Denúncias de crimes raciais crescem 26% no ES em 2021

De acordo com dados da Sesp, foram registrados 42 casos relativos a crimes raciais entre janeiro e o início de agosto de 2020. Já em 2021, esse número subiu para 53 no mesmo período.

FONTEDo G1
Imagem: Geledés

As denúncias de pessoas negras que foram vítimas de ofensas racistas cresceram 26% no Espírito Santo na comparação com o ano passado.

Dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) apontam que, enquanto em 2020 foram registrados 42 casos relativos a crimes raciais entre janeiro e o início de agosto, em 2021 esse número subiu para 53 no mesmo período.

De acordo com a Sesp, tais números são relativos aos registros de acionamento do Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes) e envolvem todas as denúncias que estão relacionadas a crimes raciais. Como a tipificação da ocorrência não é feita neste momento, os registros podem estar ligados tanto a crimes de racismo quanto de injúria racial.

Para especialistas, apesar do aumento constatado numericamente, grande parte dos crimes raciais que são cometidos cotidianamente ainda não chegam às delegacias.

Na última semana, dois casos de racismo geraram repercussão no Espírito Santo. A ativista Carol Inácio, de 26 anos, que mora em Colatina, no Noroeste do estado, foi alvo de ataques racistas pela internet.

Ela foi inserida em grupos de WhatsApp no dia do aniversário dela e, a partir de então, passou a ser agredida com palavras racistas por desconhecidos.

Ofensas racistas foram feitas contra ativista negra em grupo (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Entre as mensagens recebidas por Carol estão as frases “negas fedem a bicho” e “imagina a afro Carol em uma senzala de vidro”. O caso está sendo investigado pela Delegacia Regional de Colatina.

Já em Vitória, uma mulher de 28 anos foi presa na última sexta-feira (28). Depois de agredir com chutes os funcionários de um restaurante na Praia do Canto, Sâmara Lara Martins Verdieri também fez ofensas racistas contra um dos policiais militares acionados para atender a ocorrência.

“Ela passou a agredir eu e meu parceiro e me insultar dizendo que eu era um policial burro, negro e por isso eu estava na polícia, por ser burro. Ela falava você é um negro, você é um negro”, denunciou o sargento Alberto.

Mulher foi levada para a delegacia após fazer ofensas racistas contra PM (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Entre outros crimes, como desacato e desobediência, ela também foi autuada por injúria racial. No entanto, pagou uma fiança de R$ 950 e responderá pelos crimes em liberdade.

A defensora pública estadual Jamile Soares acredita que o número de denúncias contra o racismo tenha crescido porque a população negra está sendo encorajada a buscar por seus direitos e lutar contra a impunidade. Por outro lado, demonstra preocupação com os atos criminosos, que vêm sendo praticados de forma explícita.

“É um conjunto de fatores: tanto a população negra está mais empoderada, não aceitando determinados abusos e falas, que são inaceitáveis. Por outro lado, o racismo, que sempre existiu na população brasileira, está deixando de ser velado. As pessoas têm mais coragem de falar porque têm rede social ou por conta da conjuntura política em que a gente vive hoje”, analisou Jamile.

O presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Espírito Santo (OAB-ES), Sávio Faustino, ponderou que ainda existem muitas vítimas que sentem medo de denunciar. Por isso, o número de crimes pode ser ainda maior.

Segundo Sávio, muitas vítimas sequer registram as ocorrências de racismo e injúria racial, por falta de conhecimento e até por não terem uma delegacia especializada.

“É o impacto de você sofrer um crime e ter que reportar isso às autoridades, que muitas vezes não estão preparadas para receber esse tipo de demanda. O preto e a preta sofrem um duplo golpe, na verdade, que é remoer isso e não ver ir adiante a sua reclamação. Essas subnotificações estão ligadas a isso”, ressaltou.

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