Em prol das crianças e jovens

Menino, negro, 13 anos, vivendo na zona rural do país. Esse é o perfil das crianças brasileiras que estão fora da escola. É o que aponta o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Em visita a Pernambuco para a assinatura de termos de cooperação, o representante no Brasil da agência ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), Gary Stahl, conversou com o Diario, destacando que diminuir a evasão escolar é uma forma de combater o racismo. Stahl fez ainda um balanço dos principais projetos apoiados pelo fundo no país. Uma parceria entre o governo de Pernambuco e o Unicef, que existe há duas décadas, foi renovada por mais quatro anos e prevê trabalhos em cinco frentes de atuação: sobreviver e se desenvolver; aprender; proteger-se do HIV/Aids; crescer sem violência e ser prioridade nas políticas públicas. Outro documento foi assinado com o Grupo Neoenergia, que faz a distribuição elétrica em Pernambuco por meio da Celpe, para autorizar a coleta de doações para crianças e adolescentes pela conta de energia a partir do próximo mês.

Por Anamaria Nascimento, do  Diario de Pernambuco

“O Brasil tem que ir onde a exclusão é pior”

Quais avanços os termos de cooperação técnica entre o estado e o Unicef e do fundo com a Celpe trarão para Pernambuco?
A importância não é nem para o estado nem para a Unicef. É para as crianças de Pernambuco. Vamos continuar uma parceria de longa data entre o estado e o fundo em prol das crianças e dos adolescentes, melhorando as políticas e aferindo nos indicadores como está a vida diária das crianças pobres do estado.

No estado, o programa Mãe Coruja Pernambucana – que tem como objetivo garantir uma boa gestação e um bom período posterior ao parto às mulheres, e às crianças o direito a um nascimento e desenvolvimento saudável – conta com o apoio do Unicef. Como o senhor vê o programa e o que ainda precisa ser melhorado para avançar nesse sentido?
Hoje, o Mãe Coruja está concentrado nos 103 municípios que têm os piores indicadores sociais do estado. Essa foi uma opção, uma prioridade, mas agora o desafio dessa experiência, que vem se consolidando no estado, é ampliar o programa para todo o semiárido. Isso faz parte de um processo de aperfeiçoamento das práticas do Mãe Coruja para garantir a disseminação dele. Também acho que é preciso qualificar cada vez mais a relação do programa com os sistemas municipais. Isto é, harmonizar as relações com as prefeituras porque o Mãe Coruja tem um papel muito especial de articular as políticas no município. É objetivo do programa identificar no município as gestantes e as crianças que não estão inseridas nos serviços públicos municipais. Isso faz com que essa articulação necessite ser muito consistente para garantir o encaminhamento dos casos, a assistência dessas crianças e gestantes mais vulneráveis. Acredito que o que realmente falta é essa ampliação, mas acho que os governantes estão, nesse aspecto, tomando uma atitude responsável porque é preciso ampliar num tempo certo.

Na edição 2009-2012 do Selo Unicef – Município Aprovado, 31 municípios pernambucanos ganharam o reconhecimento internacional. Para a edição 2013-2016, 121 cidades do estado estão inscritos. O que significa para um município receber o Selo Unicef?
Existe uma importância política para o prefeito porque ganhar um selo é bom para o município. Mas o valor real é para as crianças e adolescentes da cidade, pois o reconhecimento pelo selo significa que aquela cidade melhorou a situação das crianças e adolescentes mais rapidamente do que os outros municípios. Quero destacar também que todo município que participa se inscrevendo  melhora mais do que aqueles que não participam, mesmo que ele não receba o selo. É por meio dessas inscrições que medimos os resultados em mortes infantis, matrícula, evasão escolar e outros indicadores que usamos.

