De dentro de presídio, reeducandos se preparam e sonham em estudar na USP

Entre os 58.558 inscritos da edição deste ano da Competição USP de Conhecimentos (CUCo), um grupo marcou sua estreia. Pela primeira vez, sentenciados da Penitenciária de Parelheiros, na cidade de São Paulo, participaram do desafio que busca incentivar mais alunos da rede pública estadual paulista a estudarem na Universidade.

A CUCo organiza provas para preparar jovens a ingressarem na USP e entenderem o processo de seleção de uma universidade pública. As provas trazem questões sobre ciências humanas, ciências da natureza, matemática e língua portuguesa. O nível de dificuldade varia conforme o ano do ensino médio em que o aluno está: 1º, 2° ou 3º ano.

Dentre os seis participantes da penitenciária de Parelheiros, três atingiram a nota mínima de corte e um deles foi certificado com o melhor desempenho entre os estudantes do 2° ano do ensino médio da Escola Estadual Leda Guimarães Natal. Lá, os jovens cursam o ensino médio através do programa de Ensino de Jovens e Adultos (EJA). A unidade escolar fica no mesmo distrito da penitenciária e atende adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas de internação.

Experiência de estudar dentro da prisão motivou reeducandos a participarem da Competição USP de Conhecimentos. No vídeo, jovens contam como pretendem recomeçar suas vidas fora do cárcere

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“O critério para a escolha [na participação da CUCo] foi o aluno que tem um bom desempenho, dedicado, que atende ao padrão da escola”, explica Cleide Nogueira, professora de ciências e biologia da escola. Ela conta que os professores se dirigem até a penitenciária para ministrar as aulas em um espaço totalmente destinado à educação.

A professora trabalha no sistema prisional há três anos e reforça a importância da valorização do potencial desses alunos, deixando o preconceito de lado. “Quando eu entro na sala de aula, minha primeira fala é: eu sou a professora Cleide. Não quero saber qual é o seu artigo e por qual motivo você está aqui. Eu estou aqui para ser a sua professora e te conduzir numa viagem pelo mundo da educação”.

Para o professor Roberto da Silva, coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação em Regimes de Privação da Liberdade (GEPÊPrivação), a participação de detentos na CUCo “são exemplares do que conseguiríamos fazer se as universidades tivessem uma presença maior nas prisões em seu território”.

Silva, que passou mais de 20 anos sob custódia do Estado, incluindo a antiga Febem (atual Fundação Casa), começou seus estudos ainda na prisão e ostenta hoje uma sólida carreira na área da educação, sendo livre-docente da Faculdade de Educação da USP. Seu grupo capacitou mais de cem professores em cursos de aperfeiçoamento para docência em regimes de privação de liberdade.

Imagem: Reprodução / Giostri Editora.

A metodologia didática desenvolvida pelo grupo foi testada e validada em sala de aula, e posteriormente publicada nos livros Didática no Cárcere I e II. “É nossa responsabilidade apoiar a educação em prisões e ajudar as pessoas a recuperarem a capacidade de sonhar”, afirma o professor. “Infelizmente menos de 8% da população carcerária do Estado têm condições de participar desse tipo de ação, pelo baixo nível de escolaridade”, acrescenta.

Reeducandos da penitenciária de Parelheiros, zona sul de São Paulo, estudam para a CUCo. Foto: Caio Daniel/Divulgação SAP.

A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) do Estado de São Paulo informou ao Jornal da USP que a penitenciária ASP Joaquim Fonseca Lopes, de Parelheiros, trabalha em parceria com a Escola Estadual Leda Guimarães Natal para estimular os detentos a participarem de cursos e projetos educacionais, sempre incentivando novos conhecimentos a partir dos estudos.

De acordo com a SAP, os reeducandos que participaram da CUCo receberão um certificado e, assim que tiverem cumprido o tempo estabelecido para a progressão de suas penas, poderão se inscrever em vestibulares.

Sobre a CUCo

A Competição USP de Conhecimentos (CUCo) é um desafio voltado aos estudantes do ensino médio das escolas públicas do Estado de São Paulo, com o objetivo de melhorar o desempenho nas disciplinas que compõem o conteúdo programático de vestibulares.

Os alunos inscritos concorrem apenas com estudantes de sua própria escola e o melhor aluno de cada ano do ensino médio de cada escola é premiado. O desafio é composto de duas provas, em que o conteúdo é todo baseado no currículo do ensino médio, definido pela Secretaria de Estado da Educação (SEE).

Por causa da pandemia, este ano não houve segunda fase e o resultado da primeira foi considerado para a classificação final. A prova foi realizada entre os dias 10 e 14 de agosto, de forma on-line, e 3.707 escolas participaram da competição, atingindo 642 dos 645 municípios do Estado de São Paulo, índice inédito de abrangência da competição.

Os estudantes mais bem classificados nas provas são premiados com monitorias de alunos da USP, isenção da taxa do vestibular, bolsas de pré-iniciação científica na Universidade, além de concorrer a vagas de estágio, entre outras vantagens. Professores, escolas e grêmios estudantis também recebem benefícios. Além disso, os estudantes recebem informações sobre ações da Universidade que viabilizam sua permanência, como bolsas e auxílios para que eles possam se manter até a conclusão do curso.

Neste ano, foram premiados 6.742 estudantes dos três anos do ensino médio, que receberão certificado e acesso à plataforma on-line com material complementar de estudo. Destes, 2.706 também ganharão a isenção da taxa de inscrição do vestibular da Fuvest.

A competição faz parte do programa Vem pra USP!, uma parceria da USP com a SEE e Fuvest, responsável pela organização do vestibular da USP, para valorização dos estudantes do ensino médio.

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