.

Outro caso do Denarc que virou motivo de piada foi a prisão do traficante colombiano Ramón Manuel Yepes Penagos, conhecido como El Negro.
Apesar do sotaque espanhol, o colombiano ficou preso como se fosse brasileiro, com um RG de uma mulher de Borda do Campo (MG). Ele declarou à Polícia Federal ter pago R$ 400 mil à Polícia Civil.

O próprio ex-chefe do Denarc, o delegado Everardo Tanganelli Jr., está sob investigação do Ministério Público sob suspeita de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito. Ele ganha um salário de R$ 8.000 e teria um patrimônio de R$ 4,5 milhões, segundo promotores.

Tanganelli Jr. foi substituído pelo delegado Eduardo Hallage, considerado pelo secretário como “um símbolo” da polícia. Ele ficou afastado seis anos da cúpula da polícia por se negar a prestar favores a seus superiores quando dirigia a academia.

 

BMW é acinte
Ferreira Pinto diz que “é um acinte” delegado que vai trabalhar de BMW ou Audi, carros que não poderiam comprar com seus salários -R$ 7.000 em média para os que estão há dez anos no cargo.

E diz não acreditar nos que justificam esse padrão dizendo ser donos de empresas de segurança. Para ele, muitas delas servem como fachada.

O trabalho investigativo deve ser a prioridade da Polícia Civil, segundo Ferreira Pinto. Ele já começou o desmonte de setores especializados que considera desnecessários: o GOE (Grupo de Operações Especiais), criado para reprimir rebeliões, e o Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos). Eles só serão reagrupados quando houver necessidade.

Cerca de 300 policiais desses grupos serão transferidos para delegacias com a missão de investigar, segundo o secretário.

“Devemos investir maciçamente na polícia territorial e abandonar um pouco essa ideia de delegacia especializada. São Paulo tem até delegacia do idoso, que nada mais é do que um local de castigo para policiais que entram em conflito com setores da polícia”, diz.

Devem ser extintas a Delegacia do Idoso e a Delegacia de Ordem Sindical e de Acidentes de Trabalho, “que dá ensejo a desvios policiais”. Será recriada a Delegacia do Consumidor, que tratará também de crimes ambientais e de saúde pública.

Para o secretário, a investigação desse tipo de crime nos distritos criou uma distorção: os policiais deixaram de lado a apuração de crimes perigosos porque envolvem mais riscos.

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