O objetivo de apoiar o Brasil no cumprimento, até 2016, do compromisso de garantir a realização mais equitativa do direito de crianças e adolescentes brasileiros a proteger-se e ser protegido do HIV/Aids tem sido alcançado?
Sobre essa questão, eu louvo a decisão que o governo brasileiro tomou há dois anos de mudar a estratégia do país com relação à Aids. Antes, as atenções eram focadas numa epidemia generalizada. Agora, há um foco em certos grupos mais vulneráveis, que chamamos de grupos de risco. O Brasil teve há 20 anos o problema generalizado. Ultimamente, porém, não há uma epidemia difusa. O que o Brasil precisa e está fazendo é focar nos grupos de risco. Desses conjuntos mais vulneráveis, o que mais chama a atenção é o de adolescentes homens que fazem sexo com homens. É nesse grupo que vemos a maior taxa de novas infecções. A maior taxa de infecção entre adolescentes gays é em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Também temos um grande número de infecções em Manaus e Fortaleza. Estamos muito preocupados porque são grupos de adolescentes que não têm acesso à informação sobre como se proteger. Quando conversamos com esses jovens, muitos dizem que o serviço de atenção básica não é amigável. Então, começamos há um ano em Fortaleza o projeto Fique Sabendo Jovem, que tem como público prioritário adolescentes e jovens entre 15 e 24 anos em situação de risco ampliado para HIV. É um ônibus, com atendimento social, laboratório para teste rápido e aconselhamento. Na unidade móvel, profissionais de saúde e jovens dão orientações sobre direitos sexuais, inclusive com a oferta de exames, por meio de testes rápidos, para diagnóstico de HIV, sífilis e hepatite B. Esse ônibus circula pela cidade e está, por exemplo, às 3h nos bairros da periferia de Fortaleza para atender o jovem onde ele está. Agora, estamos com esse serviço em Porto Alegre.

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Existe alguma previsão de esse ônibus chegar ao Recife?
A Prefeitura de Fortaleza adotou o ônibus como um serviço da Secretaria Municipal de Saúde. Eles assumiram o veículo, os gastos e partimos para Porto Alegre. Se o governo de Pernambuco ou a Prefeitura do Recife quiser fazer algo semelhante, entramos na parceria com encantamento.

Com relação à defesa da igualdade de gênero, quais são os principais avanços no Brasil?
Eu acho que o Brasil, como em todo o resto do mundo, está avançando nesse tema, mas ainda não chegou ao ideal. Quando vou para reuniões com empresários e ministros, por exemplo, a maioria é homem. Então, há muito o que ser feito nesse sentido. Reconhecendo que o Brasil está progredindo na área de gênero, acho que o tema principal do país e que precisa de muita discussão ainda é com relação à raça.

Um dos objetivos do Unicef é justamente reduzir as desigualdades raciais e étnicas no país. Quais são as principais dificuldades encontradas para alcançar essa meta?

Não observo muitos avanços nesse sentido no país. Acho que o Brasil tem tomado decisões acertadas quanto ao tema e boas para o futuro do país. O sistema de cotas, para usar um exemplo, é bom. No entanto, o Brasil tem que investir muito mais na prevenção. O Unicef participa com alguns parceiros de campanhas contra o racismo, mas ações educativas não surtem efeito a curto prazo. Assim, de que serve um sistema de cotas para uma raça específica se a maioria das crianças dessa raça não está recebendo uma educação de qualidade na educação básica?  É por isso que trabalhamos nos municípios pobres porque o perfil da criança fora da escola no Brasil, é menino negro de 13 anos na zona rural. O Brasil tem que ir onde a exclusão é pior para incluir todos de uma vez. Para que o Brasil possa garantir a cada criança e adolescente o direito de aprender, é necessário voltar a nossa atenção para os meninos e as meninas que estão fora da escola. É uma forma, inclusive, de combater o racismo.

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Serviço

Unicef Recife (responsável pelos projetos em Pernambuco, Alagoas e Paraíba)
Endereço: Rua Henrique Dias, s/n, térreo do edifício do IRH, Derby
Telefone: (81) 3059 5700
E-mail: recife@unicef.org

Como fazer doações ao Unicef por meio da conta da Celpe:

A adesão ao programa de doações pode ser feita ao se cadastrar pelo telefone 0800-605-2020

É possível fazer a adesão também por SMS pelo número 27146 enviando a palavra Unicef

Após o envio do torpedo, o Unicef entra em contato com o cliente Celpe

O valor da doação é livre e definido pelo cliente

A quantia pode ser alterada ou cancelada pelo doador a qualquer momento

Apenas o titular da conta pode solicitar a adesão ao programa de doação

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