É preciso ser negro além da estética

Foto: Paul Morigi via Getty Images

Acreditar que só assumir os cabelos naturais é a única coisa necessária para empoderar a mulher negra é esquecer que essa ainda está na busca pelo seu reconhecimento e valorização em outras áreas que vão além da estética. Apostar que somente o visual poderá resolver os problemas da mulher negra é não olhar as demais lutas travadas ao longo da história.

Do Linocasouza

Diversas marcas de beleza têm utilizado modelos negras em suas propagandas, marcas de produtos para cabelos que não tinham produtos para cabelos afro, crespos ou cacheados estão criando linhas pra esse público, mulheres negras têm aparecido um pouco mais em capas de revistas e símbolos como turbantes, tecidos estampados como as capulanas e a famosa ‘estampa étnica’ têm sido cada vez mais vistos por aí. Isso tudo é importante, mas ainda é pouco. Ainda mais em um mundo que ainda é muito racista, a leitura estético-visual do negro ainda não é suficiente, até porque, o negro não é só estética, o negro não é só voltado para o que é visual, para a arte, moda ou entretenimento.  Acreditar apenas nisso é ainda fazer com que o negro seja o exótico sempre, especialmente as mulheres.

E pensando nas mulheres negras, só usar o cabelo natural, infelizmente, ainda não é o suficiente para empoderá-la por completo, um exemplo recente que temos disso foi o que ocorreu com a modelo Milleni Bezerra Moreira,[veja aqui], ao ser exposta em rede social por conta do uso de seus cabelos naturais e na cor azul, o que não seria ridicularizado ou exposto caso se tratasse de cabelos lisos, ainda que dessa cor não natural.

Além disso, assim como qualquer outra mulher, a mulher negra deve ter direito de ir além do estético para viver sua vida, ela também raciocina e é forte, também busca suas conquistas, pessoais ou profissionais e isso não é conquistado somente adquirindo produtos de cabelos, a luta diária à partir dessa conquista ainda é muito maior.

Ainda hoje a mulher negra trabalhadora na informalidade ganha menos que as não negras e ainda é um número menor em relacionamentos sérios, ainda é um número pequeno nas universidades públicas e carrega um histórico de preconceito quando bolsista nas particulares.

Porém, tudo isso é ocultado ou esquecido por uma parcela de pessoas que acredita que ao ver uma mulher com seus cabelos naturais ou inserida em propagandas não precisa de mais nada, e essa parcela se esquece que precisamos de mais coisas. O cabelo é muito importante porque também é símbolo de resistência e a luta pelo reconhecimento e valorização do mesmo ainda se faz necessária, mas só ela não basta. Não podemos parar aí.

O mundo ainda precisa de uma representatividade cada vez maior entre os negros, ela já existe mas precisa se estender mais a diversos espaços que vão além da moda, é preciso ir além e mostrar que não queremos só usar nossos cabelos naturais, mas também queremos estar nas universidades, nas bibliotecas, nas grandes vagas em empresas públicas e privadas e onde mais tiver espaço, já que negros também consomem, amam, leem, estudam, trabalham, vivem uma vida comum e precisam ser representados muito além do ótico, mas também no intelectual e inovador.  Há aí um responsabilidade muito importante para as pessoas negras, a de se reconhecerem como tal, conhecerem sua história e seu passado histórico para a realização de um futuro de conquistas e mostrar que o cabelo natural não é só moda e que só por que algumas marcas entendem dessa maneira e passaram a investir nisso temos que parar por aí, pois não temos. O cabelo é o começo, mas só o cabelo sem conteúdo dentro da cabeça para ajudar a enfrentar as demais armas sociais do racismo não adianta nada, o cabelo é importante, mas não só!

E para nos inspirar a ir além da estética, uma foto da maravilhosa Angela Davis.

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 Angela Yvonne Davis é uma professora e filósofa socialista estado-unidense e foi integrante do partido dos Panteras Negras.

 

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