Direto da Conferência Mundial das Humanidades, na Bélgica

Direto da Bélgica, a Delegação de intelectuais afro-brasileiros, convidados para

CONFERÊNCIA MUNDIAL DAS HUMANIDADES: DESAFIOS E

RESPONSABILIDADES PARA O PLANETA EM TRANSIÇÃO –

Fazem uma síntese e quais as primeiras impressões 

do encontro, em Liège.

Enviado para o Portal Geledés 

Liderada pelo Babalawô Ivanir dos Santos, delegação participa pela primeira vez na sua história da Conferência Mundial das Humanidades: Desafios e Responsabilidades para o Planeta em Transição, que começou dia 6 e acontecerá até o dia 12 de agosto, na Universidade de Liège, na Bélgica. A Conferência Mundial está sendo organizada pela UNESCO e pelo Conselho Internacional de Filosofia e Ciências Sociais (CIPSH)

Delegação brasileira, formada por excelentes profissionais, fazem uma leitura objetiva e vivaz do encontro. São eles: Ivanir dos Santos / Jacques d’Adesky / Carlos Alberto Medeiros / Mariana Gino e Sandra Martins.

A seguir uma breve avalição de Ivanir dos Santos

– Por mais que tivéssemos, após termos recebido o convite de participação deste encontro, não tínhamos dimensão dele. Somente após chegar aqui, de toda a abertura como foi feita, as falas principais dos responsáveis pelo encontro, das falas acadêmicas, deu para entender que a dimensão da construção de um congresso como este que fala de Humanidades. O tema importante de Humanidades, porque o que se tem hoje é um modelo de Humanidade, de civilização, como se fosse um modelo mais correto para ser atingido. Existem outras humanidades, outros saberes.

– Nós estamos aqui, uma delegação de acadêmicos afro-brasileiros e afro-brasileiras, isso é uma novidade, não se tem nada assim. Pelo que observei, não eram negros, com a exceção da professora Nilma Lino Gomes – ex-ministra da Igualdade Racial e do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos; é professora da graduação e pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FAE/UFMG) e integra a equipe do Programa Ações Afirmativas na UFMG –, que iria participar de uma mesa e acabou não vindo. Não haviam negros. Todos os acadêmicos que estão aqui não são negros e negras. E, nossa delegação surpreende por isso. Não há como discutir humanidades no Brasil se não levar em conta os negros, indígenas, as outras culturas que existem no conjunto da sociedade brasileira.

Outro aspecto ressaltado pelo Babalawô Ivanir dos Santos foi quanto a receptividade da delegação de intelectuais afro-brasileiros pelo conjunto de delegados de outras delegações de outros países presentes. A perspectiva desta boa recepção propicia a boa condução da agenda de diálogos que se está estabelecendo nesta conferência, com perspectivas de trabalhos e fóruns acadêmicos. Ivanir observa a necessidade de se retomar o diálogo com os acadêmicos e intelectuais africanos “a partir de uma perspectiva da sociedade civil negra brasileira”. Segundo ele, houve há cerca de dez anos, uma iniciativa apoiada pelo Estado. “Infelizmente, não houve desdobramentos efetivos. Os resultados foram o encontro e os intercâmbios muito pontuais do ponto de vista pessoal, mais do que uma agenda comum.” Entretanto, afirma o doutorando e líder da delegação de intelectuais afro-brasileiros, “agora há uma possibilidade da construção de uma agenda, levando em conta o crescimento da participação da presença de afro-brasileiros nas universidades e também na academia – ainda em número pequeno, mas com tendência a aumento anual. Alguns destes intelectuais acadêmicos participam de fóruns na África, em especial em países lusófono de língua portuguesa, com reduzida frequência nos países francófonos e anglófonos. É muito pouco. Temos um desafio muito grande de incentivar os acadêmicos jovens para aprender línguas porque é uma barreira concreta destas relações.

Ivanir observa que em geral, os estudos de Áfricas no Brasil, volta-se, a maioria deles, para os países que falam a mesma língua que nosso país. Só que tem uma população expressiva que são originárias de países de língua portuguesa. Quem faz mais esse diálogo são pessoas não negras. Há negros, poucos, mas esse diálogo tende a crescer.

– Ivanir ainda ressalta – Estamos na fase da construção de um diálogo, de uma agenda, de parceria acadêmica, com temas que nos interessam, seja nas relações raciais, seja na aplicação da Lei 10.639/2003, seja na intolerância religiosa. Falo de outros valores, de outros saberes e de outras humanidades. Embora eu ache que temos que fazer um esforço para incluir neste diálogo a população indígena. Acho importante do ponto de vista do Brasil. Tem outras culturas que estão inseridas a partir de outros países.

– Exemplo: observa-se aqui a presença da asiáticos e africanos têm tido uma participação efetiva. É importante observar. Tem uma tarefa grande para se construir nessas agendas, seja parceria em pesquisa, na produção acadêmica, seja em seminários e em congressos.

– E nossa primeira contribuição é o Relatório Bilingue “Intolerância Religiosa no Brasil – Relatório e Balanço”, lançado no início do ano. Tem circulado nas mãos de intelectuais aqui na Conferência e que pode dar nova perspectiva de como se deve essa preocupação mundial que é a intolerância religiosa.

