A periferia ainda costuma ser vista, inclusive por estudos acadêmicos, como um lugar onde só existem carências, problemas e precariedades, enquanto suas potências são ignoradas — o que esconde lutas, ações e criações dos territórios periféricos dentro do campo da política e da cultura. É o que defendem pesquisadores do Observatório de Coletivos Culturais da Periferia de São Paulo (OCCP), ligado ao Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc) da USP, no livro Periferias insurgentes: ações culturais de jovens na periferia de São Paulo. Eles analisaram experiências de coletivos culturais na periferia das zonas Leste e Sul de São Paulo em estudo do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. O e-book pode ser conferido gratuitamente neste link.
A obra é resultado das pesquisas do grupo sobre uma série de projetos culturais financiados pelo Programa Valorização das Iniciativas Culturais (VAI) da Prefeitura de São Paulo, que há 17 anos fomenta a cultura em bairros periféricos da cidade. Essas iniciativas que foram objeto do estudo demonstram, para os pesquisadores, as potencialidades das periferias “expressas em outras ações, como a do movimento hip-hop, das comunidades de samba, das redes de mulheres na periferia, entre outros”.
A publicação destaca a importância de se repensar o que é lido como movimento social, defendendo que as “ações da periferia que possuem um sentido político dado pela ressignificação dos territórios a partir das ações socioculturais” também precisam ser vistas como parte dos movimentos sociais.
Dennis de Oliveira, coordenador do estudo que originou o livro e professor do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da Escola de Comunicações e Artes (ECA), explica que esses coletivos da juventude periférica não somente pressionam o Estado e as políticas públicas por financiamentos e incentivos à cultura na periferia, mas também ressignificam o próprio sentido de periferia. “A periferia sempre é vista como um lugar de falta, de ausência. A ação cultural desses coletivos quer ressignificar o sentido de periferia para ‘potência’, apontando que nas periferias não existe somente carência, mas também essa potência e essas lutas. Lutas por direito à cultura, direito à informação, direito a saneamento básico, e tudo o mais.”
“Os jovens que protagonizam esse movimento vão colocando no cenário político novos sujeitos coletivos. Essa é a ideia do livro, mostrar que existem novos sujeitos na área da política, que são os jovens da periferia, fundamentais para a cidade.” Oliveira acredita que esta seria a importância da obra para as ciências humanas e sociais. “Não é possível se debater política pública, cidade, território e cultura, sem levar em consideração as experiências que esses jovens têm realizado. Eles ainda são invisibilizados pelas políticas públicas, pelo Estado e pelos meios de comunicação de massa hegemônicos, mas são sujeitos muito importantes.”
Os estudos se deram durante o programa Ano Sabático do IEA e, além do livro, geraram o documentário Periferias Insurgentes e posteriormente a Revista Central Periférica, disponível aqui, junto a outros materiais produzidos pelos pesquisadores.
Periferias insurgentes: ações culturais de jovens na periferia de São Paulo
Lançamento: 2021
Coordenador: Dennis de Oliveira
Autores: Dennis de Oliveira, Juliana Salles de Sousa, Maíra Carvalho de Moraes, Mariana de Sousa Caires
Download: http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/657
Mais informações sobre a pesquisa e materiais extras: https://www.observatorio-periferias.com