COVID-19: crises de ansiedade afetaram 63% dos jovens no último semestre

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Crédito: Getty Images/iStockphoto

Foi publicada nesta terça-feira (27) a pesquisa “Juventudes e a Pandemia: E agora?”, publicação que conta com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

O levantamento ouviu mais de 16 mil jovens sobre saúde, educação, trabalho, democracia e redução das desigualdades.

Para 63% dos participantes, educação deve ser prioridade para os governantes. Fortalecimento do SUS, recuperação econômica e ações contra a fome também são destaque.

Pesquisa mostra ainda impacto persistente na saúde mental: 63% relatam ansiedade e 47% pedem acompanhamento psicológico na saúde pública.

Diante dos efeitos da pandemia no país, o que os jovens esperam dos governantes? Educação, combate à fome, fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e recuperação econômica são os temas prioritários para esta população, segundo apontou a pesquisa “Juventudes e a Pandemia: E agora?”, que ouviu mais de 16 mil jovens de todo o país. 

Esta é a terceira edição da série de pesquisas “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus”, realizadas também em 2020 e 2021. As três edições juntas somam mais de 118 mil respostas. Na edição de 2022 foram ouvidos 16.326 jovens de 15 a 29 anos, entre os dias 18 de julho a 21 de agosto de 2022. 

Após o isolamento social e a vacinação contra COVID-19, o levantamento ouviu as juventudes para entender os impactos, os hábitos adquiridos e as prioridades para a saúde, educação, trabalho e renda. E, diante do período eleitoral, também foram feitas perguntas sobre o fortalecimento dos processos democráticos. 

A terceira edição da pesquisa é coordenada pelo Atlas das Juventudes e realizada em parceria com Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE), Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Rede Conhecimento Social, Mapa Educação, Porvir, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e Visão Mundial, com apoio de Itaú Educação e Trabalho, GOYN-SP e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). 

“A pesquisa revela alguns dos principais anseios e aspirações dos jovens, além dos impactos da pandemia em suas vidas. Esse é um processo que temos conduzido ao longo de três anos com centenas de milhares de jovens e poderá contribuir para a definição de prioridades na escolha de que projeto de desenvolvimento e políticas públicas as juventudes querem para o nosso país”, comentou o coordenador-geral do Atlas das Juventudes e presidente do Conselho Nacional da Juventude, Marcus Barão.

De acordo com os jovens, as prioridades são educação (63%), saúde (56%), seguido por economia, trabalho e renda (49%) e a redução das desigualdades (25%). Se fossem governantes, os jovens dizem que investiriam em fortalecimento da educação, combate à fome, fortalecimento do SUS e planejamento para a recuperação econômica. 

Ansiedade – A pandemia impactou fortemente a saúde mental de jovens: seis a cada dez participantes da pesquisa passou ou vem passando por ansiedade nos últimos seis meses e metade sente cansaço e exaustão frequentes como efeitos da pandemia. No levantamento, 18% dos jovens relataram depressão e 9% automutilação ou pensamento suicida. Na Educação, 55% dos jovens sentem que ficaram para trás em termos de aprendizagem, como consequência da pandemia. E 11% ainda pensam em deixar de estudar nos últimos seis meses, enquanto 34% já pensaram, mas não querem mais parar.

Durante os anos da pandemia, parte dos jovens chegou a interromper os estudos em algum momento: em 2020, foram 28%; em 2021, 16% e em 2022, 3%. Já em termos de hábitos adquiridos durante a pandemia na educação, quase sete a cada dez citam o uso de tecnologias para estudar, e cinco a cada dez relatam usar a internet para aprofundar os assuntos além do que é trabalhado em sala de aula pelos professores. 

Para enfrentar os efeitos da pandemia no mundo do trabalho, jovens citam como ações prioritárias a oferta de cursos para a qualificação profissional e editais para fomento de projetos das juventudes. 

Veja as principais conclusões do estudo por área:

Vida pública:

  • Nove a cada dez jovens defendem a democracia e oito a cada dez concordam que a pandemia deixou as pessoas mais atentas à política. 
  • 82% irão votar nas próximas eleições, mas quase sete a cada dez estão pessimistas em relação ao comprometimento dos políticos com a sociedade. 
  • A carreira política, no futuro, atrai apenas 4% dos jovens. 
  • Segundo as juventudes, os candidatos devem priorizar a educação (63%), a saúde (56%), a economia, trabalho e renda (49%) e a redução das desigualdades (25%). 
  • Se fossem governantes investiriam em plano de fortalecimento da educação (32%), ações de combate à fome (30%), ações para fortalecimento do SUS (27%) e plano para a recuperação econômica (27%). 

