Em tempos de relações líquidas, estava aqui pensando sobre o amor. Quase sempre estou, né? Já até pensei se sou uma viciada na paixão. Aquelas sensações comparadas a efeito de drogas: palpitações, boca seca, confusão mental, calafrio, vontade incessante de ficar agarrado a outra pessoa e dar a ela a sua vida.
Depois, claro, a gente vai repensando as coisas. Lembra que precisa comer, dormir e que não pode deixar nenhuma outra pessoa ser dona da sua vida. Mas, que dá vontade, dá!
E melhor… você já teve a sorte de ser amado de volta? Já reconheceu nos olhos do outro os mesmos sintomas, já viu inclusive ele se esquivar por perceber que não pode te deixar ser a dona da vida dele?
Chamo de sorte porque é mesmo da ordem do milagre e porque sei que, apesar de parecer comum, ser amado infelizmente não é para todos. Quando Baco lançou o disco “Quantas vezes você já foi amado?” , esta pergunta ficou ecoando nos pretos. Quando conto que me apaixonei pela primeira vez aos 5 anos, muitos duvidam. Mas juro! Sou o que chamam hoje em dia de emocionada.
Ser uma preta emocionada é perigosíssimo, o amor para nós requer atenção, olhar para os dois lados, permanecer com um pé dentro e um fora. Tudo o que a gente não quer fazer quando está apaixonado mas “tudo o que ouvi sobre esse tal amor me assusta”. E também é por isso que a gente precisou de bell hooks e dois livros para olhar o amor com recorte de raça, gênero e classe.
Quando me perguntam como é que eu já me casei duas vezes, respondo que achei dois homens tão emocionados quanto eu. Por conta do preconceito, nós emocionados nos disfarçamos, mas somos muitos.
A emocionada do momento é, sem dúvida, Luísa Sonza, que em “Chico” expôs todos nós. Eu ouvi a canção uma centena de vezes e enviei pro meu namorado, antes mesmo do hype. E ainda enviei o vídeo do Chico ouvindo “Chico” ao vivo.
A única coisa que me indigna nisso tudo é que precisou vir uma mina do Sul para fazer uma balada romântica sobre o Bar da Cachaça, um reduto dos emocionados no Rio. Uma amiga angolana que viveu anos na cidade me disse: “Tem coisas que estão sempre ali e a gente não dá atenção, precisa alguém de fora nos lembrar o seu valor”. É uma ótima metáfora sobre a paixão, inclusive.
A quantidade de vezes que me apaixonei naquele bar, às vezes pela mesma pessoa, às vezes por mais de uma pessoa, são incontáveis. Inclusive, saudade.
Mais que emocionados, digo que somos corajosos. É preciso coragem para se apaixonar e se expor, sustentar o peso do próprio coração. Não digo isso como sofrimento, é só mesmo que a paixão pesa, tira o ar. Nos conecta com traumas, com outras paixões não curadas, não correspondidas, não realizadas. Amar dá medo, mas emocionados vão mesmo com medo.
Esses dias um amigo me disse que “é impossível ser feliz sozinho”. E completou que esse era, na verdade, um pensamento não sobre o amor, mas um pensamento socialista. O direito à felicidade deve ser para todos. Eu digo que o direito ao amor também.
Não espero quase nada do amor, além de honestidade e respeito. Aliás, espero também frio na barriga e espero que todos me amem. E, me amando, sejamos todos felizes.