É preciso valer a Lei nº 10.639/03!

Por: Arísia Barros

Eram meninas e meninos. Pequenos. Revolucionários. Negros. Pacifistas. Meninos e meninas africanas influenciadas por Steve Biko, um dos grandes ativistas sul-africanos e fundador do movimento Consciência Negra.

 

Meninos e meninas que lutavam contra a imposição de uma língua “Afrikaans’ “Por que falar a língua de um povo que nos aprisionou?, e do apartheid no currículo escolar das escolas africanas.

 

Afinal, é o currículo escolar que traspõe para a cartografia da escola a didática do conhecimento como visão de mundo. Histórias e memórias. Memórias de gentes, participações, autonomia intelectual, limites e possibilidades…

Eram meninos e meninas como Martin Luther King Júnior e Nelson Mandela.

0s 20 mil pequenos intelectuais pacifistas de Soweto acreditavam nas possibilidades…

Meninos pacíficos ensaiando os passos da liberdade, redefinindo histórias mal alinhavadas de negros e África. Meninas determinadas na quebra do espelho secular do racismo na educação de Soweto. Precisavam de uma escola nova sem as manipulações e os esquematismos do poder.

 

Meninos que jogaram ao mundo suas cinzas secretas d!alma e a pintaram de liberdade. Eram meninos e meninas- estudantes de Soweto, com a consciência coletiva do eterno ciclo de dominação colonial. Saberes repassados de geração a geração.

Eram 20 mil entre tantos, pequenos meninos e meninas ativistas no massacre em 16 de junho de 1976 e dali nascia um herói Hector Pieterson de 12 anos. Morto em combate.

E Nelson Mandela, que viveu 20 anos aprisionado, criou na mesma data o Dia da Juventude Sul – Africana.

 

Mesmo após 34 anos, a imagem de Hector Pieterson, o pequeno ativista morto, ainda alimenta em todo povo de Soweto/África do sul o poder da liberdade como fronteira.

Outros meninos e meninas de outras histórias e outros tempos, diferentes, mas iguais a esses e a tantos e tantas na crença da liberdade, um dia foram expatriados do continente, fatiados em sua auto-estima, subjugados em sua ânsia de liberdade, submetidos ao massacre da escravidão nas terras de Cabral.

 

Nas terras colonizadas amargaram a quebra dos vínculos com a família e o continente. Sofreram à revelia estupros, abandono de incapaz, escravidão, infanticídio, abandono intelectual,etc,etc,etc. Mas um dia, o sentimento de resistência,foi sendo plantado nas almas grávidas de vida, reorganizaram o fim da “coisificação”, apreenderam novamente os passos do poder de ser pessoa.

 

A história da memória social da abolição foi construída pelas elites políticas e ressalta a extinção da servidão negra, pela princesa européia. Isabel assinou a lei, entretanto esqueceu de assinar a carteira de trabalho dos ex-escravizados. Mobilidade Ascendente. Cidadania. Direitos. Educação.

 

A história do escravismo brasileiro é um monólogo histórico recheado de supressão e hiatos sociais.

 

É preciso valer a Lei nº10.639/03, para que assim como em Soweto as novas gerações das escolas alagoanas tenham o direito de ao se apossarem, subsidiadas pelo poder estrutural do governo,da magnífica história de luta e resistência do povo do continente africano, e descendentes aquilombados em terras de Palmares.

 

Como o apartheid a omissão em relação à Lei Federal nº 10.639/03 é crime constitucional, portanto contra a humanidade.

 

É preciso valer a Lei nº 10.639/03!

 

O nosso sol da liberdade ainda está em construção. É hora de acordar Zumbi!

 

 

Fonte: Cadaminuto

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