Saúde

  • Observa-se forte impacto da pandemia na saúde mental das juventudes. Para 82% dos jovens a pandemia ainda não acabou e para quase cinco a cada dez, a principal preocupação permanece relacionada ao receio de perder familiares ou amigos. E quase quatro a cada dez se preocupam com a possibilidade de outras pandemias ou tem receio de passar por dificuldades financeiras. 
  • Diante dessas preocupações, seis a cada dez jovens pesquisados passaram ou vêm passando por ansiedade nos últimos seis meses. Mais de cinco a cada dez relatam que a pandemia também intensificou o uso exagerado de redes sociais. E 50% sentem cansaço e exaustão frequentes como efeitos da pandemia. E 44% vivem a falta de motivação para as atividades cotidianas. 
  • O agravamento da saúde mental levou quase três a cada dez a utilizar aplicativos de saúde mental nos últimos três meses. E as atividades que eles mais demandam para conseguir manter a saúde mental estão relacionadas à psicoterapia, enquanto 25% cita atividades de socialização, como encontrar amigos, e quatro a cada dez citam atividades físicas. 
  • Quando questionados sobre ações prioritárias para que instituições públicas e privadas ajudem jovens a lidar com efeitos da pandemia, 47% sinalizam o acompanhamento psicológico especializado em jovens na saúde pública. E 39% citam o acompanhamento psicológico nas escolas. E 25% pedem ações para garantir uma alimentação segura para os mais vulneráveis. 
  • Para 74% das juventudes, um dos aprendizados da pandemia é a importância da atenção à saúde mental. No entanto, 64% estão pessimistas em relação à saúde pública. 
  • Os e as jovens relataram a manutenção de importantes hábitos adquiridos na pandemia: mais de seis a cada dez vão utilizar a máscara quando estiverem doentes e sete a cada dez permanecerão utilizando o álcool em gel ou lavando as mãos com mais frequência. E quase sete a cada dez manterão as vacinas em dia. 

Educação e aprendizado: 

  • Nos últimos seis meses, 34% já pensaram em parar de estudar e 11% ainda pensam. 
  • 55% desses jovens sentem que ficaram para trás, em termos de aprendizagem, como consequência da pandemia. 
  • 82% pretendem continuar estudando após a conclusão da etapa que estão atualmente. 
  • Contudo, durante os anos da pandemia boa parte dos jovens chegou a interromper os estudos em algum momento: em 2020, foram 28%; em 2021, 16% e em 2022, 3%. 
  • 52% sentem que desenvolveu ou intensificou a dificuldade de manter o foco, 43% de se organizar para os estudos e 32% para falar em público, em função do período remoto. 
  • Em termos de hábitos adquiridos, quase sete a cada dez citam o uso de tecnologias para estudar. Cinco a cada dez citam o uso da internet para aprofundar os assuntos e ir além do que é trabalhado em sala de aula pelos professores. Além do uso de ferramentas interativas para a aprendizagem. E 48% relatam que adquiriram o hábito de ler mais. 
  • Quase cinco a cada dez jovens consideram que os conteúdos mais importantes para a escola, estão relacionados a preparação para o mundo do trabalho, e atividades para trabalhar as emoções. Para 1/3, as estratégias para organizar o tempo de estudo são essenciais. 
  • Mais de sete a cada dez estão otimistas em relação ao seu desenvolvimento nos estudos. E para seis a cada dez o otimismo prevalece em relação à qualidade do ensino e conexão da educação com o mundo do trabalho. 
  • Em relação aos aprendizados que a pandemia deixou para a educação, nove a cada dez concordam que as pessoas entenderam que há várias formas de aprender, que a tecnologia está sendo mais bem utilizada na educação e que novas dinâmicas de aula e de avaliação foram adotadas. 
  • Pensando no futuro da educação e nas prioridades para apoiar jovens a lidar com os efeitos da pandemia, são destacados, novamente, o apoio psicológico, desta vez para toda a comunidade escolar, a bolsa de estudo e auxílio estudantil e a ampliação de oportunidades para a educação profissionalizante. 

Trabalho e renda: 

  • Em relação ao tema de trabalho e renda, quase oito a cada dez jovens estão otimistas em relação a oportunidades de qualificação profissional e surgimento de novas formas de trabalho. 
  • Pensando no futuro na área de trabalho e renda, são muitas as ações prioritárias para instituições públicas e privadas ajudarem jovens a lidar com efeitos da pandemia. As mais citadas foram: oferta de cursos para a qualificação profissional e editais para fomento de projetos das juventudes. Perfil de jovens respondentes. 
  • Dos 16.326 jovens (15 a 29 anos) que responderam à pesquisa, houve respostas de todos os estados do país. 
  • Há uma participação majoritária de mulheres (64%) em relação a homens (35%). E 1% se identifica como não binário ou outro gênero. Quase 25% se consideram LGBTQIAP+. 
  • 42% são brancos, 56% negros (40% pardos e 16% pretos), 1% amarelos e 1% indígenas. 3% são jovens com deficiência. 13% são responsáveis por filhos ou enteados. 
  • Moram principalmente na zona urbana (93%). Poucos moram em territórios ou comunidades tradicionais (2%). Moram principalmente em capitais (36%) e interiores (36%). 
  • 81% dos jovens respondentes estavam trabalhando quando responderam à pesquisa (proporção muito maior do que a taxa de empregados nessa faixa de idade no Brasil hoje); desses, 63% têm contrato de aprendizagem. E a renda familiar desses respondentes é semelhante à média da população: 2% não tem renda familiar, 40% têm até R$2,2 mil mensais, 26% têm entre R$2.201 e R$4,4 mil mensais, 18% têm mais de R$ 4,1 mil mensais. 
  • 64% estavam estudando quando responderam ao questionário. Destes, 4% estavam matriculados nos anos finais ou Educação de Jovens e Adultos (EJA); 29% no ensino médio regular; 2% no ensino médio EJA e 5% no médio técnico. 37% na graduação e 14% na pós-graduação. 
  • Os jovens respondentes são amplamente engajados com grupos ou instituições: 72% integram ou já integraram grupos religiosos, coletivos ou movimentos juvenis, organizações sociais, conselhos ou partidos políticos. 
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