Distrito Federal é território negro, aponta Mapa das Desigualdades

A quinta edição, produzida pelo Inesc, revela dados discrepantes entre as regiões administrativas do DF

FONTEPor Heloísa Viana, do Brasil de Fato
Dados revelam que as regiões administrativas que mais possuem população autodeclarada negra são as que mais enfrentam desigualdades de renda, insegurança alimentar e outros. (Foto: Thiago Araújo / INESC)

O Distrito Federal é um território negro, com 57,4% de população assim autodeclarada. Os dados são do Mapa das Desigualdades, lançado nesta sexta-feira (14), durante audiência pública na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Em sua 5ª edição, o documento foi produzido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), com apoio da Oxfam Brasil, a partir da última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (IBGE/2021) e além de apresentar dados, traz imagens, poemas e textos de pessoas que vivem essa realidade. 

O deputado distrital Fábio Félix (PSOL) iniciou a audiência dando destaque para as desigualdades que ocorrem no Distrito Federal.

“Esse projeto é reforçado pela mobilidade que infelizmente é precária, um sistema que não é transparente. Além disso, a gente vive uma desigualdade territorial, diferenças que podem ser observadas do Lago Sul ao Sol Nascente. Essa desigualdade também está na composição do poder legislativo, composição majoritariamente branca, rica, heterossexual, representantes dos grandes interesses econômicos”, afirmou.  

Dyarley Viana, da coordenação técnica do Inesc, explica que se trata de um processo histórico e racista que todo dia é mantido. “O mapa das desigualdades vai sinalizar que existe um racismo institucional, é uma escolha política seguir aprofundando essas desigualdades, segregando e matando pessoas negras e indígenas. O mapa vai sinalizar os impactos que a gente vivenciou na pandemia, mas estamos falando de um processo histórico e racista que todo dia é mantido. O Plano Piloto sem o corpo negro vindo pra cá, pegando ônibus, não funciona”, destaca.

De acordo com o Mapa, somente nove regiões administrativas não têm mais de 50% de seus habitantes autodeclarados pretos ou pardos. São elas: Lago Sul, ParkWay, Sudoeste/Octogonal, Plano Piloto, Lago Norte (estas com mais de 30% de população negra), Jardim Botânico, Cruzeiro, Águas Claras e Guará (com mais de 40% de população negra).

Falta de saneamento

Referente ao acesso ao saneamento básico, o Mapa revelou que as regiões administrativas que mais sofrem com esgoto a céu aberto são Fercal (53,8%), Estrutural (41,9%) e o Sol Nascente/Pôr do Sol (34,9%) e as três possuem mais de 50% da população negra.

As duas localidades com maior população negra (SCIA e Estrutural, 75,4%) são as que têm menor renda domiciliar – inferior a 2 salários mínimos e a maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes – 50,8. A região administrativa onde a renda domiciliar é superior a 20 salários mínimos é a do Lago Sul.

Insegurança alimentar

Em relação ao combate à fome, as regiões administrativas do DF onde há maior população em situação de insegurança alimentar nos últimos 3 meses são a Fercal (50,5%), Sol Nascente/Pôr do Sol (49,8%) e Itapoã (48,1%). O documento aponta também que o Plano Piloto (área com maioria da população branca) aparece como a região com o maior número de crimes de racismo e injúria racial.

A conclusão apresentada no documento do Mapa das Desigualdades é a de que “a desigualdade no Distrito Federal é uma produção do Estado e das elites, como projeto pensado e colocado em prática desde que resolveram mudar a capital para o Planalto Central, ignorando as pessoas que aqui viviam e suas culturas. Ignorando também as pessoas que se jogaram na empreitada, como forma de ganhar a vida e sonhar com um futuro melhor, em outro lugar.” O documento completo pode ser acessado por meio do site do Inesc.

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