COVID19 & Saúde da População Negra

FONTEBlog da Mônica Aguiar

Dos hospitalizados com síndrome respiratória aguda grave, 23,1% são pretos e pardos, podendo a chegar representar 32,8% das vítimas de Covid-19. Já com os brancos, a situação é oposta e o número de mortos é menor que o de hospitalizados.
Representam 73,9% dos hospitalizados e 64,5% das vítimas. Mesmo sendo apresentados como minoritários em número de afetados, pretos e pardos tem representado 1 a cada 4 brasileiros internados com Síndrome Respiratória Aguda Grave(SRAG) e chegam a 1 em cada 3 entre os mortos por COVID19.

Isto demostra que a população negra também é neste momento de pandemia a que tem menos acesso aos testes e serviços hospitalares.

A precarização, sucateamento, estagnação e desmantelamento do SUS no Brasil vem ocorrendo em larga escala, poderá trazer consequências devastadoras nas vidas de inocentes. Apesar dos esforços de vários profissionais na área da saúde, o que constatamos são trabalhadores relatando falta de insumos, perincipalmente os que exercem funções em laboratórios públicos.

Em todo Brasil existe filas enormes de pessoas aguardando testes. Em São Paulo, existem uma fila com mais de 17 mil testes aguardando processamento. A medida que o tempo vai passando, crescem o número de solicitações para testes, a situação vai se agravando.

O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) anunciou na primeira quinzena de Abril, por meio de nota, que está trabalhando em uma versão nacional dos kits de diagnóstico rápido de covid-19.  O novo teste será produzido com insumos nacionais e terá um índice de detecção superior ao dos kits importados.
Estamos aguardando !

Hoje, os atendimentos são realizados apenas 30% em um setor do Pronto Socorro de Venda Nova, o Risoleta Neves.
Se a maternidade estivesse em funcionamento, estaria dando assistência adequada as grávidas, que podem ser severamente afetadas por algumas infecções respiratórias.

Neste momento, mais do nunca nunca é  importante  que as grávidas tomem precauções para se protegerem contra a COVID-19, e relatem  possíveis sintomas como (incluindo febre, tosse ou dificuldades para respirar) para seus provedores de cuidados de saúde.

O Ministério da Saúde já afirmou que gestantes e mulheres que deram à luz recentemente são mais vulneráveis a infecções no geral, incluindo em Abril as gestantes e as puéperas, mães de recém-nascidos, na lista do grupo de risco para o novo coronavírus.

A mortalidade de recém-nascidos antes dos seis dias de vida, infecções sexualmente transmissíveis, mortes maternas, hanseníase e tuberculose,  são alguns dos problemas de saúde evitáveis mais frequentes entre a população negra, tanto em comparação ao contingente branco quanto em relação às médias nacionais.

Continuando a pesquisa e leitura de matérias sobre assuntos que abordam dados de mortos pelo COVID 19, constatei que para alguns especialistas a chance de morte não significa ser maior devido a cor ou raça, mas os dados apresentados pelo Ministério da Saúde demonstram a fragilidade no tratamento recebido por negros no Brasil ou alguma outra comorbidade que as pessoas negras tenham.

Mas os números de letalidade entre negros e negras podem estar muito maior devido à falta de preenchimento correto de informações da cor/raça nos dados relativos à COVID19.

É importante para toda sociedade e principalmente para os gestores e profissionais de saúde neste momento de covid, considerar as especificidades de saúde da população negra, e que a ausência de dados desagregados por raça/cor dificulta esclarecimentos importantes, incluindo as falhas técnicas da saúde.

A população negra integra o grupo de brasileiros que têm, em geral, piores indicadores de saúde, expressos na maior incidência de doenças, revelados pelas estatísticas da Nações Unidas em 2018.

A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, publicou documento, em sua página com uma série de manifestações, dentre, a reafirmação que 67% dos brasileiros negros e negras dependem do SUS (Sistema Único de Saúde).

Neste, também inclui nas suas considerações:   o princípio norteador da Equidade em saúde que rege o SUS e que reconhece a necessidade de cuidado diferenciado para pessoas com necessidades diferenciadas.

Doenças como:  diabetes, hipertensão, doenças reinais, falciformes, cardiovasculares, dentre outras tem maior incidência com complicações e óbitos na população negra. Altíssima gravidade. A Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) publicou  documento com recomendações para a redução de morbidades em pacientes que lidem com a doença falciforme.

