Criticou X, tem que fazer Y. A lógica binária do brasileiro volta a atacar

Criticou X, tem que fazer Y. A lógica binária do brasileiro volta a atacar

Leonardo Sakamoto

Frente a alguns acontecimentos da última semana, atualizo este post e o republico para ver se, através da repetição, da repetição e da repetição, o pessoal se toca o quanto certos comportamentos podem ser ridículos.

“Ah, mas você também faz o que critica seu esquerdista foie gras, hipócrita que come em restaurante caro, comunista comedor de criancinhas, abusador da moral e dos bons costumes, vendilhão, mimimi, mimimi, mi!” (Hehehe. O pessoal é criativo.)

Como eu já disse, falta amor no mundo. Mas também falta interpretação de texto.

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Criticou uma política de Israel? É antissemita ou pró-Hamas.

Criticou uma ação do Hamas? É pró-Israel ou islamofóbico.

Reclamou da falta de água em São Paulo? Vai votar no Padilha.

Analisou negativamente obras para a Copa? Não gosta de futebol.

Foi à rua protestar? Quer derrubar o governo.

Criticou X, tem que fazer Y. A lógica binária do brasileiro volta a atacar

Elogiou uma ação do governo federal? Petralha.

Comentou que uma política de São Paulo era boa? Tucanalha.

Criticou a ação de um candidato do PSDB? Petralha.

Avaliou mal a ação de um candidato do PT? Tucanalha.

É de esquerda? Tem que fazer voto de pobreza.

É de direita? Chicoteia os empregados.

Defendeu sem-teto? Se não levar para casa, é hipócrita.

Torceu o nariz para o machismo? É bicha.

Fumou maconha? Amanhã, vai fumar crack.

Não tem Deus no coração? É do mal.

Criticou a violência policial? Quer policiais mortos.

Foi contra linchamento? É a favor de bandido.

Dançou animada na balada? Tá pedindo homem.

Vestiu saia curta na rua? Tá pedindo homem.

Sozinha no Carnaval? Tá pedindo homem.

Reclamou da concentração de verba pública para uma emissora de TV? Não pode ver novela.

É índio? Tem que andar nu e não ter carro.

Fez greve em ano de eleição? É da oposição ou inocente útil.

Não é homem? Então, tem que ser mulher.

Não está conosco? Então, está contra nós.

Não é patriota? Pois é um inimigo da nação.

Não o ama? Então, deixe-o.

 

Fonte: Blog do Sakamoto

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