Elizeth Cardoso, a voz divina da bossa nova

FONTEEl País, por Joana Oliveira
A cantora Elizeth Cardoso, primeira dama da bossa nova. (Imagem retirada do site El País)

Cantora, mãe solo e divorciada na década de 1930, pioneira da luta pelo reconhecimento das mulheres na indústria da música. Divina. Essa é uma das sínteses possíveis sobre a vida e carreira de Elizeth Cardoso (Rio de Janeiro, 1920-1990), artista que, com seu timbre suave e potente, erudito e popular, tornou-se uma das vozes mais marcantes da música popular brasileira. Seu talento foi descoberto na sua festa de aniversário de 16 anos, quando Jacob do Bandolim, amigo de seu pai (também músico) ouviu-a cantar no quintal da humilde residência no bairro da Lapa. A carreira de Elizeth Cardoso só passou a ter o devido êxito, no entanto, a partir dos anos quarenta, consolidando-se em 1958, quando ela participou de um dos marcos da música popular brasileira: a criação da bossa nova.

Foi no seu disco Canção do amor demais, lançado naquele ano, que escutou-se pela primeira vez a batida bossa-novística do violão de João Gilberto, incluindo a canção-ícone Chega de saudade, além de outras composições de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Foi também em 1958 que o jornalista Haroldo Costa apelidou-a de divina, alcunha que usou em uma crônica publicada no jornal A Última Hora após assistir a um show de Elizeth Cardoso. Igualmente extasiados pela sua voz e sua presença de palco, outros artistas, críticos culturais e fãs passaram a chamá-la assim. Ela própria, no entanto, recebia o título com humildade. “Quando me chamam de divina na rua, eu nem olho, faço de conta que não é comigo, porque na verdade me dá um pouco de encabulamento”, dizia em uma entrevista em comemoração aos seus 45 anos de carreira.

Só quando conheceu a cantora americana Sarah Vaughan —ambas construíram uma amizade sem sequer falar o idioma uma da outra—, Elizeth Cardoso convenceu-se a se empossar do título. “Ela pediu para a intérprete me dizer: ‘Um adjetivo que nos colocam, seja ele qual for, pode ser até um palavrão, a gente tem que aceitar. Nos EUA, eu sou a divina americana. Eu serei até morrer. Então ela que segure esse divina com todas as forças e fique com ele até o dia derradeiro’. Então está bom, se é assim, eu seguro. A americana lá e a brasileira aqui”, ria em uma entrevista.

-+=
Sair da versão mobile