O documento destaca “uma preocupação significativa de que a sobreposição de doença pulmonar da Covid-19, no cenário pulmonar em doença falciforme marcados pela síndrome torácica aguda, possa resultar em complicações significativas e na ampliação da utilização da assistência médica”.

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva/Grupo Temático Racismo e Saúde- ABRASCO, destacou 12 pontos para reduzir impactos negativos da Covid-19, após  escuta realizada a pesquisadores e lideranças sociais sobre as incidências determinadas pela renda, pela idade, pelo gênero e pela raça.

Este pesquisadores destacaram a importância em reconhecer as falhas existentes no sistema de operação do Sistema Único de Saúde-SUS com relação a população negra e a situação socioeconômica .

“O racismo estrutural dificulta a vida de negros e negras, e não seria diferente durante a pandemia afirmou Altair Lira, professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA(IHAC/UFBA)”. Deivison Faustino, (professor e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo e integrante do Instituto Amma Psique e Negritude), apontou:

“ É preciso abrir um debate urgente sobre o quanto as desigualdades sociais agravam ou até impedem as possibilidades de prevenção de adoecimento e morte pela Covid-19. Graças a um histórico escravista de nossa sociedade, mas, sobretudo, por um racismo que se atualiza em descaso e violência de Estado contra a população negra, nós somos a maioria absoluta nas favelas, nos cortiços, nas palafitas, na população de rua nas cadeias, nos empregos precários”.

Edna Araújo Epidemiologista, docente da UEFS/PPG em Saúde Coletiva/Conselho deliberativo ABRASCO),  ressalta a negação de direitos vivenciada cotidianamente pela maioria dos negros e negras no país:

“No Brasil, o enfrentamento à pandemia da Covid-19 tem desvelado não somente a insuficiência do nosso sistema de saúde, aliás condição comum a muitos sistemas de saúde do mundo frente a uma pandemia, mas também a desigualdade social oriunda da alta concentração de renda e do racismo nas suas mais variadas formas, que fazem com que o nascer, viver, adoecer e morrer da população negra sejam mediados por condições de miserabilidade, de privação de direitos, de moradia e de emprego formal”.

Lucia Xavier, da organização Criola, destaca a importância de que as ações emergenciais possam dialogar com políticas de longo prazo:

“Os movimentos sociais negros e de mulheres negras, buscam conjugar ações emergenciais e políticas que ampliem as condições sanitárias da população negra e também ações políticas de largo prazo que garantam o futuro dessa população em um país tão desigual e violento.

O grupo é mais vulnerável às doenças porque está sob maior influência dos determinantes sociais de saúde, ou seja, as condições em que uma pessoa vive e trabalha, a insalubridade, as baixas condições sanitárias às quais está submetida, por exemplo. E a soma desses diversos indicadores de vulnerabilidade aumenta também o risco de perder a vida”.

Em umas das entrevista Lúcia Assistente Social e Coordenadora da ONG CRIOLA, reafirmou à Folha que os dados apresentados do Ministério da Saúde é  um sinal vermelho sobre os efeitos da pandemia entre negros do pais e as  condições socioeconômicas geram vulnerabilidade e pesam muito durante pandemia e que muitos da população negra pode nem conseguir acessar este serviço público do Brasil.

O Grupo de Trabalho da População negra( SBMFC), tem pressionado as autoridades para que os dados sobre as mortes e casos de Síndrome respiratória aguda grave (SRAG) sejam desagregados por bairros nos municípios .

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), após Conferência Sanitária das Américas, em setembro do ano 2017, recomendou aos Estados-membros — inclusive o Brasil — que promovessem políticas públicas capazes de abordar “a etnicidade como determinante social da saúde”.
Para isto, entre outras medidas, também sugeridas pela OPAS, é fundamental: “dispor de dados suficientes e de qualidade, e gerar evidência sobre desigualdades e iniquidades étnicas em saúde para a tomada de decisões políticas”.

Em 2018, o Ministério da Saúde afirmou  que 80% da população negra só tinha o SUS como plano de saúde. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (2015), das pessoas que já se sentiram discriminadas nos serviços, por médicos ou outros profissionais de saúde, 13,6% destacam o viés racial da discriminação.

Para revelar os dados atuais neste período do COVID19, o Ministério da Saúde investigou 849 mortes das 1056 contabilizadas. De acordo com os dados, 64,5% das vítimas do novo vírus no país se declarou como branca, 32,8% como parda ou preta, 2,5% como amarela e 0,2% como indígena.

-+=
Sair da versão mobile