Documento mostra casos de discriminação racial no futebol em 2017

Enfim foi publicado o Relatório Anual da Discriminação Racial 2017. No dia 29 de novembro de 2018, conseguimos tornar público os dados do nosso quarto estudo sobre os incidentes de cunho racista que aconteceram no futebol brasileiro durante o ano de 2017. O Documento não apresenta apenas os casos de discriminação racial no futebol, ao todo são apresentados 77 (setenta e sete) casos que envolvem, também, machismo, xenofobia e LGBTfobia em todos os esportes e com atletas brasileiros no exterior.

Por Marcelo Medeiros Carvalho Do Yahoo Esportes

Foto: Divulgação/Yahoo Esportes

O ano de 2017 foi o que apresentou o maior número de incidentes nos estádios e fora dele, monitoramos 43 denúncias de racismo no futebol e o crescimento das denúncias de machismo, LGBTfobia e xenofobia. Os espaços dos estádios de futebol que se dizem tão democráticos na verdade não são. Temos plena consciência que estes números apresentados pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol não condizem com o total de incidentes que ocorrem no esporte, esses são os que foram denunciados e tornados públicos pela imprensa, nossa fonte de pesquisa. E por conta dessa dificuldade na investigação dos casos e na produção do Relatório que fomos procurar a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a UFRGS, que entendeu e acolheu nosso convite e nos tornamos parceiros não só para a produção do documento, mas também para novas pesquisas e para avançarmos para além das denúncias e começar a desenvolver trabalhos de conscientização nas escolas e nas categorias de base dos clubes do Brasil.

Os números apresentados pelo Relatório 2017 não são mais novidade para quem nos acompanha, afinal, diversos veículos de comunicação já divulgaram os dados. A novidade maior apresentada no evento de ontem, no Museu da UFRGS, começa pela capa que é uma homenagem a Márcio Chagas, ex-árbitro de futebol, que por diversas vezes foi insultado de forma racista enquanto exercia sua profissão. E, para não apresentarmos apenas a frieza dos números, para não transformar cada vítima apenas estatística, o documento apresenta uma série de textos escritos pelos jornalistas Breiller Pires (El País e ESPN), Carlos Guimarães (Rádio Guaíba) e Diego Moraes (Rede Globo), além de Gleidson Renato Martins Dias (Membro da Coordenação Nacional do MNU – Movimento Negro Unificado), Gustavo Bandeira (Pesquisador sobre a questão de gênero no Futebol) e dos membros do Grupo de Estudos e Pesquisa da parceria Museu (UFRGS) e Observatório que escreveram sobre as experiências adquiridas ao longo da construção do Relatório.

O evento e a impressão do Relatório já fazem parte da parceria, que será oficializada em breve, entre o Observatório e a Universidade, o que consideramos ser um passo importantíssimo na luta contra o racismo não só no futebol, mas de forma enraizada na sociedade brasileira. Afinal, o fato de a sociedade ser racista não significa que o futebol (e os clubes) tem que aderir a sua lógica racista, pelo contrário, o futebol pode se contrapor ao racismo e por seu caráter dito popular dar o exemplo na busca de uma sociedade livre de atos de intolerância, mas não só isso, os clubes precisam pensar na diversidade e em formas de inclusão de negros nos cargos de comando. A falta de diversidade nas direções faz com que temas como racismo, machismo, homofobia sejam pouco tratados.

A falta de diversidade nas direções das instituições faz com que o tema do racismo seja pouco tratado, pouco apoiado e patrocinado por elas, digo isso para justificar o “enfim” utilizado no início do texto. Nossa ideia é sempre lançar o Relatório no dia 21 de março, Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial, para que assim possamos debater os dados apresentados em diversas oportunidades e em todas as regiões do país ao longo do ano, mas para que isso aconteça o Observatório ainda depende da parceria com clubes e instituições, o que é sempre difícil.

Nossa esperança agora é a parceria com a UFRGS e já aproveito para agradecer as professoras Sandra de Deus e Cláudia Aristimunha por acreditarem no trabalho do Observatório. Agradecer também a todos que estiveram presentes no evento, especialmente, ao Márcio Chaga e o Gleidson que nos contemplaram com suas falas, além do historiador, José Antônio dos Santos, que esteve presente e falou sobre o livro Liga da Canela Preta – A História do Negro no Futebol, escrito por ele.

Convido a quem ainda não realizou a leitura do Relatório 2017 que faça download e leia. Você vai verificar que o futebol é um campo privilegiado de observações das relações sociais e raciais do Brasil. Que falar de futebol e racismo não é uma contradição. Futebol e racismo são uma unidade contraditória. Ou seja, a gente não consegue pensar em futebol sem pensar em racismo. Não existe essa possibilidade e nunca existiu.

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