– Propostas: Primeira proposta é fazer um colóquio sobre intolerância religiosa, um colóquio internacional sobre este tema, que deve ser no Rio de Janeiro, em princípio. Isso deve sair recomendação no relatório, obviamente.

– Expertise: E, também falar de nossas experiências da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do CEAP em conjunto com o Laboratório de História das Experiências Religiosas (LHER) e com a Coordenadoria de Experiências Religiosas Tradicionais Africanas, Afro-Brasileiras, Racismo e Intolerâncias Religiosas (ERARIR) vinculado ao LHER/UFRJ. Falaremos de possibilidades de outros incentivos de ação especificamente do curso de especialização de pós-graduação latu-sensu sobre Pluralidades e Intolerâncias Religiosas que é o Primeiro no Mundo. Todos os intelectuais que converso aqui, que são ativistas de várias partes do mundo, não têm esta experiência no mundo.

– A delegação tem como marca a pluralidade, apesar de a maior parte de ser da História Comparada da UFRJ: gênero, faixa etária, formação, tema. A equipe é composta: da jornalista e mestranda, Sandra Martins, que tem como objeto de pesquisa a questão do Movimento Negro com grupo acadêmico de negros na década de 1970 e 1980 na Universidade Federal Fluminense e traz a experiência negra na área de Comunicação, que hoje vai ter um amplo diálogo com as mídias alternativas no continente africano; do comunicólogo com mestrado em Sociologia do Direito, doutorando Carlos Alberto Medeiros, que estuda comparativamente as políticas de Ação Afirmativa do Brasil e Estados Unidos; da historiadora e mestranda Mariana Gino, que trabalha com intelectuais africanos que se dedicaram ao HGA – História Geral Africana, analisando o político e historiador Joseph Ki-Zerbo, de Burkina Faso, ela é a mais jovem integrante do grupo; e do professor e doutorando Babalawô Ivanir dos Santos que analisa intolerância religiosa; e, mais Jacques D’Adesky, professor visitante da Universidade Federal Fluminense, e, foi, quem conosco, deu pontapé inicial dessas relações e vai ser peça importante no desdobramento deste trabalho.

Uma delegação que tem um campo a explorar do ponto de vista de relações internacionais e do ponto de vista deste trabalho profícuo acadêmico. Porque normalmente viaja uma pessoa para uma cidade, para um evento, desta vez, sai um grupo que sai do Brasil, para uma agenda. Esta é a novidade.

JACQUES D’ADESKY

 – É a primeira do gênero, tem uma memória sobre a temática. Concebida pelo presidente do Mali, que tomou a iniciativa de fazer esta conferência. Evento realizado pela Unesco, nesta cidade, a ideia eia é um lance de genialidade, porque ele observou as tensões em todas as partes do mundo, no que diz respeito ao próprio conceito do que é Humanidade, propôs ele um conceito abarcando o plural, Humanidades, os olhares diferenciados do que é entendido como ser humano, com a própria noção de pluralismo, e de levantar este assunto neste momento histórico de tensões de várias correntes – questões religiosas, raciais, nacionalidades continentais. Quem está encabeçando esta proposta são intelectuais do 3º Mundo, como se falava há 20 anos atrás, como se fala hoje, intelectuais do Hemisfério Sul – africanos e asiáticos – falta, como falou Lazare Ki-Zerbo, o terceiro tripé – as Américas do Sul. A concepção das Humanidades dominante é ocidental. Mediante esta proposta é levantar perspectivas diferenciadas a partir destes três continentes para poder estabelecer um diálogo. Como Adama falou, nada contra o Ocidente, muito pelo contrário, mas rediscutir este conceito de uma base, de uma perspectiva diferenciada dos três continentes.

CARLOS MEDEIROS

– Principalmente foram os contatos estabelecidos com pessoas importantes neste contexto para intercâmbio, principalmente na área de intolerância religiosa, relações raciais, outros contextos que nós nos identificamos, para que possamos avançar nas nossas questões específicas. Destaca a grande presença dos africanos que fogem do estereótipo do refugiado do maltrapilho, do mendigo, pessoas aparentemente bem situadas em variedades de funções, e aparentemente integradas neste contexto. Então isto foge um pouco daquela nossa ideia estereotipada de cidades europeias como sendo cidades segregadas marcadas pela intolerância, pelo ponto de vista étnico, pela violência. Esta parece ser uma cidade convidativa e o que se explica um pouco pela sua história industrial que está acostumada a receber imigrantes que contribuíram para seu crescimento.

​Foto: Ivanir dos Santos com o Presidente da Conferência Mundial das Humanidades, Adama Samassekou, ex-presidente da ICPHS (Conselho Internacional para Estudos de Filosofia e Humanísticos), ex-ministro da Educação do Mali, o ex-presidente da Academia Africano das Línguas e presidente da rede Maaya, ao lado de Jacques d’Adesky e Carlos Alberto Medeiros 
 
Rozangela Silva

Assessoria de Imprensa 

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