A raça não é apenas uma determinante do modo como os indivíduos são percebidos ou tratados. Não se trata só de preconceitos, sejam eles óbvios, sejam sutis. Ela também molda a forma como brancos e negros enxergam a si mesmos e como compreendem o seu papel na sociedade.
Mesmo que eliminássemos as discriminações individuais, o impacto dela ainda estaria presente. Ela ainda influenciaria as escolhas que fazemos, as oportunidades que enxergamos e os caminhos que decidimos trilhar. Ela não é somente uma construção social que afeta diretamente o que é dito ou feito. Ela também é sobre o que não é dito e o que não é feito.
É sobre viver em uma sociedade na qual as imagens de sucesso não se parecem com você. É sobre viver em um país onde as histórias contadas, os heróis apresentados e os ideais de beleza raramente refletem quem você é. Tal contexto impacta a forma como nossas crianças e jovens se veem e no que acreditam que podem alcançar.
Se uma criança não vê o seu valor refletido ao seu redor, se uma adolescente não sente que sua história é respeitada, isso não apenas restringe sua confiança mas também limita seu senso de pertencimento.
Ao reconhecermos que a raça influencia não apenas o que vemos mas também como nos vemos, então é nosso dever reimaginar a forma como nos educamos. Mas, para isso, devemos ter em mente que a educação não se limita ao que acontece dentro da escola.
Pensar desse modo representa colocar demasiado peso sobre os ombros de nossos professores, esperando que eles sozinhos resolvam problemas que vão além das sucateadas paredes de suas salas de aula. A escola, por si só, não vai curar todas as feridas da exclusão social gerada por nós.
Educação é algo mais amplo. Ela está presente em todos os momentos de nossas vidas, em cada interação social que temos e em cada oportunidade de aprendizado que surge. Não se trata só de conseguir credenciais dentro das instituições educacionais, trata-se também das conversas que temos com as crianças na mesa de jantar, dos debates que provocamos e dos exemplos que damos a cada dia.
Ela está no modo como tratamos uns aos outros e na forma como nos posicionamos diante das injustiças. Ela pode nos ajudar a construir uma sociedade sobre o princípio de que todos nós, independentemente de quem somos ou de onde viemos, temos um papel a desempenhar na promoção da dignidade humana.
Para isso, devemos lembrar que a força de uma nação não vem apenas de seus líderes ou instituições, mas do espírito das pessoas comuns que se levantam todos os dias acreditando na promessa de um futuro melhor.
Com o intuito de contribuir para a construção de um novo amanhã, convido você a participar de um evento que realizaremos no Insper na sexta-feira (dia 20 de setembro, das 14h às 21h), cujo título é: “Educação Antirracista: o papel do Estado e do terceiro setor na promoção da equidade.”
O texto é uma homenagem à música “Glory”, interpretada por Common & John Legend.