A Economia da Cultura é responsável por mais de 5% do PIB no mundo, segundo dados do Banco Mundial. Aqui no Brasil, o IBGE, através de um convênio com o Ministério da Cultura, vem produzindo indicadores que dá um raio x do PIB brasileiro neste segmento. Dados iniciais sobre essa economia informam que existe uma média de 320 mil empresas ligadas à produção cultural em todo o país. O que torna esse setor responsável pela geração de 1,6 milhão de empregos formais. Ou seja, 4% dos postos de trabalho no Brasil se origina nas produções e ações culturais desenvolvidas nos mais diferentes espaços.
Se a cultura tem o poder de gerar emprego e renda, por que será que, mesmo com o acesso aos recursos financeiros dos governos locais, esses incentivos não conseguem potencializar a cultura da periferia ou torná-las fonte de emprego e renda para seus produtores e os diferentes atores do seu entorno, como em outros setores? Por que a cultura e eventos da periferia, ou seja, produção negra, não ocupa espaço nos veículos de comunicação com o mesmo destaque que as não negras? Ao olhar os números em destaque e pensar esses pontos, só me vem à cabeça o imaginário social existente sobre a cultura e eventos de periferia.
Há aqui um misto de indignação e desconfiança sobre a população que acaba por fazer com que haja uma baixa aceitação desta cultura, colocando-as como “merecedoras” da precarização socioeconômica e da quase nula divulgação diante de um fazer que acontece de maneira individual e desafiadora. Ao perceber essa situação, entramos em outro ponto enfrentado, que é a ausência do fortalecimento da profissionalização na perspectiva negra e periférica, o que acaba por favorecer um mercado que se baseia na relação pessoal, clientelista e informal, logo, um mercado que deixa de absorver os diversos talentos e criatividade em nome da manutenção de um modelo de cultura cansativo e único.
Sem regras claras, igualdade de oportunidades, concorrência e falta de visão estratégica sobre o papel da cultura negra periférica frente as políticas públicas e espaços urbanos, não só mantem sua invisibilidade como enfraquece a potencialização desta na capital baiana. Esse modelo de fazer cultura que constrói diferentes espaços urbanos e os diferencia pela estrutura socioeconômica, tem se isentado de debater uma cidade cultural e musical a partir de suas diversas comunidades e respectivas manifestações culturais diante de diferentes sujeitos e seus talentos.
Desenvolver estratégias de empreendedorismo na área da cultura, é então dialogar com uma estética presente nas periferias que não só atua na difusão das produções culturais presente nas mesmas, como também auxilia no pensar sobre o contexto político das negociações e regulações culturais, analisando tanto sua produção como recepção frente a produtos artísticos oriundos periferia. É preciso dialogar na econômica da cultura com negociações que valorize o centro destas comunidades, uma vez que essas são permeadas de valores, crenças, normas e interpretações.
Desenvolver novas estratégias de fomento cultural e econômico tendo as comunidades e sua cultura como protagonista das dinâmicas de desenvolvimento, permite construção de novos olhares humanos e sociais. Olhar as agendas culturais e notar como a cultura não periférica tem espaço e visibilidade nos meios de comunicação, nos conta sobre quais perspectivas o mercado cultural se deixa atrair pela estética periférica negra. Mudar esse modelo de percepção passa pela formulação de ações que não só mude a forma como comunicadores representa as diversas características do que se pode considerar produtos, pessoas, coisas, eventos dentre outros. Construir produções inclusiva nos grandes shows, trazendo novos artistas periféricos, é atuar sobre uma ótica de discriminação, que ainda passa pelo olhar que a mídia dirige sobre esses. É isso que torna fundamental aprofundar as analise sobre produção do discurso midiático em parceria com agências de viagem, hotéis, guias turísticos, e atores deste mercado diverso que praticamente esquece o papel destas manifestações no coração da cultura brasileira.
Repensar esta visibilidade, aproveitando as oportunidades oferecidas, é atuar com uma capacidade criativa que atende aos mais diversos gostos. Entender que em um pais como o Brasil, não há escassez de mercado para a cultura periférica e negra, produzida e coordenada por negros e negras faz com que esse mercado que já possui cifras significativas possa tenha neste mercado a possibilidade de outros ganhos sociais e econômicos no que se refere ao pertencimento étnico cultural. Ainda vivemos uma produção cultura que se sustenta a partir de uma rede excludente de promoção da cultura e cuja autopreservação dos privilégios é o fator chave dentro deste mercado cultural seletivo. Construir um novo “elo” entre as diferentes formas de cultura , nos coloca diante do desafio de evidencia e potencializar novos saberes tento o corpo e criatividade negra como ponto de partida diante de um mercado que não permite, no palco, a presença – enquanto protagonistas – de quem nunca saiu da plateia ou das suas periferias. Essa é a chave para um novo modelo cultural atraente e pulsante de criatividade e beleza.
Luciane Reis é publicitaria, idealizadora do Mercafro e pesquisadora da área de desenvolvimento e negócios inclusivos pela UFBA.
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