Eliane Dias cria festival Boogie Week e expande atuação da marca com os filhos

FONTEPor Jairo Malta, da Folha de S. Paulo
A empresária Eliane Dias está a frente do evento Boogie Week (Foto: Jef Delgado/ Divulgação)

Visão de passado e futuro soa em muitos casos, para quem é negro, como uma incógnita –o apagamento da história afro e a baixa perspectiva de vida motivam isso. Pensando em mudar este cenário, o selo Boogie Naipe, que comanda a carreira do grupo de rap Racionais MC’s, criou a Boogie Week, festival programado para 2 a 5 de dezembro. 

A frente da programação, que será online, está a advogada e empresária Eliane Dias. Ao lado de seus dois filhos, Kaire Jorge e Domenica Dias, ela propõe mudanças no cenário dos grandes festivais  atuais. “Frequentei grandes eventos dentro e fora do Brasil, gratuitos e pagos, e vi que sempre faltava alguma coisa da cultura preta. Foi aí que eu juntei tudo o que eu não via e coloquei na Boogie Week”, afirma a empresária.

Dias ainda conta que o evento não será apenas de música, mas deve valorizar a cultura negra em diversos setores. “Tem que ter culinária preta, escritores pretos, cineastas negros… Tudo o que imaginarmos que tiver pessoas pretas trabalhando vamos tentar incluir.”

Outra frente do evento é dar visibilidade e oportunidade para mulheres negras. “Eu sou uma mulher preta, então desde o começo eu pensei em equidade de gênero para essa semana de cultura preta. Priorizamos ter mais mulheres profissionais que homens na equipe. Fazer esse equilíbrio de gênero é espontâneo para mim”.

Eliane Dias ao lado dos filhos Kaire Jorge e Domenica Dias (Foto: Jef Delgado/ Divulgação)

Este movimento de estar atento para incluir mulheres negras na folha de pagamento é fundamental. Segundo o Relatório Especial de Empreendedorismo Feminino no Brasil, do SEBRAE, 48% dos Microempreendedores Individuais (MEI) no Brasil são mulheres.

Porém, quando observamos os números fazendo o recorte racial, entendemos que mulheres negras estão a um abismo de oportunidades das mulheres brancas. Um desses dados mostra que somente 35% das mulheres brancas empreendem por necessidade, enquanto 51% das mulheres negras têm seu empreendimento como única renda familiar. Além disso, apenas 21% das mulheres negras são registradas com CNPJ.

Para Dias, o mercado de empreendedorismo para mulheres negras é quase impossível. “Empreendemos porque não temos outra opção. Na periferia, por exemplo, vejo mulheres abrindo um negócio, e quando pega firme o companheiro vai e toma dela”.

Ainda sobre mercado de trabalho, a empresária comenta sobre assédio e violência que muitas mulheres enfrentam. “A mulher não é como um homem que só trabalha e não tem outras obrigações em casa. Ela trabalha, cuida dos filhos, cuida da casa, cuida do pai e da mãe que são mais velhos, trabalha menstruada, enfrenta assédio e assim por diante”. 

Por outro lado, Eliane Dias mantém seu cargo à frente da Boogie Naipe, marca que surgiu em 2009 com Mano Brown, e que ao longo dos últimos 12 anos se tornou referência no mercado musical. “A empresa nasceu para cuidar única e especificamente da carreira de um dos artistas, Mano Brown, e que foi se expandindo de acordo com as necessidades. Temos editora, produzimos clipes, agenciamos shows, temos marcas de roupas, nós fazemos tudo. Chega de aceitar a coisa ‘mais ou menos’. Se podemos fazer melhor, então vamos lá e fazemos”.

Parte dos seus companheiros de trabalho são seus dois filhos, o que, para ela, é uma vantagem. “O bom de trabalhar com amigos e familiares é que eu posso confiar. Posso pegar o meu cartão do banco e dar na mão do meu filho ou da minha filha”, diz. Mas, segundo a empresária, nem tudo são flores. “A desvantagem é que às vezes a gente está tomando café e está trabalhando. E às vezes o bicho pega aqui viu? A gente briga e sai na discussão. Somos todos pessoas fortes. Eu não gosto de discutir com o Jorge nem com a Domênica, mas com o Pedro Paulo [Mano Brown] tudo bem.”

Boogie Week
2 a 5 de dezembro
Grátis no YouTube da Boogie Naipe

Programação completa

Quinta-feira (2)
Com apresentação de Aretha Sadick:
Anelis Assumpção
Performance de Kaê Guajajara
On! HUB & Samba rock cultural
Negres: o visual é ancestral, com Hanayrá Negreiro e Roger Ramos
Cia Crespos apresentando: Dois garotos que se afastaram demais do sol
NOSSO AJEUM: tabuleiros de partilha e resistência, com Sueide Kintê e Edson Leite
Encerramento com show Leci Brandão

Sexta-feira (3)
Com apresentação de Magá Moura:
Lys Ventura
Batekoo
Ela é Tech, Ela é Pop, Ela é Digital com Sil Bahia e Dandara Pagu
Áfricamente: o que sei me cura com João Marques e Chavoso da USP
Stand Up Comedy com Jacy Lima
Encerramento com show de Rico Dalasam

Sábado (4)
Com apresentação de Nataly Nery se apresentam:
DJ Marky
Jonathan Ferr
Larissa Luz
MC Dricka

Domingo (5)
Com apresentação de RAP Falando se apresentam:
DJ SET com Erick Jay
Budah
Performance de Afrobapho
Show de Yunk Vino + Duquesa + Danzo
Duelo de MC’s Especial com Winnit (SP) + Bixarte (PB) + Kaemy (GO) + Alice Gorete (AL) + Black (BA) + Vinícius ZN (PE) + Douglas Din (MG) + Big Mike (SP), apresentação de Max Bo e do DJ Tayan com júri de Clara Lima e Mamuti.
Encerramento

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