Do ensino público à Nasa, conheça a história de Julio Cosmo

O brasileiro Julio Cosmo, CEO da primeira startup negra do mundo, segundo a Oracle - Imagem Carta Capital

Segundo a gigante tecnológica Oracle, o brasileiro é o primeiro negro a criar uma startup no mundo

por Ana Carolina Pinheiro no Carta Capital

O brasileiro Julio Cosmo, CEO da primeira startup negra do mundo, segundo a Oracle – Imagem Carta Capital

Os nove anos no ensino público da cidade de Itanhandu, no interior de Minas Gerais, foram cruciais para as escolhas profissionais de Julio Cosmo. O CEO da primeira startup negra do mundo, segundo a gigante de tecnologia Oracle, teve a educação como pauta constante em sua vida. Dentro de casa, os pais professores da rede pública foram exemplo e incentivo para sua aposta nos estudos.

Também desde a infância, o fascínio pela tecnologia. O computador, por exemplo, era uma espécie de baú a ser desbravado. “Mesmo a gente sendo de uma família com renda baixa, meu pai conseguiu um computador pra mim. Porém, eu não tinha vontade de mexer nos programas que estavam lá, mas sim de criá-los. Depois, tive a oportunidade de aprender algumas coisas básicas em um curso de informática”, comenta Julio, que aos 11 anos já criava programas e tentava vendê-los a investidores.

Em 2007, no último ano da faculdade de Ciência da Computação, o empreendedor iniciou um artigo acadêmico sobre geoprocessamento, mapeamento e cruzamento de dados. No projeto, quando participava de uma maratona de programação, Julio recebeu o convite para aprofundar os estudos em um dos laboratórios da Nasa, o JPL (Laboratório de Propulsão a Jato), na Califórnia, onde ficou por dois anos.

Surgiram os questionamentos sobre o que ele faria pelo próprio país. Para Cosmo, o investimento público que possibilita a expansão do conhecimento acadêmico em outros países constantemente afasta os estudantes do país natal. “Na maioria das vezes, eles se formam, mas não voltam ao país para trazer a bagagem acumulada de volta”, aponta Julio, que já tinha decidido não seguir essa estatística.

“A partir disso passei a pensar em qual ponto eu poderia voltar para o Brasil e tentar trabalhar. E foi aí que eu abracei a causa da educação pública”. Com a decisão, nasceu a plataforma Juntos, criada para gerenciar os dados dos alunos da rede pública de todo o País.

Por meio de inteligência artificial, o programa consegue estimar o quanto um aluno que não toma café da manhã pode ter o aprendizado prejudicado e otimizar o tempo que o professor leva corrigindo centenas de provas, por exemplo. “A ferramenta foi implementada em várias unidades de ensino do País, mas como o projeto foi direcionado às prefeituras, tivemos certa dificuldade, porque depender do poder público é difícil”, lamenta.

A plataforma precisou se reinventar e ganhou uma nova vertente, a Campus. “Adaptamos a ferramenta ao segmento corporativo. Ou seja, ela passou a atender áreas como Departamento Pessoal e Recursos Humanos de empresas, baseado na estrutura da Juntos”, explica. Atualmente, a startup direciona 70% das atividades para a Campus e 30% à Juntos.

Sobre o projeto inicial, Julio explica quais foram as mudanças necessárias para não abandonar o desejo de investir no ensino público. “A Plataforma Juntos está se tornando um projeto de cunho social. Esperamos disponibilizar a ferramenta gratuitamente a partir do próximo ano, com algumas condições para que as prefeituras utilizem. Isso é uma forma de contribuir diretamente e impactar positivamente a educação”.

A mudança estratégica da startup contou com o auxílio da BlackRocks, empresa de consultoria e aceleração que visa uma maior diversidade racial na área do empreendedorismo. “O BlackRocks foi fundamental para nos conectar ao mercado e nos auxiliar durante o processo. As pessoas olham e perguntam se foi ‘cota’, mas não foi, teve todo um trabalho em conjunto para chegar ao crescimento”.

O reconhecimento como primeira startup negra veio do Programa de Aceleração da Oracle, da qual a JuntosCampus participa. “Precisamos pensar em mais diversidade dentro do empreendedorismo. Quando a gente vê esses programas de aceleração, 99% dos participantes são garotos brancos que tiveram boa formação, a maioria já teve experiência fora do País e tem estrutura financeira quando retorna ao Brasil. Para o jovem negro tentar seguir esse caminho é bem mais difícil”, reflete.

A mudança que Julio espera no mercado em relação ao acesso de pessoas negras na área já é aplicada dentro da estrutura da startup. Com uma diretora como seu braço direito, o empreendedor procura a inserção de colaboradores negros e mulheres na JuntosCampus. “A empresa que tem um quadro de funcionários bem diversificado consegue resolver problemas de forma mais rápida. Na prática, você visualiza isso, não é só da boca pra fora”, finaliza Julio.

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