Desculpa Perguntar – Por: Allan da Rosa

Já sentiu desespero, mano?

Aquele do mergulhado em águas claras

Quando veio o redemoinho?

Aquele salvo pelo braço que avisou do buraco..

Unhas seguras na saliência da rocha.

Agradecidas de frio e de medo.

Pequenez e grandeza no fiapo do seu nome.

Já sentiu humilhação, rei?

A que trouxe na cangaia as caixas de fruta

que num podia mexer nem em uma baga

Do chegado na feira e escorraçado

Nos berros, cuspido pra fora

Depois do almoço vazio

Quando perguntou se ia receber sua paga

Já foi cabeçalho da notícia da chacota, camará?

Ao rasgarem seu vestido

com a bença e os aplausos da covardia?

Se encharcou na chuva ácida da vergonha?

Sintonizou a rádio do desprezo,

Chiadinha, o dia inteiro da voz de teu pai?

Já sentiu paixão, Ganga?

Das de pintar a chuva?

De errar cada flechada de palha

usando arco de papel molhado?

E ela passou no vento…

Mesmo vento que ardia no pus

Toda tardinha?

Já perdeu batalha, Mestre?

Depois que bebeu a vitória,

no cálice da arrogância a sua golada.

E com o nariz entupido no arreio

Nao conseguia traduzir, farejar

o que fosse futuro?

Já apertou a mão da hipocrisia, Don?

Suja de perfume…

Já ganhou na bochecha

O lábio farofado de quem jura de morte

sussurrando na casa vizinha?

De quem envenena a sobremesa

por cima do muro,

Dá gamela em mal querença

de doce pro teu filho

e declara a temporada de estupro

a quem coloca no dedo e no pescoço

o anel branco de simpatia?

Já cozinhou na panela da saudade?

Costurou o calendário

Pôs no forno a massa lacrimejada

e comeu o pão

o miolo da decepção

Quando a andorinha voltou

mascarada de pavão?

 

 

Fonte: Revista Forum

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